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Lousada
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Lousada: Miguel dos Santos: “Para mim, a música é tudo”

Aos 30 anos, o trompetista de Santa Margarida (Lousada) vive entre palcos, ensaios, formações e estrada. Um percurso marcado por versatilidade, dedicação e paixão inabalável pela música.

Redação

Miguel dos Santos é o rosto da entrega total à música. Natural de Santa Margarida, no concelho de Lousada, é um nome bem conhecido entre quem circula no meio musical. Aos 30 anos, Miguel reparte-se entre múltiplos projetos musicais e continua a investir na sua formação com uma paixão que, como ele próprio diz, "lhe corre no sangue".  

Formado no Conservatório do Vale do Sousa, onde começou por aprender trompete – instrumento que escolheu desde cedo, com influência do padrinho, trompetista da Banda Sinfónica da GNR – Miguel traçou um percurso consistente, feito de persistência e de escolhas ponderadas. Antes do Conservatório, passou ainda pela Academia, e hoje continua a estudar, agora na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo (ESMAE), no curso de Trompete Jazz.  

Para mim, a música é tudo. É a vida, é o divertimento, é a felicidade”, afirma. E isso vê-se no seu quotidiano intensamente preenchido, onde raramente há tempo para descanso. “Duas, três horas de sono por dia”, confessa, sem lamentos. “É complicado, muitas viagens, muitas horas, mas é mesmo por gosto”

Um músico versátil

Versatilidade é, talvez, a palavra que melhor define Miguel dos Santos. Integra a banda Cláudia Martins & Minhotos Marotos, faz parte da Jazz Ensemble do Norte – onde toca com a Big Band – e participa ocasionalmente no projeto Sambinha do Zé, tendo colaborado na gravação do último DVD. Além disso, mantém-se ativo na banda Fulano-X, vocacionada para eventos privados, e continua a integrar a Banda Filarmónica de Lousada.  

Ao mesmo tempo, Miguel é militar e músico na Banda do Exército – destacamento do Porto. “Na banda do Exército, há sempre coisas novas, concertos com artistas fora do meio militar, o que também traz diversidade e desafios interessantes”.

Apesar de ter oportunidades para tocar no estrangeiro – sobretudo com Cláudia Martins, muito presente nas comunidades emigrantes – a sua vinculação ao Exército limita essas possibilidades. Ainda assim, não descarta nada para o futuro. “Neste momento estou num novo contrato especial, com 14 anos no total. Quero tentar entrar nos quadros permanentes, mas se isso acontecer, já não escolho onde fico colocado”

Um caminho de esforço e paixão

Questionado sobre se seria possível viver apenas da música em Portugal, Miguel responde com realismo: “É complicado. Consegue-se, mas é preciso tocar em muita coisa, ser músico freelancer. Não dá para viver apenas de um único projeto”.

A agenda apertada, entre atuações, ensaios e formação contínua, é gerida com disciplina e paixão. “A música exige muito. Para seguir este caminho, é preciso mesmo querer. Vai haver sempre quem diga que não se consegue, que não há futuro, mas se for isso que o coração quer, então há que seguir”.

Sobre o futuro, prefere manter os pés assentes na terra. Gosta de samba, sonha aprender cavaquinho ou percussão brasileira, mas por agora mantém-se fiel ao trompete – instrumento que elegeu e que o acompanha desde sempre.

Um conselho a quem começa

Aos mais novos, que agora dão os primeiros passos na música, deixa um conselho direto: “Estudar muito. Ouvir muita música. E seguir o coração”. Reconhece que não há lugar para todos, mas também lembra que nunca houve tantas escolas, tantas formas de aprender e evoluir. “Há excelentes músicos que tiveram de emigrar para ter uma oportunidade. Isso é triste, mas é a realidade do nosso país”.

Com humildade, trabalho árduo e uma paixão inabalável pela arte de tocar, Miguel dos Santos é, sem dúvida, um exemplo de como se pode ser músico em Portugal — mesmo que, por vezes, isso exija dormir apenas três horas por noite.