“Ajudar, a mudar, a dar coragem": David Correia lança obras sobre saúde mental e autocura

Estas obras marcam uma nova fase na carreira do autor, que soma já 25 livros publicados e 42 participações em coletâneas.

David Correia, atualmente sapador florestal e licenciado em Turismo, começou a escrever aos 12 anos como forma de lidar com situações de bullying. “Na altura era um refúgio para mim, escrever, pois fui vítima de bullying”, explica.

A paixão pela escrita foi-se consolidando ao longo dos anos, tendo participado pela primeira vez em coletâneas em 2018. Desde então, afirma que evoluiu “de forma significativa” enquanto autor, tendo publicado regularmente com o apoio de editoras que apostaram no seu trabalho.

Sobre a realidade do setor literário em Portugal, David Correia é crítico quanto às dificuldades enfrentadas pelos autores emergentes: “Ser autor em Portugal é muito complicado, principalmente para os considerados 'pequenos escritores'. As editoras cobram valores absurdos e não existe aposta cultural em termos de literatura no nosso país.”

Ainda assim, reconhece ter tido “sorte de ter encontrado editoras que, do nada, apostaram em mim”.

A escrita como refúgio face à doença

Os dois novos livros resultam de um período particularmente difícil da vida do autor, marcado por problemas de saúde mental.

“Tive um bloqueio na escrita ao longo dos primeiros seis meses do ano, derivado a um problema de saúde. Fui diagnosticado com burnout, ansiedade e depressão em estado crítico. Além disso, também estive numa relação tóxica, o que acabou por vir tudo junto.”

A escrita foi novamente uma forma de lidar com as dificuldades. “Atualmente a escrita acaba por ser um refúgio, um desabafo, uma ajuda para superar”, afirma. “O Diário de Uma Mente Suicida” é, segundo o autor, um livro escrito “mais como um desabafo” e um meio de se colocar “ao lado de pessoas que estejam a passar pelo mesmo”.

Neste livro, David relata a sua experiência pessoal, incluindo uma tentativa de suicídio e um internamento hospitalar. “Só não estive mais tempo internado porque comprometi-me a tentar mudar com o apoio dos profissionais de saúde, tanto a nível público, como particular.”

Ferramentas práticas para a superação pessoal

O segundo livro, “Liberta-te”, é uma obra de autoajuda que pretende oferecer aos leitores estratégias práticas para enfrentar desafios pessoais e emocionais.

“É um livro de autoajuda e aborda temas de como superar qualquer desafio, de como controlar a mente, de como evoluir na vida e lidar com situações de ansiedade e depressão.” A obra inclui ainda um desafio de 21 dias para a autocura pessoal e um diário interativo para o leitor.

“Surgiu com o objetivo de ajudar o próximo com ferramentas que me foram fornecidas e que eu próprio também criei.”

David Correia considera que doenças psicológicas continuam a ser um tabu na sociedade portuguesa: “É vista como 'a pessoa está bem, porque já consegue sair à rua', quando na realidade deveria ser vista como algo grave.”

Defende mais apoio e compreensão para aqueles que sofrem em silêncio, com receio da estigmatização: “Acho que o nosso país tem a mentalidade um pouco atrasada em relação a este tipo de doenças.”

Um percurso marcado pela honestidade e pelo apoio familiar

Para o autor, o objetivo dos dois livros é claro: “Ajudar, a mudar, a dar coragem a pessoas que passem por situações idênticas. Mostrar que é possível superar lentamente, passo a passo, para que, num futuro próximo, a pessoa esteja totalmente diferente e que dificilmente passe pela mesma situação.”

Ambas as obras representam uma estreia temática para o escritor, que até agora se dedicava sobretudo à prosa e poesia. “Foram um desafio, porque é uma estreia para mim escrever sobre o tema de autoajuda e espiritualidade, bem como tudo se torna interligado”, conclui.

David Correia conta com o apoio da família, amigos e profissionais de saúde, nomeadamente em Mirandela e Bragança. A sua escrita, “direta ao assunto e com honestidade”, é, segundo o autor, o que cativa leitores e inspira confiança.