logo-a-verdade.svg
Amarante
Leitura: 7 min

Rui Andrade: “É como um reinício… voltar aqui, 32 anos depois, é mágico”

Natural de Amarante e com raízes profundas em Fridão, Rui Andrade é hoje um dos rostos bastante conhecido da música e representação portuguesas.

Redação

No âmbito do festival cultural VILARTES, o cantor e ator regressou à região que o viu nascer — e subir ao palco pela primeira vez —, num momento que foi, simultaneamente, um reencontro com as suas origens e uma celebração do seu percurso artístico.

Foi na Constance House, um alojamento da freguesia de Constance, no concelho de Marco de Canaveses, que Rui Andrade partilhou com o Jornal A VERDADE as memórias, emoções e expectativas em torno do concerto especial que protagonizou no palco natural das emblemáticas Obras do Fidalgo. Esta atuação teve lugar no encerramento da Semana Cultural de Vila Boa de Quires e Maureles, o festival VILARTES, que decorreu entre 26 de julho e 2 de agosto, e contou com a presença de artistas nacionais como Noah e a Banda de Música de Vila Boa de Quires, com quem Rui atuou em colaboração.

Regresso ao ponto de partida: “A primeira vez que subi ao palco foi em Constance”

Em tom descontraído, Rui recordou que a sua estreia em palco aconteceu exatamente em Constance, há 32 anos, num festival da canção local. Tinha então apenas oito anos e, sem experiência, mas com enorme entusiasmo, subiu ao palco improvisado da Casa do Povo para cantar com uma chave de fendas na mão — o microfone improvisado que usava em casa. “Tenho uma imagem muito vívida das luzes a baterem-me pela primeira vez no rosto naquele palco… e ganhei logo esse festival!”, contou, entre sorrisos.

Mais do que uma memória querida, aquele momento tornou-se simbólico. “É como um reinício… voltar aqui, agora, 32 anos depois, para cantar de novo, é mágico. Lembro-me até dos sapatos novos que a minha mãe me comprou na altura — foram eles que dançaram comigo e me deram a vitória.”

De Amarante para Lisboa: uma carreira construída com persistência

Apesar das raízes nortenhas, Rui Andrade vive em Lisboa há cerca de 17 anos, onde se estabeleceu para perseguir os seus sonhos na música e no teatro. “Fui sozinho, atrás do que queria fazer. Aqui no Norte não havia muitas oportunidades nesta área. Agora está melhor, mas as grandes oportunidades continuam a estar na capital”, explicou.

O processo de adaptação a Lisboa foi natural, facilitado por colegas que o ajudaram a integrar-se. Foi no teatro de Filipe La Féria que Rui teve o seu primeiro contacto com a representação, depois de ter participado num casting para um espetáculo dedicado às sete maravilhas do mundo. Embora não tenha podido integrar essa produção específica, o passo abriu-lhe portas para uma nova vertente artística: o teatro musical. Ainda assim, Rui confessa que a música permanece como a sua verdadeira paixão: “A representação trouxe-me muitos desafios, mas falta o meu álbum, faltam os meus concertos… falta que as pessoas conheçam as minhas canções.”

O percurso de sucesso: festivais, “Ídolos” e a Eurovisão

Durante a infância e adolescência, Rui participou assiduamente em festivais de música um pouco por todo o país, sempre com o apoio incondicional dos pais. “Dos 8 aos 18 anos, fiz dezenas de festivais, e cada vitória alimentava em mim a certeza de que isto podia ser mesmo o meu futuro.”

Aos 18 anos, a sua carreira deu um salto mediático ao participar no programa Ídolos, um dos primeiros concursos de talentos com grande audiência em Portugal. “Foi a minha primeira grande experiência. Era muito ingénuo, não sabia jogar o jogo da televisão, mas os comentários foram sempre positivos e tive o apoio da minha cidade, o que me marcou profundamente.”

Mas um dos episódios mais surpreendentes do seu percurso foi a participação na Eurovisão, ainda que não como representante de Portugal. Em 2014, Rui foi convidado por uma equipa internacional de produtores cipriotas e gregos que o viram atuar em Lisboa, e acabou por integrar os coros da Rússia no palco do maior festival de música europeu. “Chamavam-me o ‘Sorriso de Portugal’. Tinha a imagem e a voz que eles queriam. Ensaiámos na Grécia e vivi uma experiência única, mesmo não sendo o palco principal.”

O sucesso foi tal que, em 2018, Rui voltou à Eurovisão, desta vez a convite da mesma equipa, mas agora como corista do Azerbaijão, quando o festival se realizou em Lisboa. Ainda assim, o seu sonho maior permanece por cumprir: representar Portugal como cantor principal no palco da Eurovisão. “Já participei três vezes no Festival da Canção e fiquei sempre em terceiro lugar. Quero muito um dia alcançar esse palco, sobretudo porque foi um sonho que os meus pais me incutiram — e agora só a minha mãe está cá para o ver.”

O papel da família: pilares de apoio e inspiração

Rui destaca o papel decisivo que os seus pais desempenharam no seu percurso artístico. “Foram eles que me levaram a todos os festivais, que nunca me disseram que não, que me incentivaram sempre. Estudei engenharia porque queriam que eu me resguardasse, mas o sonho falou mais alto.”

A paixão pela música foi uma constante na sua vida, desde os primeiros festivais ao projeto profissional, passando pelos palcos de teatro e pela televisão. Hoje, com 40 anos, Rui sente-se cada vez mais focado em partilhar a sua música com o público e preparar o seu primeiro álbum.

Vila Artes e as Obras do Fidalgo: um concerto especial

O concerto no VILARTES teve, por isso, um significado muito especial para Rui Andrade. Atuando num cenário tão marcante como as Obras do Fidalgo, e com a companhia da Banda de Música de Vila Boa de Quires, o artista sentiu-se verdadeiramente em casa. “Estou ansioso para ver como aquele espaço se transforma à noite, com luzes e tudo. É um local único para espetáculos.”

Num festival que valorizou as artes, a cultura e o regresso às origens, Rui Andrade foi não apenas um artista em palco, mas um símbolo de que os sonhos de criança podem, com trabalho e paixão, transformar-se em realidades de sucesso.