Luís Mendonça, natural de Paredes, conquistou, aos 37 anos, o primeiro lugar no 3.º Grande Prémio de Ciclismo Douro Internacional após cinco dias "duríssimos".
"Foi uma prova muito importante e de enorme prestígio. São cinco dias de competição muito bem organizados que culminaram num pódio final de luxo que dita a importância desta prova e o desempenho dos atletas", afirma Luís Mendonça em entrevista ao Jornal A VERDADE.
O atleta confessa que durante os cinco dias vêm "vários tipos de pensamento. Se vamos com boas sensações vamos animados e a acreditar, mas nem sempre é assim, porque acontece muita coisa e existe sempre um dia mau". Esta prova não foi exceção e o vencedor partilha que "na 3.ª etapa tentei disfarçar ao máximo as dificuldades que estava a passar, porque não podemos mostrar essas fragilidades".

Apesar da exigência a nível físico, o atleta partilha que é "sobretudo o cansaço psicológico, porque é uma luta. Quando vamos mal tentamos dizer ao nosso corpo que não estamos assim tão mal, queremos acreditar que vamos bem, às vezes numa subida vejo a cara dos meus colegas e se eles estiveram 'mal' parece que as dores me passam porque eu não estou sozinho neste sofrimento".
Apesar do sucesso que tem alcançado nos últimos anos, Luís Mendonça conta que o início, mas sobretudo o regresso ao mundo do ciclismo foi "muito difícil".
Decidiu regressar ao ciclismo porque sentia que ainda tinha "uma palavra a dizer no mundo do desporto". Desde miúdo que era bastante "ativo" e apresentava uma "aptidão natural" para o exercício físico, nomeadamente, para esta modalidade. Ainda na escola, durante o 6.º ano foi destacado por uma professora que atribuiu, pela primeira vez, a nota cinco no primeiro período ao jovem promissor. Mais tarde, participou num BTT organizado pela escola, onde de calções de ganga conquistou o primeiro lugar com um avanço considerável.

O seu percurso no ciclismo iniciou a convite de um grupo de cicloturismo de Paços de Ferreira. Ainda jovem, durante o primeiro treino realizou uma subida de sete quilómetros que, mais uma vez, terminou com grande avanço. "O grupo tinha elementos que treinavam à bastante tempo e eu consegui ter um avanço grande, apesar de eles já terem bastantes quilómetros nas pernas. Foi mais um motivo de orgulho e incentivo". Assim, acabou por entrar nas camadas jovens de juniores e praticou a modalidade até ao sub-23, onde acabou por realizar uma paragem definitiva. O atleta paredense partilha que a fase dos 18 anos foi "difícil. Passei pela anorexia, tive uma quebra grande a nível físico, meti a minha saúde em risco. Pesava 48 quilos, é um peso absurdo, eu já estava numa depressão profunda, o raciocínio era quase nenhum e a energia vital era escassa".
Entretanto, acabou por ingressar na faculdade e, ao longo de vários anos, trabalhou como barman na noite e realizou desfiles de moda. Desgastado pelo trabalho noturno e após ver a conquista de Rui Costa nos Campeonatos do Mundo de 2013, sentiu que estava na altura de mudar de vida. Apesar de, na altura, já ter 27 anos pensou "porque não tentar o ciclismo de novo".
A verdade é que acabou por encontrar "todas as portas fechadas" em Portugal e viu-se obrigado a rumar até Espanha a "custo zero".

"Não vai dar em nada" ou "depois de velho quer ser ciclista" eram as frases que mais ouvia, porém, a persistência de Luís Mendonça venceu e aos 30 anos tornou-se atleta profissional.
O próprio Luís Mendonça admite que foi uma "loucura. Voltar com 27 anos do mundo da noite e com imenso músculo... Pensavam que queria regressar para o ciclismo como um capricho, mas agarrei-me a todas as expressões e disse 'vocês vão ver que vai dar certo' e é curioso que está mesmo a dar certo", destaca.
Assim, Luís Mendonça é a "prova viva" de que "apesar da idade conseguimos alcançar os nossos objetivos. Nunca é tarde para seguir sonho nenhum, eu próprio cheguei a duvidar de mim mas fui em frente, acho que inspirei muitos ciclistas".
De momento, Luís Mendonça divide o seu tempo entre Paredes, onde treina com os colegas, e Vila Nova de Famalicão, cidade em que vive com a sua esposa e filha. Dez anos depois de ter regressado ao ciclismo, o atleta espera alcançar "um desempenho ainda melhor" e está de "olhos postos" na Volta de Portugal.
