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Portugal
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Viticultores do Douro recebem cartas a cancelar compras de uvas e ameaçam boicote às eleições

Mais de 150 viticultores da região do Douro foram notificados do cancelamento das encomendas de uvas para 2025, situação que gera revolta e ameaça transformar-se num boicote às eleições legislativas de 18 de maio.

Redação

Cancelamento de compras agrava crise na viticultura duriense

A indignação cresce entre os viticultores do Douro após a receção de cartas de pelo menos cinco casas produtoras de vinho, informando a suspensão da compra de uvas para a vindima deste ano. A medida, justificada com o elevado stock e a quebra no consumo global de vinho do Porto, está a gerar apreensão e protestos no setor, especialmente entre os pequenos e médios produtores.

Marinete Alves, membro do Conselho Regional da Casa do Douro e rosto da petição “Salvem os viticultores do Douro” (2024), confirma que mais de 150 viticultores já receberam comunicações formais com a decisão. Uma dessas cartas, da empresa Vinhos Messias, afirma não comprar “quaisquer uvas brancas ou tintas DOC Porto ou DOC Douro em 2025”, referindo o “acentuado decréscimo de consumo” como justificação para a decisão.

“Está-se a iniciar a catástrofe que já tínhamos previsto na última campanha. Ainda agora começou o abrolhamento da vinha e já há produtores sem comprador para as uvas”, afirma Marinete Alves.

Boicote às eleições está a ser ponderado

Face à inação do Governo e do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP), os viticultores admitem formas de protesto mais visíveis: "Ponderamos manifestar-nos junto do Governo e, neste momento, com as eleições legislativas à porta, mostrar o nosso desagrado boicotando as eleições", avançou a dirigente.

A hipótese de não abrir mesas de voto em algumas localidades está a ser discutida como forma de chamar a atenção para o que consideram ser a “desresponsabilização das entidades competentes”.


Pequenos produtores são os mais afetados

Marinete Alves denuncia que a crise atinge sobretudo os produtores com menor dimensão: “As casas começam por prescindir dos pequenos viticultores. São os primeiros a ser descartados, quando são justamente os que mais dificuldades têm em resistir.”

Com muitos a depender exclusivamente da venda de uvas para garantir o sustento familiar, a incerteza instalada é dramática: “O que vai ser destas famílias? Esta situação é gravíssima.”

Os viticultores exigem apoio direto do Governo, criticando o foco nas medidas de apoio ao comércio em detrimento da produção: “Não podemos obrigar ninguém a comprar, mas exigimos que haja apoio ao viticultor diretamente, como aconteceu noutros momentos com a destilação de crise”, acrescentou.


Esperam respostas do Ministério da Agricultura

A revolta no terreno é também alimentada pela falta de respostas concretas. Quatro meses depois de o ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, ter prometido um estudo sobre a possibilidade de a aguardente ser produzida exclusivamente com uvas da região, nada foi avançado.

“O Governo sabe da situação, mas nada tem sido feito. Esta crise é anterior até à ameaça de taxas alfandegárias nos EUA. É um problema estrutural que foi ignorado.”


Contexto difícil para o setor vitivinícola

O cancelamento das compras surge num período já marcado pela instabilidade nos mercados e pela quebra das exportações de vinhos portugueses. O impacto das alterações climáticas, o aumento dos custos de produção e a diminuição do consumo nos principais mercados estão a colocar o setor em alerta máximo.