Este projeto visa alcançar a inclusão plena e pretende estender-se até ao 9.º ano de escolaridade.
Atualmente, o agrupamento integra quatro escolas, entre as quais se destaca a Escola Básica Augusto Lessa, que desde o ano letivo 2023/24 acolhe turmas mistas onde a surdez é encarada com naturalidade. Um exemplo é Camila, aluna surda profunda de nove anos, que se sente plenamente integrada no ambiente escolar. “Sinto-me igual aos outros”, afirmou.
Desde 2013, todos os alunos do 1.º ciclo têm aulas semanais de LGP, língua oficial em Portugal desde 1997. No presente ano letivo, essa oferta foi alargada aos 2.º e 3.º ciclos, com aulas quinzenais em contexto da disciplina de Cidadania e Mundo Atual.
O projeto-piloto, inicialmente designado “PIB – Projeto de Integração Bilingue”, arrancou em 2022 no pré-escolar com uma turma composta por 11 crianças surdas e 11 ouvintes. Atualmente, abrange uma turma do 2.º ano e outra do 5.º ano. O objetivo é garantir que todos os alunos tenham acesso ao currículo em LGP e português, conforme as suas necessidades.
Num universo de cerca de 1.000 alunos, o agrupamento conta com aproximadamente 85 alunos surdos. Estes estão distribuídos por três modalidades: integração plena em turmas com português como primeira língua; turmas bilingues com LGP como língua principal; e acesso ao currículo em ambas as línguas, permitindo maior flexibilidade.
Sónia Cruzeiro, subdiretora do agrupamento e coordenadora da Equipa Multidisciplinar de Apoio à Educação Inclusiva, explica que o projeto surgiu da constatação de que o ensino exclusivamente bilingue não respondia suficientemente às necessidades de todos os alunos. “Pensamos em algo que desse resposta a todos os alunos e a cada um em específico”, afirmou.
Na sala de aula do 5.º C, composta por 18 alunos (sete dos quais surdos), a inclusão é visível. A disposição da sala em U facilita a leitura labial, e o posicionamento dos alunos é estrategicamente pensado para potenciar a colaboração. As aulas contam com o apoio de um intérprete de LGP e uma professora de educação especial.
Francisco, delegado de turma do 5.º C e aluno ouvinte, afirma não entender a surdez como uma diferença. A professora de Educação Especial, Natália Maltês, destaca o espírito de entreajuda que se vive na turma, que inclui também alunos com outras necessidades específicas.
Sofia Quintas, ex-aluna surda e atual professora de LGP no agrupamento, recorda tempos difíceis em que os alunos eram obrigados a oralizar. Hoje, reconhece que o projeto “abre horizontes” e contribui para uma verdadeira inclusão.
Apesar dos avanços, a realidade da comunidade surda em Portugal continua a ser marcada pela centralização do ensino bilingue. Existem atualmente 17 escolas de referência para esta modalidade, quatro delas no Norte do país.
Emídio Isaías, diretor do agrupamento há mais de 30 anos, sublinha que a inclusão requer um esforço de ambas as partes. “Não podemos só pensar que o aluno surdo tem de se integrar no mundo que é oralista. (…) Também nós [ouvintes] temos de fazer um esforço para estabelecer comunicação”, defendeu.
O responsável acredita que o futuro passa pela criação de condições para que qualquer escola, independentemente da sua localização, possa acolher alunos surdos com os recursos e formação adequados, promovendo uma educação verdadeiramente inclusiva.