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Países reúnem-se em Genebra para travar catástrofe global dos plásticos: um momento decisivo pela saúde do planeta

Evento entre 5 e 14 de agosto poderá definir futuro ambiental e mobilizar ações globais contra a poluição plástica.

Redação

Em agosto de 2025, Genebra torna-se palco de uma das mais importantes decisões ambientais do nosso tempo. De 5 a 14 de agosto, delegações de 170 países da ONU, incluindo Portugal, reúnem-se para negociar um acordo global vinculativo sobre os plásticos, com o objetivo de travar a sua produção descontrolada e proteger a saúde humana e o planeta.

Este encontro, oficialmente designado como segunda parte da quinta sessão do Comité de Negociação Intergovernamental das Nações Unidas (INC-5.2), representa uma oportunidade histórica para reverter uma catástrofe que já está em marcha.

A urgência de agir: estamos a sufocar em plástico

Vivemos uma era em que o plástico se tornou omnipresente. Todos os anos, 12 milhões de toneladas de resíduos plásticos são arrastadas para os oceanos, criando verdadeiras ilhas de lixo flutuante que matam 100 mil animais marinhos anualmente. Mas o impacto não se limita à biodiversidade: microplásticos e nanoplásticos já foram detetados no corpo humano, revelando uma crise silenciosa de saúde pública.

Segundo a ONU, 17 milhões de barris de petróleo são consumidos anualmente para a produção de plástico, num ciclo vicioso que liga poluição, consumo de recursos fósseis e alterações climáticas. Um milhão de garrafas de plástico são compradas por minuto, e 500 mil milhões de sacos são usados por ano — muitos com uma vida útil de minutos e um impacto ambiental de séculos.

Portugal com voz ativa em defesa de um tratado ambicioso

A delegação portuguesa participa integrada no bloco da União Europeia, e está representada por vozes influentes como Patrícia Carvalho, coordenadora do Pacto Português para os Plásticos, e Paula Sobral, bióloga e presidente da Associação Portuguesa do Lixo Marinho. Ambas defendem a necessidade de um acordo com metas vinculativas e abrangência total do ciclo de vida do plástico, desde a sua produção até ao destino final.

“Temos uma expectativa muito grande. Esta é uma oportunidade única de procurar soluções coletivas”, sublinha Patrícia Carvalho. Para Paula Sobral, é essencial que os países enfrentem o poder do lobby da indústria química e incluam no tratado os efeitos nocivos dos aditivos tóxicos nos ecossistemas e na saúde humana.

Um momento decisivo: é agora que se escreve o futuro

As próximas decisões em Genebra não são apenas técnicas ou diplomáticas — são profundamente morais e civilizacionais. Continuar a permitir a produção desenfreada de plástico, sem regras claras e metas obrigatórias, é aceitar o envenenamento progressivo do nosso planeta e das futuras gerações.

“Há já um stock gigantesco de plásticos no mundo. Temos de parar de produzir mais do que conseguimos reutilizar, dar uso aos materiais existentes, incorporar plásticos reciclados e eliminar substâncias perigosas”, apela o Pacto Português para os Plásticos.

É por isso que mais de 60 cientistas internacionais lançaram um apelo direto aos governos, exigindo a eliminação progressiva de aditivos tóxicos e medidas exequíveis e corajosas para reduzir a produção global de plásticos.

O que está em jogo?

  • A saúde das pessoas: microplásticos já foram encontrados em órgãos humanos, no sangue, na placenta e no leite materno.

  • A sobrevivência dos oceanos: os plásticos ameaçam o equilíbrio dos ecossistemas marinhos e a cadeia alimentar.

  • A justiça intergeracional: o que não for feito hoje será cobrado pelas gerações futuras.

  • A equidade global: muitos países em desenvolvimento estão entre os mais afetados, sem capacidade para gerir os resíduos importados do Norte Global.