Hoje, trabalha como cientista sénior de materiais na empresa britânica Material Evolution, dedicada ao desenvolvimento de cimentos com baixa pegada de carbono.
Bruno Campos, natural de Freamunde, no concelho de Paços de Ferreira, vive desde o final de 2021 em Londres. Com 40 anos, é doutorado em Química pela Universidade do Porto, onde também concluiu a licenciatura e o mestrado.
Hoje, trabalha como cientista sénior de materiais na empresa britânica Material Evolution, dedicada ao desenvolvimento de cimentos com baixa pegada de carbono.
A sua carreira científica começou na área farmacêutica, com investigação em fármacos para o tratamento do cancro. Depois, especializou-se em sensores baseados em nanotecnologia para detecção de metais tóxicos. Trabalhou ainda com biomateriais no I3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, desenvolvendo materiais para regeneração óssea.
Mais tarde, colaborou com o CITEVE – Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário de Portugal, onde teve um papel de ligação entre a investigação laboratorial e a aplicação industrial, nomeadamente nas indústrias têxtil, automóvel e de plásticos. Lecionou ainda na Universidade Católica do Porto, onde desenvolveu produtos menos tóxicos para conservação e restauro de arte, numa abordagem de “química verde”.
Já no Reino Unido, Bruno Campos iniciou funções na startup Alchemie, focada na criação de métodos de tingimento têxtil com reduções significativas no consumo de água, energia e químicos. Desde 2023, integra a equipa da Material Evolution, onde se dedica ao desenvolvimento de cimentos “low carbon” – produtos alternativos ao cimento tradicional, com emissões de carbono até 90% mais reduzidas.
O cimento em desenvolvimento pela empresa baseia-se num processo conhecido como ativação alcalina, que utiliza materiais com potencial cimentício e os transforma, através de reações químicas e processos mecânicos, em ligantes alternativos ao cimento Portland. O objetivo é substituir total ou parcialmente o cimento convencional, um dos materiais de construção mais poluentes do mundo.
A indústria cimenteira é responsável por cerca de 8% das emissões globais de dióxido de carbono. “Em termos de pegada de carbono, o nosso produto tem menos 80 a 90% de emissões”, refere Bruno Campos. A primeira versão do cimento desenvolvido pela empresa já está a ser comercializada no Reino Unido, embora com custo mais elevado. A investigação atual visa reduzir o preço de produção, tornando o produto mais competitivo.
A inovação reside também na escolha das matérias-primas. “O meu objetivo é pegar em desperdícios industriais e naturais, como resíduos de mineração, e transformá-los em cimento”, explica. Estes resíduos, muitas vezes tratados como passivos ambientais, contêm componentes com potencial cimentício que, após tratamento físico, mecânico e químico, podem dar origem a produtos de construção sustentáveis.
A possibilidade de escalar este processo para outros países está em aberto. O plano passa por identificar resíduos locais, em Portugal, França ou Estados Unidos, e desenvolver cimentos a partir desses recursos. Bruno sublinha a importância de políticas públicas que incentivem esta transição: “Se não houver apoio governamental, como a taxação do carbono, é difícil competir com o preço do cimento tradicional.”
Apesar do percurso internacional, Bruno Campos continua a valorizar a formação científica obtida em Portugal. “As universidades portuguesas são muito boas. Sinto-me muito bem preparado e vejo isso quando comparo com colegas de outras nacionalidades”, afirma. No entanto, lamenta a falta de investimento e de oportunidades no país: “Portugal forma pessoas muito competentes, mas não consegue mantê-las. Muitos acabam por sair e têm sucesso no estrangeiro.”
A sua trajectória no Reino Unido reflecte um percurso de mérito. Começou como técnico de tingimento e é hoje quase líder de investigação científica. “Aqui as oportunidades aparecem quando reconhecem qualidade. Em Portugal, isso é mais difícil”, diz. Atualmente, está a preparar uma nova patente associada ao desenvolvimento de um cimento 100% alternativo ao tradicional e com possibilidade futura de captura de CO₂, tornando o produto ainda mais ecológico.
Bruno Campos quer continuar a trabalhar na área dos cimentos sustentáveis, com abertura para aplicar o seu conhecimento noutras áreas, sempre com foco na inovação ecológica. “O que estou a fazer agora é apenas o início. Há ainda muito por desenvolver, sempre com o objectivo de tornar os processos mais amigos do ambiente”.