O habitual festival do Rancho Folclórico da Citânia de Sanfins ficou marcado por um momento profundamente emotivo: Sérgio Leal, 32 anos, pediu publicamente em casamento Diana Carvalheiro, 25 anos, que completa 26 esta semana, oferecendo assim a “prenda de aniversário” antecipada com que a noiva sempre sonhou.
A iniciativa não foi improvisada. “Duas semanas, mais ou menos”, explicou Sérgio sobre o tempo de preparação, adiantando que apenas quatro pessoas sabiam do segredo: “dois primos meus, uma amiga do rancho e o meu irmão”. O cenário não poderia ser mais simbólico: “Eu cresci lá no meio do rancho, aquilo é uma família para mim”, disse, justificando a opção por um pedido feito “em público para toda a gente ver”. Em tom de brincadeira, confidenciou ainda que a intenção era “envergonhá-la” — e conseguiu.
Diana Sofia não desconfiava de nada. “Não estava nada à espera”, admitiu, recordando a avalanche de sensações quando o noivo se ajoelhou: “Foi muita emoção e depois eu tremia que nem varas verdes; nem sabia o que dizer, nem em que dedo deveria estar a aliança.”
O rancho é ponto de encontro e casa comum. “Nós gostamos do rancho”, resume Sérgio. Diana não entrou por acaso: “Entrei no rancho por ele. Comecei a ganhar gosto… Depois engravidei e, quando o meu filho tinha quase nove meses, ele já gostava muito da música do rancho". "Sempre disse que ia acabar por entrar, porque também queria incluir o rancho na vida do meu filho. Gosto muito de fazer parte do rancho”, acrescentou.
O próximo passo, admite com humor, é “aprender a dançar”.
O pequeno Albano, de dois anos, acompanha os pais e já ‘entrou’ no espírito do rancho, como sublinhou orgulhoso o pai: “Já entrou, que é diferente.” O nome do menino é uma homenagem ao falecido pai de Sérgio, gesto que o casal descreve como carregado de significado.
O momento do pedido foi testemunhado por muitas centenas de pessoas. “Tinha muita gente… havia de ter mais de 600 pessoas à vontade”, estimou Diana. A reacção foi imediata e vibrante: gritos, aplausos e emoção a ecoarem no recinto. Mais tarde, ao reverem um vídeo do momento, perceberam a força do coro popular: “Ouvia-se as pessoas todas aos berros a gritar que me iam pedir em casamento”, contou Diana. Entre risos, Sérgio descreveu o estado de nervos da noiva: “Ela ficou mais vermelha do que uma caneca de vinho tinto” (disse em tom assumidamente brincalhão).
A própria Diana reconhece que o pedido a apanhou totalmente desprevenida: “Eu também falava muitas vezes sobre o casamento. Todos os dias, quase. Dizia: ‘tenho a minha mão muito vazia’. Achei que ele não ia fazer assim com tanta gente à volta. Fica uma lembrança que depois mais tarde já não se esquece.”
Antes disso, chegou a desconfiar que o pedido viria noutra ocasião: “Suspeitava quando foi o concerto do Tony Carreira... Depois passou o Tony e ele lá não conseguiu fazer o que queria e eu perdi um bocadinho a esperança.”
Juntos há cerca de cinco anos, Sérgio e Diana já vivem em família com o pequeno Albano. Para Diana, o casamento era “o passo que faltava”. A escolha de o tornar público, naquele palco e diante daquela comunidade, visa deixar uma memória que perdure: “Queria fazer uma coisa bonita”, resume Sérgio. “A ideia era mesmo deixar marca na memória da Sofia e ter uma lembrança para contar aos filhos mais tarde.”
Entre colegas, amigos e até no trabalho, as reações foram de surpresa e elogio: “Houve gente que me disse: afinal não tens só a parte brincalhão, também sabes ser romântico. Até o meu patrão disse: ‘quando fizeste o pedido já tinhas tudo… tinhas lá o padre, já tinhas toda a gente’.” No final, os mais próximos fizeram questão de dar os parabéns. Para Diana, “foi muito giro mesmo”.
Sérgio partilha ainda uma convicção: “Se formos a ver, agora a juventude só se junta, não se casa, não liga nada à igreja. Eu sempre quis casar pela igreja. O meu falecido pai dizia que quando morresse gostava de ver os filhos casados e eu queria fazer-lhe esse gosto de subir ao altar". "Acho que isto é um incentivo também para os mais novos: ter o objetivo de casar”, considerou.
No final dos agradecimentos, não esqueceu quem tornou tudo possível: “Queria agradecer ao rancho e à mulher por ter aceitado”, disse de forma descontraída.
Perguntado se já há data marcada, o noivo foi claro: “Não. Agora ainda tenho que estudar.” Mas, o mais difícil já está feito. “Agora só falta o resto”, atirou, bem-disposto.
Todos os anos, quando chegar o festival, o casal terá uma história para revisitar. Como sintetiza Diana, com um sorriso: “Quando chegar a data do festival, vou dizer: ‘foi neste dia que fui pedida em casamento’.”