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Portugal
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Dia Mundial do AVC: A missão de António Conceição, o sobrevivente que fundou a associação Portugal AVC

No âmbito do Dia Mundial do AVC, o Jornal A VERDADE esteve à conversa com o presidente da associação Portugal AVC, António Conceição, ele próprio sobrevivente de um acidente vascular cerebral.

Redação

Tal como é o caso de muitos portugueses, o AVC de António Conceição “foi um imprevisto”. De repente, aos 41 anos, o gerente bancário foi transportado de emergência para o hospital onde, apesar de parecer estável, acabou por piorar, sofrendo um ataque mais grave.

“Na altura nem sabia o que era um AVC”, confessou o presidente da associação. “Depois de acontecer dei início ao meu percurso de reabilitação que me permitiu superar as sequelas do acidente”, acrescentou.

Atualmente, António Conceição continua o seu esforço de recuperação através de fisioterapia, pois embora tenha ultrapassado grande parte das consequências do seu ataque, ainda restam sequelas que afetam o dia a dia do sobrevivente de AVC. A jornada de recuperação do presidente da associação foi marcada por “dois anos de aposta ao máximo em tudo o que podia”, salientou.

Durante esta fase, António Conceição beneficiou de certas condições que facilitaram a sua recuperação, algo que o próprio reconhece não ser o caso de muitos doentes em condições semelhantes. “Sentia que a generalidade dos portugueses a passar por esta situação não beneficiava das mesmas condições às quais tive direito e acabei por refletir em como poderia ajudar essas pessoas”, contou.

Esta questão permaneceu na cabeça do agora presidente da Portugal AVC que depois de ser desafiado para fazer parte de uma ação no estrangeiro sobre estas problemáticas, voltou ao país determinado para fazer a diferença. “Se os outros lá fora conseguem então porque é que não o conseguimos em Portugal”.

A missão da Portugal AVC: Da informação rigorosa aos Grupos de Ajuda Mútua

Assim, nasceu em 2016 a Portugal AVC, uma associação formada predominantemente por sobreviventes de AVC, mas também por familiares e cuidadores daqueles que tiveram de enfrentar esta patologia. “E gostaríamos de manter este detalhe de que a maioria da nossa direção é formada por sobreviventes de AVC”, reforçou.

Em concreto, a "PT.AVC – União de Sobreviventes, Familiares e Amigos" é uma Instituição Particular de Solidariedade Social, sob a forma de associação de solidariedade social, sem fins lucrativos, de duração indeterminada, criada por iniciativa particular, regida pelas disposições da lei aplicável e, em especial, pelos presentes Estatutos. Uma entidade criada com o objetivo de disponibilizar serviços e de promover iniciativas que contribuam para a resposta às necessidades sentidas pelos sobreviventes de AVC.

“O nosso papel pode ser resumido em dois objetivos. O primeiro é desde logo contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos sobreviventes e cuidadores. Paralelamente também temos o objetivo de contribuir para a prevenção e tratamento adequado do AVC”.

Cumprir estes objetivos traduz-se diretamente na educação da população e para esse efeito, a Portugal AVC trabalha em certas áreas prioritárias. “Uma delas é a informação, uma necessidade dos sobreviventes à qual respondemos através do nosso site onde fazemos questão de ter informações rigorosas e atualizadas, acessíveis a todos”, explicou o presidente.

Um exemplo prático dos esforços da associação é o Guia do Sobrevivente do AVC, um documento disponível no website deste projeto, onde famílias e sobreviventes de AVC podem encontrar em poucas páginas informações essenciais para o seu dia a dia e futuro. Além disso, juntar os sobreviventes de AVC é outra componente essencial do trabalho da associação que está a ser concretizada através dos Grupos de Ajuda Mútua.

Os GAMs de sobreviventes de AVC e/ou de familiares/cuidadores, são uma iniciativa prioritária da Portugal AVC, desenvolvida através dos seus Núcleos Locais, porque podem ser um valioso contributo para a plena integração, e "combate" à exclusão social, dos sobreviventes de AVC. Através destes grupos a associação responde a perguntas comuns entre os sobreviventes e familiares enquanto oferecem um espaço de diálogo e partilha entre indivíduos a passar pelas mesmas dificuldades.

“Há pessoas que nos dizem: ‘Ir ao GAM mudou a minha vida’. E isto são só reuniões realizadas uma vez por mês só por uma hora que muda a vida das pessoas. Porque é importante fazer os nossos sobreviventes aprenderem que afinal o copo não está meio vazio mas sim meio cheio”. Uma iniciativa espalhada por todo o país, estes grupos juntam-se às várias formações desenvolvidas pela associação e à oferta de acompanhamento psicológico para os seus membros como os apoios que têm marcado a diferença em centenas de portugueses.

Prevenção, os "três Fs" e o sentido da vida pós-AVC

Evitando ficar só pelo trabalho de apoio só após o AVC, António Conceição recorda com entusiasmo as várias iniciativas levadas a cabo junto das escolas, onde se ensina aos mais novos as matérias mais importantes no que toca à prevenção e atuação em caso de AVC. “E no final de cada sessão temos dez minutos onde partilhamos sempre um testemunho real de um sobrevivente

Isto serve para mostrar mais sobre a nossa vida e para deixar claro: ‘Não queremos ser tratados como coitadinhos mas como pessoas iguais a todos”. Se sobreviver a um AVC e formar uma associação dedicada aos seus sobreviventes ensinou algo a António Conceição foi que: “Não há dois AVCs iguais e o mesmo se aplica aos processos de reabilitação e à adaptação de cada um à vida depois de um ataque”.

Contudo, a todos os sobreviventes a associação tenta apontar no mesmo sentido: “Conseguir voltar a encontrar sentido para a vida, encontrando uma forma de voltarem a ser úteis na sociedade”.

Por fim, tentando passar um pouco dos seus conhecimentos mais importantes sobre este problema de saúde, António Conceição deixou algumas palavras importantes para todos: “Aprendam os sinais de alerta, ou seja, os sinais de que o AVC pode estar a acontecer. E eles são fáceis de lembrar: são os três Fs. F de fala, quando alguém começa a ter dificuldades em comunicar; o segundo F é do desvio da face e o terceiro F que é da força, ou a súbita diminuição da força num dos membros”. Estando atentos a estes sinais quando se deteta um AVC “cada minuto conta” e devemos contactar de imediato o 112, onde os profissionais de saúde sabem os procedimentos necessários para apoiar a vítima do ataque.

A Portugal AVC nasceu da experiência pessoal do seu presidente, António Conceição, que, após sobreviver a um AVC aos 41 anos, sentiu a necessidade de apoiar outros na mesma situação.

A associação, formada maioritariamente por sobreviventes, cumpre o seu papel de melhorar a qualidade de vida dos doentes e cuidadores, ao mesmo tempo que contribui para a prevenção da patologia.

Este trabalho traduz-se em informação rigorosa, como o Guia do Sobrevivente, em apoio direto através dos Grupos de Ajuda Mútua (GAMs) e acompanhamento psicológico, e na sensibilização em escolas sobre os "três Fs" (Fala, Face, Força) e a importância de contactar o 112. A Portugal AVC procura, assim, ajudar os sobreviventes a "encontrar sentido para a vida", e para mais informações sobre os seus serviços ou sobre como prevenir e atuar perante um AVC, todos os interessados devem consultar o site da associação.