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Resende
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Redução no número de eleitos reflete perda de população e incumprimento de promessas, diz Garcez Trindade

Presidente da Câmara de Resende critica incumprimento do Governo e diz-se desiludido com a política após perda de dois eleitos no executivo.

Redação

O presidente da Câmara Municipal de Resende, Garcez Trindade, afirmou estar “completamente desiludido e desinteressado” da política, após o Governo do Partido Socialista, do qual faz parte, não ter cumprido a promessa de construção de uma estrada considerada essencial para o desenvolvimento do concelho. A consequência, diz, é a contínua perda de população e, agora, a redução no número de eleitos no executivo camarário.

“Vou sair, porque já fiz os três mandatos, mas também não me candidataria. Até ao final do mandato vou cumprir com as minhas obrigações, mas não vou andar em campanha nem nada da política”, afirmou à agência Lusa.

O concelho de Resende, no distrito de Viseu, perdeu dois mandatos no executivo municipal, passando de sete para cinco vereadores, após o número de eleitores ter baixado de 10.106 para 9.637, conforme revelado pelo Jornal de Notícias esta sexta-feira, 27 de junho. Resende é um dos quatro concelhos afetados pela redução, a par de Alcácer do Sal, Amarante e Melgaço.

Falta de acessos e promessas não cumpridas

No centro da crítica de Garcez Trindade está a não concretização da prometida estrada entre Baião e a ponte da Ermida, uma ligação de cerca de sete quilómetros que facilitaria o acesso à A4 e poderia, segundo o autarca, mudar o rumo do concelho.

“A falta de acessos é o grande entrave ao desenvolvimento de Resende. O incumprimento desta promessa deixa-nos ainda mais isolados. Estamos completamente afastados das principais vias e, assim, é impossível atrair pessoas ou investimento”, lamentou.

O autarca considera que a redução no número de eleitos “é mais uma penalização para o concelho”, fruto direto do abandono por parte do Governo e da ausência de investimento em infraestruturas.

“Funciona tudo ao contrário. Resende não tem tido hipótese nenhuma de desenvolvimento. As vias de acesso são estreitas, e a que foi prometida... olhe!”, disse, visivelmente frustrado.

Uma única indústria e um futuro limitado

Com um tecido económico limitado, centrado na agricultura – especialmente na produção de cereja – e nos serviços, Garcez Trindade aponta a inexistência de infraestruturas rodoviárias adequadas como o maior bloqueio à diversificação da economia local.

“Temos uma única indústria, de engarrafamento de água, porque temos água na serra. Se não fosse isso, nem essa tínhamos. A estrada não permite que passem camiões e carros ao mesmo tempo. Assim, ninguém se instala aqui”, afirmou.

"Prometer e não cumprir é o pior que pode acontecer"

Em declarações anteriores, já em novembro de 2024, o autarca expressava um sentimento de abandono por parte do seu próprio partido. Agora, reforça a sua crítica ao incumprimento de promessas governamentais.

“O princípio de uma boa gestão política é a integridade. Se se promete, cumpre-se. Se não se pode cumprir, não se promete. Prometer com fins eleitoralistas e depois não cumprir é desprestigiante e o pior que pode acontecer a uma comunidade”, concluiu Garcez Trindade.

A desilusão do presidente da Câmara de Resende torna-se simbólica num momento em que muitos autarcas enfrentam os desafios do despovoamento, da descentralização sem meios e da falta de investimento em territórios do interior.