A iniciativa solidária prolonga-se por 16 dias, compreende 15 etapas e prevê a chegada à praça de São Pedro, no Vaticano, no dia 28 de agosto, data indicativa do final do percurso.
Joaquim Aires, residente em Cristelos (Lousada) e embaixador da ANEM — Associação Nacional de Esclerose Múltipla, inicia esta terça-feira, dia 12, uma viagem em bicicleta com destino a Roma.
A iniciativa solidária prolonga-se por 16 dias, compreende 15 etapas e prevê a chegada à praça de São Pedro, no Vaticano, no dia 28 de agosto, data indicativa do final do percurso.
A ação é realizada em parceria com a ANEM e tem como duplo propósito sensibilizar para a esclerose múltipla e arrecadar fundos através de uma campanha de crowdfunding. Joaquim explica por que escolheu a ANEM: “Tenho um grande amigo que tem esclerose múltipla, é portador da doença há mais de 15 anos (…) encontrei a ANEM numa pesquisa que fiz de associações de apoio a pessoas portadoras da doença e desde o primeiro contacto com a ANEM … começámos a fabricar, a construir esta ideia, este projeto de parceria. Eu pedalo por eles para toda a gente ter um sentido de donativo para esta associação”.
A ANEM, recorde-se, é uma IPSS criada há quase 30 anos que presta apoio e tratamento a pessoas com esclerose múltipla, dispondo de centros de fisioterapia avançados e estando atualmente a construir o primeiro Centro de Excelência em Investigação da EM e um lar permanente em Portugal.
A partida terá um momento simbólico em Lousada: esta terça-feira, pelas 8h30, vai decorrer uma pequena cerimónia oficial em frente à Câmara Municipal de Lousada, com a presença de elementos de associações locais e da direção da ANEM. A saída rumo a Roma está marcada para as 9h30. Joaquim pediu o apoio e a presença da comunidade: “quem puder, gostávamos imenso e ficávamos bastante agradecidos em estarem presentes amanhã a assistir ao arranque”.
Durante a viagem, a ANEM assegurará a divulgação diária de relatos, vídeos, imagens e entrevistas com o ciclista, permitindo que a imprensa e o público acompanhem cada etapa. Joaquim comprometeu-se a partilhar “um vídeo de manhã e um vídeo na chegada… vou partilhar a minha localização em ‘modo live’ (…) vou partilhar bastantes detalhes nas minhas páginas, principalmente no Facebook, mas também no Instagram”.
O percurso conta com 15 etapas efetivas mais um dia de descanso, perfazendo 16 dias no total. Joaquim refere que “vão ser no mínimo 2 400 km” e que a chegada a Roma está prevista para o dia 28 de agosto — embora admita não estar excessivamente preso à contagem exata dos dias: “eu não fiz conta ao dia do término porque é uma coisa que não me estou a preocupar… eu vou me preocupar é dia após dia”
Por razões logísticas, a deslocação realiza-se com o acompanhamento de uma caravana — os pais de Joaquim asseguram o apoio nas refeições e na dormida, vendo-o apenas de manhã e à noite.
Joaquim já realizou em 2023 uma viagem semelhante, Lousada–Paris, destinada a associações locais, que permitiu angariar cerca de 9 000 euros. Sobre a preparação para Roma, explicou que a experiência anterior lhe serviu de referência e que a preparação deste ano passou por um planeamento mais específico: “a única coisa… eu faço competição amadora… treinei bastante durante esse tempo todo desde finais de outubro, (…) nos últimos dois meses deixei de fazer competições para não correr o risco das quedas de me lesionar (…) aumentei o volume… horas de treino e quilometragem”.
A trajetória de preparação incluiu treinos longos feitos após turnos de trabalho como bombeiro sapador — “fiz vários treinos a sair de serviço, a sair da noite de serviço, para ter o cansaço acumulado, fazer 150, 180 km de seguida, para sentir como é que o corpo reagia após o cansaço” — numa tentativa de simular a fadiga acumulada que enfrentará ao longo de dias consecutivos de pedal.
A preparação teve também contratempos: Joaquim relata um acidente que o impediu de tentar a iniciativa no ano passado — “fraturei o perónio e estive cerca de um mês e meio sem treinar” — o que atrasou os seus planos até poder retomar os treinos e formalizar a parceria com a ANEM.
Acompanhado por uma caravana, Joaquim sublinha as limitações e os custos associados a este tipo de aventura: “só de combustível, ir e vir, foram 750 euros [no caso de Paris]. Agora, estou a prever que para Roma sejam à volta de 1 300 euros”. Acrescenta outras despesas previstas, como alimentação e taxas de parques de caravanismo (como exemplo, “em Andorra um parque de caravanas pode custar 40 euros por noite”) e refere que os custos totais da empreitada são pesados “porque eu não tenho apoio nenhum… vou sem apoios pessoais”.
