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Felgueiras
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Do ouro em Portugal ao sonho europeu: Nelson Ribeiro vai aos “Jogos Olímpicos das Profissões” na Dinamarca

Em novembro de 2024, no Europarque, em Santa Maria da Feira, Nelson Ribeiro subiu ao pódio para receber a medalha de ouro em Controlo Industrial. Tem apenas 20 anos, mas já tem consigo a persistência de quem sabe o que quer.

Redação

Foi esse triunfo que lhe abriu agora as portas para um desafio ainda maior: representar Portugal na 9.ª edição do Campeonato Europeu das Profissões – EuroSkills Herning 2025, na Dinamarca, entre 9 e 13 de setembro.

Nascido em Sernande, Felgueiras, formado no CENFIM – Amarante (Centro de Formação Profissional da Indústria Metalúrgica e Metalomecânica), Nelson garante que sempre sentiu afinidade pelo lado prático da eletricidade e da mecânica. “Sempre gostei muito da parte prática, em termos de eletricidade e mecânica, então optei logo por estudar num curso profissional”, recorda. Depois de concluir o nono ano na Escola Secundária de Idães, escolheu seguir Técnico de Mecatrónica, com posterior especialização de nível 5, que está ainda a concluir.

O gosto depressa se transformou em vocação. “Percebi logo que era isto que queria fazer da minha vida. Mal entrei, comecei a gostar e esforcei-me para isto”, afirma. Esse empenho levou-o a conquistar a vitória nacional numa área exigente, que descreve: “Controlo Industrial é basicamente fabricar uma máquina para a indústria, mas em ponto pequeno. Nós desenhamos o circuito elétrico, montamos o quadro, programamos e ainda fazemos a parte de deteção de avarias”. A especialização em elétrica e automação é, como explica, a sua verdadeira paixão. “Basicamente, fazemos os quadros elétricos para as máquinas industriais e tratamos da programação”, resume.

A prova em Santa Maria da Feira contou com outros sete concorrentes, mas o trabalho de Nelson destacou-se. “Treinei muito, fazia treinos intensivos. Ao início pensei que não conseguia, mas comecei a ganhar confiança e correu bem. Senti-me concretizado, atingi os meus objetivos e fiz o meu melhor”, lembra. Essa confiança, que antes lhe parecia distante, tornou-se a chave para o ouro.

Agora, o desafio é europeu: será um dos quinze jovens que representarão Portugal em 13 profissões distintas, integrando uma competição que junta cerca de 600 participantes de 32 países. Para Nelson, a responsabilidade é grande, mas também inspiradora. “Tenho treinado todos os dias para conseguir chegar lá e dar o meu melhor. Claro que estou nervoso, há sempre ansiedade, mas é tranquilizar e focar-me”.

Vai enfrentar onze adversários diretos — da Áustria, Bélgica, Alemanha, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Islândia, Cazaquistão, Luxemburgo e Suécia. Ainda assim, não perde a confiança de que o trabalho trará frutos. “Espero conseguir um bom resultado, uma boa pontuação. E que isto também me abra portas, seja em Portugal ou fora. Já evoluí muito para chegar aqui e espero continuar a fazê-lo”.

A preparação para Herning tem sido intensa e exigente. Treinos diários, rotinas repetidas até à exaustão e uma disciplina que vai muito além da sala de formação. Nelson sabe que, no final, a diferença pode estar num detalhe. Perfecionista assumido, reconhece-se exigente consigo mesmo: “Sou um bocado perfecionista, é verdade”. Esse traço, longe de ser um obstáculo, é o que lhe permite manter o rigor técnico e a atenção ao pormenor, características indispensáveis numa área onde cada fio, cada ligação e cada linha de código podem ditar o sucesso ou o fracasso de uma prova.

O apoio da família e dos amigos tem sido fundamental. “A minha família dá-me apoio para tudo e acredita sempre em mim. Esperam que eu tire um bom resultado, mas, acima de tudo, que sinta que fiz o meu melhor. Se correr mal, sigo em frente. Os meus amigos também acreditam muito em mim e estão sempre a dar-me forças”, conta. A rede de suporte estende-se ainda aos colegas e formadores do CENFIM, que acompanham de perto a sua preparação.

O futuro, admite, está ainda em aberto. “Gostava de ingressar numa empresa, talvez continuar a estudar e tirar Engenharia Eletrotécnica. Não sei se aqui na zona há muitas empresas ligadas à minha área, mas o objetivo é manter-me sempre a aprender”, explica. Ser trabalhador-estudante não o assusta; pelo contrário, vê aí uma oportunidade para conjugar prática e teoria, consolidando competências.

Mas há também uma reflexão crítica que Nelson deixa sobre a forma como a profissão é percecionada em Portugal: “Acho que devia ser mais valorizada. É valorizada, sim, mas não tendo uma engenharia, ficamos como técnicos. Muitas vezes sabemos mais do que quem tem uma licenciatura”. A afirmação traduz o sentimento de muitos jovens profissionais que, como ele, se destacam pelo saber prático, mas ainda enfrentam barreiras de reconhecimento no mercado de trabalho.

A seleção nacional que integra não estará sozinha. A comitiva portuguesa, composta por 15 jovens e acompanhada pela mascote Percy, um divertido percebes que se apresenta com a frase “O meu nome é Percy. SkillsPercy! Percebes!?”, terá o peso de representar um país que já deu provas de talento nestas competições.

Em 2023, Portugal conquistou o 7.º lugar no ranking europeu, trazendo para casa 3 medalhas de prata, 2 de bronze e 6 de excelência. O Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), enquanto representante nacional nas organizações WorldSkills, continua a apostar na valorização destas provas, que funcionam como um verdadeiro palco de afirmação para jovens qualificados.

Em setembro, não será apenas um jovem de Felgueiras em prova: será Portugal inteiro que se revê no esforço, no talento e na determinação de Nelson Ribeiro — um verdadeiro “atleta” dos Jogos Olímpicos das Profissões, pronto para levar o controlo industrial português ao mais alto nível europeu.