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Portugal
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José Luís Carneiro: O percurso do baionense que chega à liderança do PS com “honra e responsabilidade”

Natural de Baião e com uma longa carreira autárquica, José Luís Carneiro assume a liderança do PS aos 53 anos, tornando-se o décimo secretário-geral do partido numa fase de grandes desafios políticos.

Redação

José Luís Carneiro chegou este sábado, 28 de junho, à liderança do Partido Socialista, numa eleição interna sem opositores, carregando consigo um percurso profundamente enraizado no poder local e na vida política nacional. Natural de Baião, Carneiro é hoje um dos rostos mais reconhecidos da ala moderada do PS, com uma trajetória marcada pelo diálogo e pela valorização dos princípios democráticos.

Das raízes em Baião ao reconhecimento de Mário Soares

Foi em Baião que tudo começou. Licenciado em Relações Internacionais e com mestrado em Estudos Africanos, José Luís Carneiro entrou na vida política ainda jovem, tendo participado na elaboração do programa eleitoral à Câmara de Baião nos anos 90. Apesar de só se ter filiado no PS em 1997, após uma derrota nas autárquicas, a ligação ao partido e ao território sempre esteve presente.

Em 2005, assumiu a presidência da Câmara Municipal de Baião, cargo que exerceu durante uma década, até 2015, e onde consolidou uma reputação de proximidade e compromisso com o desenvolvimento regional. Esse trabalho mereceu o reconhecimento de Mário Soares, que, em 2012, prefaciou o seu livro “Práticas Políticas de Desenvolvimento”, elogiando o seu percurso e qualidades políticas.

Um percurso sólido no PS e no Governo

Ao longo das últimas duas décadas, José Luís Carneiro foi acumulando funções de responsabilidade dentro do partido e nos sucessivos governos socialistas. Entre 2012 e 2016 liderou a Federação Distrital do Porto do PS e foi presidente da Associação Nacional de Autarcas Socialistas.

A nível governamental, iniciou funções como adjunto de Carlos Zorrinho no Governo de António Guterres (1999-2000), foi secretário de Estado das Comunidades Portuguesas entre 2015 e 2019 e ministro da Administração Interna de 2022 até 2025.

Entre 2019 e 2022, já com António Costa como secretário-geral, desempenhou o cargo de secretário-geral adjunto do PS, consolidando o seu papel como uma figura de equilíbrio interno.

Candidato único e aposta no diálogo

A eleição de José Luís Carneiro como secretário-geral do PS surge menos de dois anos depois de ter perdido a liderança para Pedro Nuno Santos, numa disputa interna desencadeada pela demissão de António Costa na sequência da “Operação Influencer”.

Desta vez, apresentou-se como candidato único, com o lema “ouvir e dar voz às pessoas”. No seu discurso de vitória, destacou a “honra e responsabilidade” de liderar o PS, sublinhando a necessidade de “repensar o partido e a sua relação com o país”.

Apontado como um político de centro, Carneiro tem insistido na construção de consensos em áreas chave da soberania, como a reforma do sistema eleitoral, particularmente a nível autárquico. Defende um PS como “esteio dos valores de Abril”, aberto ao diálogo democrático e capaz de se afirmar como alternativa sólida no atual contexto político.

Herança difícil e novo ciclo

José Luís Carneiro herda um PS fragilizado após a derrota nas legislativas de março de 2025, que relegou o partido para a terceira força parlamentar, com apenas 58 deputados. Ainda assim, acredita que os “valores, ideias e propostas socialistas” têm condições para continuar a ser maioritárias no país.

Durante a última campanha legislativa, encabeçou novamente a lista por Braga, distrito onde contou com o apoio de Pedro Nuno Santos, com quem procurou manter uma relação institucional e respeitosa, apesar das diferenças.

Futuro com foco nas autárquicas

Com o olhar já voltado para as eleições autárquicas, o novo líder socialista procura afirmar-se como um agregador, disposto a ouvir o partido e o país. A decisão sobre as presidenciais, como afirmou, só será tomada depois das eleições locais.

Aos 53 anos, José Luís Carneiro assume a liderança do PS com um percurso de base autárquica, experiência governativa e visão estratégica para o futuro. Natural de Baião, leva consigo a marca da proximidade ao território e a ambição de relançar o Partido Socialista como força mobilizadora em tempos de exigência política e social.