Nas vinhas, o solo é duro, o clima é exigente, mas o vinho que nasce é de excelência.
Nas universidades, o ensino é exigente, os recursos são escassos, mas os alunos que saem são brilhantes.
Tal como o vinho do Douro, que é exportado para Londres, Paris ou Nova Iorque, também os nossos licenciados, mestres e doutores são “exportados” para esses mesmos lugares.
Portugal cultiva, mas não consome.
Forma, mas não valoriza.
Investe, mas não retém.
É uma terra que dá do melhor, mas não o saboreia.
Na época senhorial, os corpos eram explorados para enriquecer os palácios. Hoje, as inteligências são extraídas para alimentar sistemas que não conhecem o rosto de quem pensa.
O talento é tratado como matéria-prima, e o país de origem como mero fornecedor.
A “escravidão moderna“ não tem correntes, mas tem contratos precários. Não tem grilhões, mas tem apartamentos minúsculos em cidades caras. Não tem chicote, mas tem pactos de silêncio. E o silêncio é a forma mais dura de dominação.
Quem produz o melhor vinho em Portugal ganha uma miséria porque o valor é atribuído na vitrine, não na origem. O agricultor é pago pela mão de obra e o distribuidor lucra com o luxo.
O mesmo acontece com o saber: quem forma é pago como operário, quem emprega enriquece à custa da nossa elite.
E talvez seja por todas estas razões que este ano tantas vagas no ensino superior ficaram por preencher.
Os jovens começam a perceber que investir anos de estudo, esforço e dinheiro num curso superior pode não compensar quando o retorno é um salário baixo, falta de reconhecimento ou a necessidade de emigrar para exercer a profissão.
O vazio nas universidades é o eco de um país que ainda não aprendeu a valorizar o saber que cultiva.