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Marco de Canaveses
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José Pinheiro: 49 anos a guiar peregrinos até Fátima "com fé, dedicação e amizade"

Com 76 anos e natural de Alpendorada, Várzea e Torrão, José David Pereira Pinheiro é um rosto conhecido e estimado por centenas de peregrinos que já ajudou a chegar a Fátima.

Redação

Há quase cinco décadas, organiza e acompanha grupos rumo a Fátima, movido por um profundo espírito de entreajuda. “A primeira vez ainda tinha o meu filho ao colo, e fui com a minha mulher e um grupo de dez pessoas. Desde então, nunca mais parei”, recorda. 

O que começou como uma ajuda pontual tornou-se em algo recorrente e todos anos amigos e familiares pediam a José Pinheiro para os acompanhar.

“Vieram muitas pessoas ter comigo ao longo dos anos. Já levei de tudo um pouco, e insistem sempre comigo que tenho de os levar", conta.

Apesar de já não ter a mesma energia de outros tempos, continua a aceitar o desafio porque, diz, “tenho pena de os deixar. São todos muito meus amigos.”

A logística é complexa e exige uma preparação cuidada que começa dois meses antes da partida. “Preparamos tudo: refeições, estadias, apoio médico. Levamos arcas, gerador e tudo. A comida é sempre variada: bacalhau, bifes, feijoada, massa… tentamos fazer um bocadinho de tudo para não comermos sempre o mesmo.”

O grupo percorre cerca de 27 quilómetros por dia, com um esquema de apoio contínuo ao longo do trajeto. “Vamos passando por eles e montando as coisas para os receber. Temos reforço, água, tudo o que eles precisarem. Às vezes levamos famílias inteiras, outras vezes só parte delas.”

A estadia também é pensada ao detalhe: “Três dias dormimos num sítio já combinado, o quarto e o quinto combinamos um lugar para montar uma tenda. Assim evitamos caminhar muito para a frente ou para trás, senão as pessoas arrebentavam.”

Ao longo dos anos, José David acompanhou grupos cada vez maiores : “Já ajudei grupos de 100 pessoas".  Mas hoje prefere limitar a participação. “Para ser tudo certinho, tem de ser 60 ou 75. Às vezes vamos mais, porque há sempre gente que quer ir e recusam-se a ir de outra maneira.”

A chegada a Fátima é um momento especial e profundamente comovente. “Dou uma camisola branca a cada um quando chegamos. Depois, os últimos metros são todos feitos a pé. Alguns choram, outros riem-se, outros nem conseguem falar. Não tem nada a ver, é muito forte", acrescenta o ajudante dos peregrinos.

Mesmo com os desafios José Pinheiro garante: “Gosto imenso e orgulho-me de vir com eles todos os anos. São das melhores pessoas que pode haver. Eles fazem-me sempre uma festa. Este ano até cantámos os parabéns à minha mulher, temos luzes e tudo. Há sempre tempo para viver estas coisas, é melhor do que em casa.”

Apesar da idade e das dificuldades, José David continua a ser o pilar de confiança e dedicação para muitos peregrinos. Com a ajuda do filho, que o acompanha desde pequeno, assegura que a tradição vai continuar. “Continuo a vir porque me pedem, e porque gosto. Enquanto puder, cá estarei.”