Estas limitações financeiras condicionam também a logística: “como têm depósitos de águas sujas, temos que parar em parques de caravanas que têm equipamentos próprios para fazer esses despejos”, o que complica a passagem por locais como Andorra, Mónaco e Roma.
Joaquim admite que sem o apoio dos pais, que o acompanham diariamente na preparação das refeições e na organização da dormida, a iniciativa seria muito mais difícil: “sem este apoio era muito difícil… eu conseguiria fazer em modo autonomia, mas não poderia fazer etapas, como a mais longa que vou fazer, que tem 233 quilómetros.”
A raiz desta viagem é pessoal e solidária: Joaquim explica que a amizade com um amigo portador de esclerose múltipla foi decisiva na escolha da causa. Sobre o amigo, disse que “ficou contente, ficou feliz por ele ter sido a alavanca desta ideia… porque o objetivo desta ação solidária (…) é dar a conhecer esta doença, que não tem cura, infelizmente.” Para Joaquim, a visibilidade da doença e o apoio às pessoas que a vivem são prioridades: “é uma doença que arranca os sonhos de quem é portador… é numa idade muito tenra (…) quando nós estamos a sonhar e a criar objetivos de vida e é quando aparece a doença.”
Durante a entrevista, foi referido o estado da campanha de angariação de fundos: segundo dados trazidos à conversa: “Neste momento, estão angariados 497 euros, sendo que o objetivo são 25 mil”, numa altura em que ainda faltam 34 dias para que termine. Joaquim sublinha: “esse é o objetivo, eles é que precisam dos donativos e eu estou a pedalar por eles por essa razão também… para mim era um sucesso chegar a esse valor”.
A campanha pode ser consultada na página indicada pelo próprio projeto: https://www.give-me.pt/pt_PT/campanhas/campanha-solidaria-projeto-roma-a-favor-da-anem
Bombeiro sapador na Câmara Municipal do Porto, Joaquim concilia a profissão com a paixão pelo ciclismo e com a música — é também músico da Banda de Música da Lixa. Para poder realizar a viagem teve de negociar dias de serviço: “a única solução que o meu comandante encontrou foi fazer essas trocas em dias específicos e hoje é uma das trocas. Por isso, vou sair do serviço às 20h00, chegar a casa por volta das 21h00, para acordar as 06h00 da manhã". Referiu ainda que, por obrigação profissional e pela necessidade de assegurar o regresso da caravana, antecipa regressar por volta do dia 5 de setembro.
Apesar da confiança, Joaquim aponta receios realistas: “o meu maior receio neste momento é o nível de recuperação do corpo… para tantos dias, para 15 dias.” Reconhece também que a viagem se realiza durante um período de férias generalizadas, o que dificulta a cobertura mediática: “esta ação solidária está a ser feita no mês de férias de toda a gente. Então, desta vez não conseguimos… ter uma reportagem num canal televisivo nacional para dar a conhecer a doença e esta iniciativa.”
Em termos de ambição pessoal, a meta é superar o êxito de 2023: “as minhas expectativas é que superássemos o êxito que foi em 2023 (…) a nível pessoal estou mentalizado, estou preparado, estou motivado… é ter a cabeça limpa e leve e alegre e feliz”.
A viagem cruza-se com uma data pessoal importante: Joaquim fará 39 anos durante o percurso até ao território italiano, no dia 17 de agosto. Como disse com determinação: “vou estar a pedalar durante o meu aniversário… vou fazer 39 anos. Estou a apostar tudo nesta viagem, estou a apostar tudo. Tanto as minhas férias como o meu dia de aniversário”, revelou de forma descontraída.
Nos apoios pessoais, além dos pais que o acompanham diariamente, Joaquim integra a equipa Love Love Tiles Cycling Team, de Aveiro. Conta com mensagens de incentivo de amigos e seguidores e espera que o vínculo com a ANEM e a visibilidade da causa gerem reações solidárias: “para mim era um sucesso chegar a esse objetivo, e os trabalhos estão a ser feitos nesse sentido… ‘depende de si’, como eu costumo dizer”.
Para quem quiser acompanhar a aventura, Joaquim promete partilhas regulares e a ANEM divulgará materiais de cada etapa. Também lançou um apelo direto à comunidade para assistir ao arranque em Lousada e a seguir a evolução da iniciativa nas redes sociais.