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Sociedade
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Mulheres com cancro diagnosticado em 2018 registaram maior sobrevivência do que homens

As mulheres diagnosticadas com cancro em 2018 registaram taxas de sobrevivência superiores às dos homens, segundo o relatório Sobrevivência Global – Doentes diagnosticados em 2018, divulgado hoje pelo Registo Oncológico Nacional (RON). Trata-se da primeira publicação deste tipo realizada em Portugal.

Redação

De acordo com as conclusões do relatório, “para a maior parte dos tumores malignos, as mulheres apresentaram sobrevivências superiores em relação aos homens”. A coordenadora do RON, Maria José Bento, sublinha, no entanto, que as conclusões agora divulgadas carecem ainda de análises mais aprofundadas. Entre os possíveis fatores explicativos, a especialista aponta, além de fatores biológicos, o facto de as mulheres procurarem assistência médica de forma mais célere, permitindo diagnósticos mais precoces. “Todos sabemos que a deteção precoce influencia positivamente a sobrevivência”, afirmou.

O relatório analisou a sobrevivência de doentes oncológicos diagnosticados em 2018, com 15 ou mais anos, residentes em Portugal, considerando apenas cancros primários e excluindo cancros da pele não-melanoma, metástases e recidivas. A sobrevivência ao cancro foi calculada a cinco anos, dado que a maioria dos eventos ocorre nesse período.

Foram analisados 51.704 doentes e 52.953 tumores malignos invasivos. A sobrevivência global foi de 81% ao fim de um ano e 65% aos cinco anos. Nos homens, a sobrevivência ao fim de um ano foi de 77%, descendo para 60% aos cinco anos. Nas mulheres, esses valores foram de 85% e 71%, respetivamente.

O relatório conclui que esta diferença resulta, em parte, do facto de a sobrevivência ser ligeiramente maior para a maioria dos tipos de cancro nas mulheres e também porque os cancros mais frequentes nas mulheres apresentam, em geral, melhores prognósticos do que os mais comuns nos homens.

Por exemplo, no caso do cancro da mama, o tumor mais frequente nas mulheres, a sobrevivência aos cinco anos supera os 90% quando detetado precocemente. Já no cancro do pulmão, com maior incidência nos homens, a sobrevivência aos cinco anos foi de 21% nos homens e de 36% nas mulheres.

Relativamente à idade, a sobrevivência aos cinco anos diminui nas faixas etárias mais avançadas. No grupo dos 75 anos ou mais, apenas 54,1% dos doentes sobreviveram cinco anos ou mais após o diagnóstico.

O relatório revela também desigualdades regionais nas taxas de sobrevivência aos cinco anos. As regiões Centro, Norte e Área Metropolitana de Lisboa registaram as melhores taxas (66%), enquanto a Madeira apresentou um resultado inferior (60%). Após ajustamento pela distribuição etária, a região Centro apresenta a taxa mais elevada (67%) e os Açores a mais baixa (57%). A coordenadora do RON salientou, contudo, que estes dados devem ser interpretados com cautela devido à menor dimensão amostral nas regiões autónomas.

Nos homens, os cancros com melhor prognóstico foram os da próstata, lábio e testículo. Os com pior prognóstico, com sobrevivência inferior a 15%, foram os do esófago, pâncreas, mesotelioma e de origem desconhecida. Nas mulheres, os tumores com maior sobrevivência foram os da glândula tiroideia, lábio, doenças mieloproliferativas crónicas e mama. Entre os de pior prognóstico destacam-se o mesotelioma, fígado, pâncreas e os de origem primária desconhecida.

Esta é a primeira análise de sobrevivência realizada pelo RON. Maria José Bento defendeu a importância de continuar o acompanhamento da população oncológica para futuras análises sobre acessibilidade aos tratamentos, referenciação e outros fatores, considerando que este relatório deve ser um ponto de partida para um estudo contínuo.