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Portugal
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Falta de mão-de-obra na construção atrasa obras públicas e privadas em Portugal

Escassez de trabalhadores já compromete projetos do PRR e grandes obras públicas em todo o país

Redação

A escassez de mão-de-obra qualificada no setor da construção civil está a atrasar projetos em todo o país, incluindo empreendimentos públicos financiados pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). A denúncia foi feita este sábado, 4 de maio, pela Federação Portuguesa dos Sindicatos da Construção, Cerâmica e Vidro (Feviccom) e pela associação patronal AICCOPN (Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas).

Segundo Nuno Gonçalves, dirigente da Feviccom, a dificuldade em contratar trabalhadores deve-se essencialmente aos “baixos salários praticados e à precariedade do setor”. A federação defende a implementação de um salário mínimo de 1.200 euros para o setor e propõe também a valorização de trabalhadores com aumento dos dias de férias para 25, melhoria das condições de segurança no trabalho e combate ao trabalho não declarado.

Além disso, Gonçalves alertou que há obras públicas, incluindo projetos do IHRU (Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana), que continuam por arrancar devido à falta de profissionais. “Temos conhecimento de obras do PRR e da habitação que ainda não saíram do papel e que já deveriam estar no terreno”, afirmou o sindicalista.

AICCOPN aponta falta de 80 mil trabalhadores

Do lado das empresas, a AICCOPN estima uma carência de cerca de 80 mil trabalhadores no setor da construção em Portugal. A associação considera que esta lacuna tende a agravar-se nos próximos meses, à medida que arrancarem grandes obras como o novo aeroporto de Lisboa, a ferrovia de alta velocidade e as 59 mil habitações anunciadas pelo Governo.

Para a associação, o défice de mão-de-obra representa um risco real para o cumprimento dos prazos do PRR, comprometendo metas essenciais à recuperação económica nacional. Embora reconheça o potencial do Protocolo de Cooperação para a Migração Laboral Regulada, assinado a 1 de abril de 2025, a AICCOPN salienta que “este instrumento, por si só, não resolve o problema estrutural”.

Medidas estruturais para atrair e requalificar trabalhadores

A associação patronal defende a implementação de políticas integradas para captar novos trabalhadores, atrair jovens para o setor e reconverter profissionais desempregados. “Não é razoável que existam taxas de desemprego elevadas e, ao mesmo tempo, falta de trabalhadores em setores-chave como a construção”, sublinhou a AICCOPN.

A entidade recorda ainda que tem havido esforços por parte das empresas para valorizar os trabalhadores, nomeadamente com a revisão do Contrato Coletivo de Trabalho celebrada no ano passado com os sindicatos. Segundo a AICCOPN, esse acordo resultou num aumento médio de 13,2% nas remunerações base.

Imigração e segurança também em foco

A Feviccom destacou ainda a elevada presença de trabalhadores imigrantes no setor da construção e apelou a uma maior aposta na formação profissional e nas condições de segurança, tanto para os que trabalham em Portugal como para os que são deslocados para obras no estrangeiro.

“O setor tem muitos trabalhadores imigrantes e muitos portugueses que preferem trabalhar fora do país, onde são melhor remunerados”, afirmou Nuno Gonçalves.

Conclusão: risco de incumprimento de metas nacionais

A escassez de mão-de-obra na construção civil é hoje um dos principais obstáculos ao desenvolvimento de infraestruturas e habitação em Portugal. Sem medidas urgentes e coordenadas entre Estado, empresas e sindicatos, existe o risco real de incumprimento de prazos e objetivos estratégicos, com impacto direto na economia e na qualidade de vida das populações.

A situação exige uma resposta integrada que envolva melhoria salarial, valorização das condições laborais, políticas migratórias eficazes e uma requalificação ativa de desempregados, de modo a garantir que Portugal consegue responder às exigências de um setor que é fundamental para o crescimento sustentável.