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Paços de Ferreira
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Maria Pereira: A cozinheira que alimenta os peregrinos

No meio da azáfama da logística, entre tachos, panelas e o aroma da comida quente que reconforta corpo e alma, está Maria Pereira. Todos a tratam por D. Albertina, nome que já se confunde com a função que abraça há quatro anos: cozinheira para 200 peregrinos rumo a Fátima, numa organização da Cruz Vermelha de Frazão.

Redação

Aos 55 anos, natural e residente em Frazão, Paços de Ferreira, D. Albertina é muito mais do que a responsável pelas refeições. É também uma antiga peregrina, com a promessa cumprida ao longo de três anos, e por isso conhece bem o caminho, não só o físico, mas também o emocional.


“Sim, entendo muito bem o sentimento de cada uma destas pessoas que vão em peregrinação. Já vim a caminhar como peregrina, mas acho que é ainda mais difícil fazermos voluntariado como temos vindo a fazer”, afirma com sinceridade.

Todos os anos, D. Albertina e as suas ajudantes são as primeiras a acordar e as últimas a descansar. Começam a preparar tudo com uma semana de antecedência, desde decidir e planear ementas, calcular quantidades, organizar ingredientes. “As condições aqui são mínimas”, admite. Contudo, isso nunca lhe serviu de desculpa e cumpre sempre a função com distinção.


“Lavamos loiças, carregamos água… fazemos tudo o que é necessário. É um trabalho duro, mas muito gratificante”, confessa, com um brilho nos olhos que não deixa dúvidas sobre a paixão que coloca no que faz.

A dedicação nasce da fé, mas também do sentido de missão. “Sou crente em Fátima. Posso não vir a pé, mas o sentimento é o mesmo”, diz. E acrescenta: “Gosto mesmo disto. É cansativo, mas não consigo deixar. É uma função que espero continuar a fazer”.

Com orgulho, recorda o momento em que começou. “O presidente da Cruz Vermelha perguntou-me se eu queria vir para voluntária, e pronto, cá estou eu…”.

A sua comida, caseira e feita com carinho, é uma espécie de abraço quente para quem chega exausto de mais uma etapa. Há dificuldades, claro. Já houve desistências – uma jovem que não resistiu ao cansaço e a mãe que a acompanhava também optou por parar.

Grupo entra junto no recinto do Santuário de Fátima

“É difícil ver as pessoas a desistir e sabemos o quanto lhes custa fazê-lo”, constata.

Mas o saldo é, sem dúvida, positivo. Quando o grupo entra junto no recinto de Fátima, lado a lado, voluntários e peregrinos, tudo faz sentido. “Até pensamos: estamos cansadas, é um facto, mas é o último dia e correu tudo bem, as pessoas estão todas bem… é por boas causas”.

No final, D. Albertina deixa ainda dois apelos: aos condutores, que redobrem os cuidados com os peregrinos nas estradas; e a todos os que possam juntar-se: “É importante que venham preparados psicologicamente. Aconselho a que, sempre que possam, venham, seja como voluntários, seja como peregrinos”.