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De lés a lés de Portugal são várias as tradições que vão passando gerações e mantendo vivas as histórias das regiões. Na freguesia de Gondar, em Amarante, o Barro Preto apresenta-se como uma tradição que já existe “há séculos”, mas que nos últimos anos “tem vindo a desaparecer”, como conta César Teixeira ao Jornal A VERDADE.

Se em tempos foram “cerca de 80 oleiros” a trabalhar nesta arte, hoje, César Teixeira é o “único a dar continuidade à tradição”. Foi com o último oleiro da região que “ganhou o gosto” pela arte do barro e aprendeu a trabalhá-la. 

Aos 16 anos frequentou uma formação para aprender olaria, mas foi apenas dez anos mais tarde, em 1998, que César Teixeira começou “a trabalhar o barro mais a sério”, depois de uma proposta do presidente da junta de freguesia, que lhe prometeu “um espaço para trabalhar e para vender as peças”.

Sem qualquer ascendente familiar ligado à olaria e oriundo de um lugar “onde não havia oleiros”, o Lugar de Vilela, César Teixeira assume-se como “uma exceção” e contraria a história de uma arte que, “normalmente, acompanha gerações de famílias”.

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Embora a olaria seja a sua “grande paixão” não lhe permite “infelizmente” tê-la como ocupação principal. A trabalhar na área da saúde, César Teixeira revela que o seu sonho seria dedicar-se à olaria “a tempo inteiro”. Gosto das duas áreas, mas se pudesse escolher claro que optava pela olaria. É a minha paixão”, confessa.

Soenga da louça churra

Uma paixão que passa a quem o rodeia e que tenta incutir nos mais jovens. Depois de dois anos de paragem, realizou-se no dia 19 de março mais uma soenga com a tradicional louça churra com peças da autoria César Teixeira, que contou com a presença de duas alunas universitárias que “estudam as formas como o barro pode ser cozido”, e a quem o oleiro deu a conhecer “todo o processo da soenga”. Márcia Magalhães, estudante do Curso de Cerâmica Criativa e Carolina Ribeiro, estudante de design “que investiga o aparecimento das manchas no processo de cozedura”.

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O processo da Técnica da Soenga é complexo e obedece a um conjunto de etapas. Trata-se de um forno para cozer a louça, feito numa cova coberta com terra e lenha. Como nos explica o oleiro, o barro começa por ser “um monte de terra, que tem de ser preparado, picado, moído e amassado”, para que fique “dois ou três dias em repouso”.

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Depois de feitas,  as peças têm de estar a secar durante um período de tempo. “Nesta altura do ano, 15 dias são suficientes para a secagem. Se for de inverno demora cerca de um mês”. Finalmente, e após estarem “muito bem secas, são cozidas”.

O futuro da tradição

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Aos 52 anos, o “amor pela arte” continua e, com “persistência”, César Teixeira mantém uma tradição que, pela sua experiência, teme “vir um dia a terminar. Se eu deixasse de trabalhar, isto desaparecia”, reconhece o oleiro. Mas como o próprio garante, “enquanto puder e tiver saúde” vai perpetuar como aprendeu a arte, “sem nada elétrico, sempre na forma tradicional”.

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“Infelizmente” não só na olaria as tradições vão desaparecendo, reconhece o oleiro. “Se não houver alguém que pegue nestas tradições, daqui a uns anos vão acabar por desaparecer”, acrescenta.

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César Teixeira não quer ver “morrer a arte” que o apaixona e está de “braços abertos para receber “pessoas que gostem de cerâmica”

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