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Amarante
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João Sousa Pinto de Amarante: "Ganhei uma corrida na Coreia do Norte e vivi algo que parece irreal"

Jovem de 25 anos natural de Amarante, viajou até à Coreia do Norte para correr — e vencer — uma prova de 10 km na Maratona Internacional de Pyongyang, tornando-se um dos poucos portugueses a entrar no país desde 2019.

Redação

João Sousa Pinto, natural de Amarante e residente no Porto, é um dos raros portugueses que, em pleno 2024, conseguiu entrar na Coreia do Norte. Fê-lo para participar na Maratona Internacional de Pyongyang — e acabou por vencer a prova dos 10 quilómetros. A aventura, que começou como uma simples viagem à China, transformou-se numa experiência que o próprio descreve como "surreal".

“Só queria visitar a China. Acabei por correr e vencer na Coreia do Norte”

Como surgiu esta viagem?

A ideia inicial era passar um mês a explorar a China. Um plano já de si ambicioso, mas concretizável. No entanto, pouco antes de partir, soube que a Maratona Internacional de Pyongyang ia regressar após seis anos de suspensão devido à pandemia. Abriram 200 vagas e fui dos primeiros a inscrever-me. Era a única forma de estrangeiros entrarem no país.

Foi difícil conseguir entrar na Coreia do Norte?

Pelo contrário. Não tive de falar com embaixadas nem tratar de vistos complicados. Bastou enviar a fotografia do passaporte, fazer o pagamento à Koryo Tours — a agência autorizada a organizar estas viagens — e apanhar o voo de Pequim para Pyongyang com a Air Koryo, a companhia aérea norte-coreana.

“Corro sempre que viajo. Desta vez, levei equipamento... e venci”

Já tinha experiência em corridas?

Sim, sou um corredor amador bastante ativo. Em Portugal, corro quatro vezes por semana e levo sempre ténis e equipamento quando viajo. Mesmo assim, não estava preparado para competir. A viagem à China envolveu muita comida picante e pouca rotina de treino.

Como foi vencer a prova de 10 km em Pyongyang?

Foi incrível. Durante a corrida percebi que podia ficar bem colocado e dei tudo. Quando ouvi o meu nome e "Portugal" no estádio Kim Il Sung, diante de 60 mil pessoas, foi um momento absolutamente único.

“A Coreia do Norte surpreendeu-me. Vi um país desenvolvido e organizado”

O que o surpreendeu mais na Coreia do Norte?

A organização e o entusiasmo com o desporto. As ruas estavam cheias de pessoas a apoiar. Têm campanhas que incentivam à prática desportiva, o que é raro noutros países. A cidade de Pyongyang pareceu-me moderna, com zonas bem cuidadas, supermercados abastecidos e um ambiente calmo.

Teve liberdade para explorar?

Não. Estávamos sempre acompanhados por guias e não podíamos andar sozinhos, exceto nas corridas de treino. Mas mesmo aí, consegui ver partes da cidade que não faziam parte do itinerário oficial. Visitei universidades, o novo hotel em construção e passei pelo Arco do Triunfo.

“Não avisei os meus pais que ia à Coreia do Norte. Ia ser pior…”

E a família, sabia da aventura?

Só disse que ia para a China e que talvez ficasse sem rede. Se contasse que ia à Coreia do Norte, ninguém ia dormir durante cinco dias. Depois, já com a medalha na mão, expliquei tudo.

Sente que a imagem que tinha do país mudou?

Totalmente. O que vi foi um país com pessoas acolhedoras, tecnologia, produtos nas lojas, transporte público eficiente. Claro que mostraram o que quiseram, mas dentro disso senti segurança e hospitalidade. Fiz até amizades com norte-coreanos que me mostraram as suas apps e modos de comunicação internos.

“É importante ver com os nossos próprios olhos”

Com que ideia regressa a Portugal?

Com a certeza de que devemos formar opiniões a partir da experiência direta. A Coreia do Norte continua a ser um país muito fechado e controlado, mas a viagem mostrou-me nuances que não imaginava. Foi talvez a experiência mais marcante da minha vida.

Voltaria?

Sem dúvida. Pela corrida, pelo desafio cultural e pela oportunidade de conhecer uma realidade tão distante. Foi uma mistura perfeita das minhas paixões: viajar e correr.


Uma viagem improvável, uma vitória memorável

João Sousa Pinto protagonizou uma história invulgar que junta espírito de aventura, paixão pelo desporto e vontade de conhecer o mundo para além dos estereótipos. Da pacata cidade de Amarante aos aplausos em Pyongyang, a sua experiência destaca-se como um exemplo de como o desporto pode abrir portas até aos destinos mais improváveis. "Daqui a 40 ou 60 anos, ainda me vou lembrar deste momento", remata João, com orgulho e um brilho nos olhos que não esconde a intensidade do que viveu.