A Região Demarcada do Douro (RDD) é heterogénea, e no planalto de Favaios, em Alijó, distrito de Vila Real, existem diferentes perspetivas de colheita, quase de vinha para vinha. O Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) estima uma quebra de produção a rondar os 20% no Douro, enquanto a nível nacional a redução se situa em 11%.
Segundo o viticultor Mário Monteiro, presidente da Adega Cooperativa de Favaios: “a minha vindima está a correr bem, pessoal não falta, o tempo esteve bom. A minha produção vai ser semelhante à do ano passado no que diz respeito ao moscatel, branco não sei e, no tinto, vai ser menos”. Monteiro possui uma produção que ronda 138 pipas de moscatel. Sobre a qualidade, salientou: “A qualidade parece-me que vai ser boa novamente, as nossas uvas foram criadas praticamente sem doenças”.
Nas vinhas de Monteiro participam trabalhadores locais e uma equipa de um empreiteiro agrícola de Resende. Entre eles, Helena Sequeira mantém viva a tradição de cantar durante as vindimas da mais antiga região demarcada do mundo. “Eu ainda canto, mas primeiro as vindimas eram mais alegres. Agora querem-nos tirar o nosso vinho do Douro e isso é que é triste. Este é o nosso ganhão pão”, comentou, referindo-se à crise que afeta produtores e quem comercializa o vinho.
Helena trabalha para Monteiro e também procura aproveitar o tempo para granjear o que é seu. Vítor Dias, a viver em Resende, levanta-se às 03h30 para apanhar o primeiro trabalhador às 04h15, iniciando a colheita às 07h00. “É a nossa rotina. Aqui temos trabalho todo ano seguido, temos é que nos levantar mais cedo, mas já estamos habituados. Já há cinco anos seguidinhos que andamos para baixo e para cima”, contou.
Na sexta-feira, a adega de Favaios cumpriu o 10.º dia de vindima, com grande movimento de carrinhas a entregar uvas. Gomesindo Pires explicou que “as uvas estão leves. Onde no ano passado trazíamos 1.000 quilos, este ano trazemos para aí 700, 750 quilos”. Para quem concilia a vinha com outra atividade, como a construção civil, a vindima é exigente, incluindo fins de semana, feriados e dias santos. Apesar disso, considerou que, quanto à qualidade, “não está mal”.
Duarte Guedes, com cerca de 20 hectares de vinha, estimou uma quebra de produção entre 10 a 15% nas uvas brancas e tintas, não nas de moscatel. Referiu que a redução já começou na nascença do fruto e que a vindima começou uns dias mais cedo que no ano passado porque “as uvas já tinham grau” e devido à falta de água.
Francisco Santana contabilizou uma quebra acentuada na produção da sua pequena vinha, afirmando: “Já fiz o meu moscatel e tive cerca de metade. São os sítios, é o tempo, é tudo”. Joaquim Pereira disse que a produção será “ligeiramente mais baixa, mas com bastante qualidade”, estimando uma quebra de 20% na colheita. Explicou que “foi à nascença e depois devido ao calor, o peso do bago é menor e rende menos”.
Com uma produção de cerca de 70 a 80 pipas, entrega tudo na adega, mas considera difícil arranjar trabalhadores, dificuldade que se agrava todos os anos.
Em Favaios, a adega abriu portas alguns dias mais cedo do que no passado porque já havia videiras em stress hídrico. Miguel Ferreira, enólogo da cooperativa, explicou: “E quisemos dar oportunidade aos viticultores de poderem vindimar essas uvas mais sofridas”. A heterogeneidade da região é evidente: “Nas zonas mais altas de solos mais profundos em que ainda havia água, as produtividades estão boas e nas zonas de meia encosta e já a descer para o rio Pinhão e Sanfins, aí temos mais quebras. São solos que não têm tanta capacidade de retenção de água”.
Nesta vindima, a adega fará experiências com novas tecnologias de vinificação para produzir vinhos com menos teor alcoólico, procurando novos consumidores. “O mercado para exportação solicita alguns produtos mais leves, percebemos claramente que é um mercado em crescimento e temos que ver como é que a legislação se enquadra no Douro”, explicou Miguel Ferreira.
A adega conta com cerca de 500 associados, um volume de faturação de cerca de 20 milhões de euros, com a exportação a representar 12% do volume de vendas.