Casados há 62 anos, com três filhos (Branca, Lúcia e José), os avós de Rita são mais do que pilares da família: são figuras acarinhadas por toda a comunidade.
Rita Brandão, de 25 anos, é enfermeira e vive em Bem Viver, no concelho de Marco de Canaveses. A história que contamos começa há muitos anos, ao lado de duas figuras fundamentais na sua vida: os avós maternos, Manuel Pereira, carinhosamente conhecido como "Manel do Armazém", e Rosa Pereira, a "Rosinha".
Casados há 62 anos, com três filhos (Branca, Lúcia e José), os avós de Rita são mais do que pilares da família: são figuras acarinhadas por toda a comunidade.
“Foram eles que tomaram conta de mim quando a minha mãe teve um problema de saúde. Era o meu avô que me ia buscar à escola, que me ensinava a fazer os trabalhos de casa. A minha avó é que me vestia. Foram bastante importantes”, recorda Rita, com emoção.
Atualmente é Rita quem cuida dos avós. O percurso profissional enquanto enfermeira acaba por ser, em parte, reflexo dos valores de entrega e cuidado que recebeu: “Eu tenho um lema comigo que é: vamos cuidar dos outros como se fossem nossos e vamos cuidar dos nossos como se não houvesse amanhã. E pronto, trato deles como se não houvesse amanhã”.
Para a jovem, o Dia Internacional da Família é uma oportunidade para celebrar as raízes, a união e os valores que lhe foram transmitidos: “Eles para mim foram tudo. A minha família também é tudo para mim. Tanto os meus tios como os meus padrinhos, tiveram ambos um papel crucial na minha adolescência e mesmo agora, mas tudo isso devemos aos nossos avós, que nos transmitiram tudo aquilo que foram aprendendo ao longo dos anos”.
Rita foi criada pelos avós entre os 7 e os 14 anos. Os ensinamentos que recebeu moldaram não só a sua infância, mas a mulher que é hoje: “O respeito, a autonomia, o ser independente mais cedo, o saber trabalhar, o saber respeitar o próximo, o saber economizar também… tudo isso. Na minha altura nem tanto, mas ainda ia para o campo com a minha avó”.
A enfermeira assume com orgulho a influência do passado: “Eu costumo dizer à minha mãe que devo ter um pensamento antigo. Gosto de jantar cedo, não gosto de sair à noite… e tudo isso foram hábitos que fui criando com os meus avós”.
Ao longo da conversa, percebe-se que as memórias da infância são vivas e cheias de afeto. “O que me recordo mais é do meu avô me levar à escola e ele ficava à minha espera no portão até à hora de almoço, depois trazia-me para casa", recorda, dizendo: "Almoçávamos, ele ensinava-me os trabalhos de casa, a cantar a tabuada… A minha avó cozinhava, ouvíamos o terço juntas, ela fazia os bolos e eu ajudava. Vestia-me para a escola, embora às vezes não gostasse muito da roupa que ela punha… mas pronto, lá aceitava”.
E não foi algo que fizeram apenas com a Rita. “Eles criaram não só a mim, mas também os meus primos. Sempre fomos muito unidos. A família trabalhava toda na venda, no minimercado, que o meu avô tinha. E crescemos todos juntos”.
Ao todo, são cinco netos (Rita, Teresa, Patrícia, Pedro e Mariana) e quatro bisnetos (Dinis, Mia Rose, Miriam Victoria e Carolina), todos com um elo comum e uma herança emocional profunda. “O meu avô bastava mandar um assobio e nós já sabíamos que tínhamos de estar ao lado dele”, partilha entre sorrisos.
Questionada sobre os valores que se vivenciam nos dias de hoje, Rita acredita que muitos se estão a perder: “A maior parte liga mais aos telemóveis, está mais no mundo digital e acaba por não conviver tanto". "As pessoas mais antigas conviveram mais, partilhavam mais sentimentos”, considera.
Por isso, valoriza cada momento e partilha uma mensagem especial para este dia internacional da família, 15 de maio: “Aproveitem a família, porque o tempo passa a correr e uma pessoa não sabe quanto tempo é que vai cá estar". "Um dia vamos querer aproveitar… e já não vamos conseguir”,constata.
As histórias que os avós contam continuam a ser um tesouro para quem as sabe aproveitar. “O meu avô passa a vida a contar histórias do tempo antigo, sobre amigos que tem… já não são muitos, pela idade que tem". "Tentamos que os amigos mais próximos o visitem, para que possa recordar os tempos antigos e ter carinho também deles”, destaca.
E se um dia Rita tiver filhos, quer dar-lhes exatamente o mesmo que recebeu. “Quero transmitir os valores que me foram ensinados. Já os bisnetos começam a compreender, e 'a gente' tenta sempre transmitir o melhor daquilo que aprendeu”, defende.
Com orgulho, com amor, com alma antiga, Rita é o reflexo dos avós que a criaram. E, no Dia Internacional da Família, partilha connosco uma história feita de gratidão, cuidado e laços que o tempo continua a fortalecer.