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Marco de Canaveses
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Família brasileira reencontra raízes e cria tradições após oito anos em Portugal

Quando chegou a Alpendorada, em abril de 2018, Luciana Luna Barros não imaginava que o primeiro ano em Portugal seria tão desafiador.

Redação

 Do Rio de Janeiro com o marido, Juliano, e os três filhos, Cadu, Valentina e Isabela, além das suas mascotes, a família aterrava no Norte do país com esperança e algum receio. “Mesmo vindo com algumas bases financeiras, foi muito difícil. A gente passa por situações que não imagina”, recorda.

A opção por Alpendorada não foi aleatória: a família conhecia, no Brasil, um casal ligado à família Neves, natural da região. Essa ponte foi fundamental. “Foi o Sr. Augusto Neves quem ajudou com tudo: arrendamento da casa, compra do carro, documentos... Sem alguém para orientar teria sido muito mais complicado”, admite Luciana.

Natal com sabor do Brasil

Apesar das mudanças, dentro de casa as tradições brasileiras continuam vivas, sobretudo no Natal. “A gente mantém tudo. Sempre foi assim no Brasil e continuou aqui”, conta.

As mesas de consoada da família, porém, tiveram de se adaptar. No Rio, o habitual era o Chester, ave criada no Brasil como alternativa mais suculenta ao peru. Como não existia nos supermercados portugueses, a solução foi improvisar: “Comprávamos um frango maior e fazíamos assado. Sempre com salada russa que lá chamamos de salada de maionese e farofa, que não pode faltar.”

Do Brasil também veio o hábito de preparar sobremesas em travessas: pudim, pavê e outras receitas pensadas para muitas pessoas. “É mais prático, porque normalmente tem sempre mais gente à mesa.”

Houve anos de receitas especiais, como a torta de bacalhau que Luciana costumava preparar quando o marido recebia o peixe no cabaz de Natal da polícia no Brasil. Houve até um Natal com churrasco feito na lareira: “Brasileiro faz churrasco para tudo”, ri-se.

Se o frio não incomoda no Natal, no Ano Novo a história é outra. Luciana admite sentir saudade da tradição carioca de celebrar a virada do ano na praia: “Aqui é muito frio. No Rio a gente ia pular as ondas. E também é estranho passar a meia-noite de roupa escura, algo que lá ninguém usava.”

Uma rede afetiva longe de casa

Ao longo dos anos, a família construiu laços em Portugal, principalmente com outros brasileiros. As celebrações passaram a incluir amigos próximos para que ninguém ficasse sozinho. “O que não pode faltar é estarmos juntos. A gente junta quem está aqui e faz a festa.”

A chegada de outros familiares também reforçou essa rede. A cunhada, Natália, o marido, e a sogra de Luciana mudaram-se para Portugal cerca de um ano e meio depois. Desde então, as três famílias passam sempre o Natal juntas.

E há uma tradição que nunca falha: o amigo secreto. “No Brasil era sempre assim, até com chinelo Havaianas. Aqui mudamos: chocolate, meias, com um valor estipulado. Só compramos presentes para as crianças. Para os adultos é sempre amigo secreto.”

Conselhos para novos imigrantes

Com oito anos de experiência, Luciana deixa um recado para quem pensa em emigrar para Portugal: “Venha com estrutura financeira. E venha informado.”

Ela reforça a importância de pesquisar sobre documentação e legislação antes de chegar, além de procurar algum ponto de apoio no país de destino. “Não dá para vir no escuro contando com a ajuda de quem você não conhece.”

E acrescenta um lembrete essencial sobre a convivência: “Dentro de casa a gente mantém as nossas tradições. Mas na rua, no trabalho, precisamos respeitar que estamos noutro país. É aprender a conviver.”

Entre adaptações, saudades e novas raízes, Luciana e a família construíram em Portugal uma vida onde Brasil e Portugal caminham lado a lado: um Natal mais frio, mas tão afetivo quanto o de casa.