Baião recebe galardão ouro como destino turístico sustentável 

Antes da sessão de abertura o presidente da Câmara Municipal de Baião, Paulo Pereira, mostrou-se visivelmente orgulhoso, destacando que “o município empreendeu há uns anos este caminho de certificação enquanto destino turístico sustentável” e que esta distinção representa um “selo de qualidade” que reforça um percurso ambiental responsável. “Depois de quatro anos com a nossa certificação Silver Medal, é com grande satisfação que anunciamos hoje a transição para a certificação ouro”, revelou, referindo tratar-se de um reconhecimento “pela primeira vez atribuído a um município português”.

A distinção foi atribuída pela EarthCheck, entidade australiana de referência, com avaliação internacional independente reconhecida pelo Global Sustainable Tourism Council. Paulo Pereira fez questão de sublinhar a importância estratégica da sustentabilidade para Baião: “não haverá turismo no futuro se ele não for sustentável”, sublinhou. “Tudo aquilo que é bom para o planeta é bom para as pessoas e para a economia”.

Entre as iniciativas locais destacadas, o autarca apontou ações como a substituição da iluminação pública por LED, aquisição de viaturas elétricas, preservação dos rios com corredores ecológicos, políticas de rearborização da serra e promoção de eventos culturais sem pegada ecológica. “É uma abordagem multifatorial que no conjunto permite que sejamos reconhecidos como somos hoje”, afirmou.

No plano mais alargado, o ex-presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, refletiu sobre a ligação entre paz e sustentabilidade, assinalando que, “infelizmente, não temos hoje todos os países relevantes a remar para o mesmo lado”. Santos Silva criticou o retrocesso ambiental nos EUA e defendeu que “a nossa sobrevivência como espécie depende, entre outras coisas, de ganharmos a luta contra as alterações climáticas”. Sublinhou, contudo, as vantagens que Portugal detém: “vivemos em paz e segurança desde o 25 de Abril, e as nossas Forças Armadas são conhecidas e respeitadas como forças de paz”.

O antigo responsável governativo considerou ainda que é ao nível local que se encontram os instrumentos mais eficazes para fazer face à crise climática. “Podemos agir climaticamente, preservar recursos, combater o aquecimento global. Cada um no seu município, cada cidadão no seu dia a dia”.

Esta linha de pensamento foi partilhada e aprofundada no Painel de Debate “Crise Climática; Ameaça à Paz; Democracia e Desenvolvimento Sustentável”, que contou com intervenções do Major General Filipe Arnaut Moreira, de Helena Carreiras, Vice-Reitora do ISCTE e ex-Ministra da Defesa, e do economista e ex-Ministro dos Negócios Estrangeiros Luís Amado.

Luís Amado foi particularmente incisivo ao afirmar que “a nível local a semente deu fruto”. Alertou que “vivemos um tempo de exceção” em que os valores da sustentabilidade e da paz estão cada vez mais afastados da agenda política nacional e internacional. “A agenda hoje é condicionada por fatores como a guerra, a segurança, a inflação. E por isso é ao nível local que esta agenda tem que ser defendida. Foi aí que se criaram programas e se elegeram autarcas com esta sensibilidade”.

O ex-governante defendeu que a atual crise é simultaneamente geopolítica e existencial: “tem nas alterações climáticas, no aquecimento global, na tecnologia e na inteligência artificial os seus pilares”, declarou. E deixou um aviso: “os Estados cada vez menos estarão nesta agenda”.

O encerramento da conferência ficou marcado pela intervenção de Paulo Portas, ex-vice-primeiro-Ministro e atual Vice-Presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa. A moderação do evento esteve a cargo de Inês Cardoso, diretora-geral editorial do Jornal de Notícias, e Paula Nunes da Silva, apresentadora do programa Planeta Verde, do Porto Canal.

Num momento em que o planeta enfrenta desafios sem precedentes, a conferência de Baião demonstra que a ação local pode ser um motor de mudança global. E Baião, agora oficialmente certificado com o galardão ouro de destino turístico sustentável, assume-se como exemplo vivo dessa transformação.