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Marco de Canaveses
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“É um gosto ver as pessoas a recordar as profissões antigas”: Maria de Lurdes foi vendedora de pão de porta em porta

Profissão deixada para trás com o passar do tempo, já não existem padeiras itinerantes e as suas canastras de pão cuidadosamente balançadas na cabeça para vender pelas ruas.

Redação

A Marcha de Várzea do Douro escolheu como tema para o cortejo deste ano as padeiras de rua, tal como foi Maria de Lurdes durante 11 anos. Aos 80 anos, a antiga vendedora de pão ainda tem bem presente na memória os dias que passou a percorrer as ruas da freguesia. “Antigamente, havia outra senhora a fazer a ronda. Mas como ela queria deixar a ronda do pão, um dia, parou em minha casa e perguntou-me: Queres tomar conta da volta daqui?” Com os seus 30 anos, já mãe e sem estudos, Maria de Lurdes aceitou de bom grado dar continuidade à volta do pão. “Era o que havia. Não se ganhava muito... era meio tostão por cada pão, mas tudo o que metia ao bolso era bom”, conta a mulher natural de Várzea do Douro.
 
A rotina de quem levava o pão porta a porta
 
O trabalho em si “era fácil”, embora começasse um pouco cedo, por volta das 06h30, hora a que o distribuidor parava a carrinha à porta da vendedora para deixar o pão. “A volta não era muito grande, ainda tinha de andar um bom bocado a pé mas fazia-se bem. Se as freguesas não se metessem muito na conversa chegava a casa às 10h00”, brinca a padeira.
 
De balseiro na cabeça, Maria de Lurdes, distribuiu e vendeu o pão “fizesse chuva ou sol” pelas ruas de Várzea do Douro durante 11 anos, até ter largado a profissão “por motivos de saúde”. Dia sim dia não, vendia-se muito ou pouco pão, “compravam-me 20, 30 dúzias ao fim de semana”, recorda a distribuidora.
 
Uma homenagem às profissões que marcaram gerações
 
O convívio nas ruas enquanto vendia o que levava na cesta levanta memórias antigas mas Maria de Lurdes admite que deste trabalho só tem saudades “de ser mais nova”. Um trabalho digno como muitos outros, a padeira olha para estes tempos com carinho mas lamenta um pouco a falta de oportunidades naquele tempo. “Não havia muitas outras coisas para fazer, no fundo tínhamos de nos sujeitar ao que aparecia. Não tinha grande lucro a vender mas tínhamos pão para comer”, acrescenta. Tal como Maria de Lurdes, haviam mais mulheres encarregues de distribuir o pão e à semelhança destas padeiras, andavam também as peixeiras. “Agora estes trabalhos acabaram, temos tudo no supermercado, vai-se lá e faz-se tudo”, reflete.
 
E são estas profissões que a Marcha de Várzea do Douro pretende homenagear este ano. “É um gosto ver as pessoas a recordar as profissões antigas que, em parte, também fazem parte das nossas tradições”.