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Marco de Canaveses
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Peregrinos de Esperança: A história de três amigos que viveram o Jubileu dos Jovens em Roma

Milhares de jovens reuniram-se em Roma para participar no Jubileu dos Jovens, um evento que se realiza apenas de 25 em 25 anos e no qual Filipe Couto, Eduarda e Georgina Costa estavam determinados a marcar presença.

Redação

Um dos momentos mais marcantes do “Ano Santo”, ou seja, o Ano Jubilar do calendário da Igreja Católica, a cidade de Roma acolheu entre os dias 28 de julho e 3 de agosto jovens de todo o mundo que se reuniram para celebrar a fé.

“Para quem realmente pratica a fé católica, o jubileu é um momento muito esperado, já que só acontece de 25 em 25 anos e, portanto, é uma ocasião única (no jubileu de 2000 não era nascido, no jubileu de 2050 já não serei jovem)”, explicou logo Filipe. Com isto em mente, o jubileu é mesmo uma oportunidade única e estes três amigos da freguesia de Alpendorada, Várzea e Torrão não o iam deixar passar ao lado.

“Desde que o Papa Francisco anunciou, nas jornadas de 2023, o Jubileu, soube logo que queria participar”, realçou Georgina. E a irmã, Eduarda, concordou logo: “Quando soube da realização do Jubileu dos Jovens senti uma vontade enorme de participar. Não apenas pelo desejo de viver um momento profundamente espiritual, mas também pela oportunidade de estar rodeada de jovens de todo o mundo”.

“O ano jubilar tem um significado especial para todos os cristãos”, conta Filipe. “É um ano de reflexão, de reconciliação, de perdão e de recomeço, em que, pela passagem das quatro portas santas, abertas exclusivamente em ano jubilar, e pelo ato da confissão, é então atribuído o perdão a quem cumpre estes cinco momentos”.

Partir em peregrinação para Roma não é apenas umas férias ou um passeio de grupo para quem participou neste Jubileu e, como diz Georgina: “A fé foi, sem dúvida, central para participar nesta experiência, mas viver experiências diferentes é algo que também motiva qualquer jovem”. Filipe concorda com as duas irmãs e completa: “A motivação central desta peregrinação é e tem de ser, sem dúvida, a nossa fé. É uma ocasião única para renovar e fortalecer a nossa fé”.

Conhecer novos países e culturas vai fazer sempre parte da motivação para participar no jubileu, e o jovem marcoense encarou esta peregrinação como: “A oportunidade de criar memórias que vão ficar guardadas para sempre, eternizadas em fotos que nos vão trazer a boa sensação de que realmente vivemos e aproveitamos a nossa juventude”. E aproveitar a juventude é o que estes três amigos têm feito, visto que: “Também já tínhamos participado nas Jornadas Mundiais da Juventude em Lisboa”. Eduarda lembra-se bem dessa primeira experiência e diz mesmo: “Essa vivência anterior ajudou-me bastante na preparação para o Jubileu, pois já tinha noção do que era realmente necessário levar”.

A preparação para o Jubileu

Já com alguma experiência neste tipo de viagens e encontros, o trio admite que “apesar de serem experiências parecidas, foi muito diferente: outra cidade, outras pessoas, e nós próprios também mudámos desde então”, frisa Georgina.

De facto, celebrar o jubileu em Roma implica muita preparação e logística com “muita antecedência”. A compra de bilhetes, a inscrição no próprio jubileu e a aquisição do kit de peregrino, que contemplava a alimentação, estadia e transportes, tiveram de ser feitas já no ano passado. E as preparações não se ficaram por aí, como recorda Filipe: “Como se trata de uma viagem cara, o grupo de jovens da Luz Jubilar realizou algumas atividades para angariarmos dinheiro para que ficasse mais acessível a nossa ida a Roma”. Desde o cantar das janeiras, venda de rifas e sessões de cinema, os jovens determinados a ir ao jubileu foram angariando dinheiro enquanto partilhavam “momentos de diversão e risota”.

E ainda na semana que antecedeu a viagem, a diocese lançou a todos os jovens um “desafio simbólico e muito significativo”, relembra Eduarda: “Escolher uma pessoa em dificuldade a quem entregamos uma pulseira, como sinal de um compromisso mútuo de oração. Nós rezamos por essa pessoa em Roma, e ela rezaria por nós”.

A viagem e o espírito de peregrinação

Bilhetes e estadia pagos, agora só faltava a estes peregrinos saber onde iam pernoitar enquanto estavam em Roma. “Algum tempo antes de partirmos soubemos que íamos dormir na Fiera de Roma, um conjunto de vários pavilhões gigantes que acomodavam muitas pessoas”, desvendou Georgina.

O próximo desafio seria então organizar a mala para esta viagem e, em verdadeiro espírito de peregrinação, esta seria: “Uma viagem vivida na humildade e na simplicidade”, disse Eduarda. A estadia seria de nove dias e gerir a mochila de viagem foi, por si só, “uma boa e grande aventura”. Tendo em conta a viagem de avião, o alojamento e o facto de que ia ser preciso caminhar alguns quilómetros com a bagagem às costas, o trio teve de pensar bem em como ia fazer as malas.

“É realmente preciso muita organização e esperança, esperar que nada que tivesse ficado para trás nos fizesse falta e que as companhias não implicassem com a bagagem, o lema ‘peregrinos de esperança’ não foi à toa”, comentou Filipe entre risos. No final, o prognóstico seria o mesmo para os três: roupas leves e práticas, um colchão e uma mochila de campismo com mais alguns bens essenciais. A viagem de avião, “com escala de muitas horas”, foi cansativa, mas Georgina garante que todos os jovens estavam “preparados para começar a nossa aventura”.

Filipe é um bom exemplo deste mesmo entusiasmo por partir à aventura, visto que: “Ir a Itália era um grande sonho meu desde miúdo e só de estar no aeroporto a ver e ouvir italiano foi logo um momento especial e o sentimento de um sonho realizado”. Desde este primeiro instante que o jovem marcoense sentiu no ar “uma energia especial: uma mistura de alegria e fé”, mas esta jornada ainda agora estava a começar.

Desafios e resiliência

Quando chegaram ao pavilhão onde iam ficar, o primeiro banho foi logo “de água muito gelada”, um pequeno presságio do que este trio ia enfrentar nos dias seguintes. “Os primeiros dias pareciam de acolhimento a refugiados, num pavilhão que se ia enchendo, com bichos que teimavam em picar, deixando mazelas para toda a semana, filas longas para as casas de banho (que nunca foram limpas) e noites mal dormidas devido ao barulho”, conta Eduarda.

O cenário não parecia ser o melhor, mas não demorou muito para tudo ir melhorando aos poucos através da “resiliência, amizade e união do grupo que foram suavizando todas as coisas menos boas”. E no final de cada dia, todo o grupo sentia: “Uma enorme felicidade e gratidão por estarmos ali e todos concordamos que, se soubéssemos de antemão tudo aquilo que de negativo surgiu e vivemos, repetiríamos tudo com a mesma convicção”.

Experiências e descobertas em Roma

Durante o Jubileu, foram vividos “momentos inesquecíveis”, descreve Georgina. Entre momentos de oração e o cumprimento do programa religioso, todos os jovens tiveram ainda a oportunidade de ver ao vivo o novo Papa Leão XIV e de visitar “o nosso querido Papa Francisco”, acrescentou.

Além disso, o trio conseguiu explorar Roma, bem como as quatro basílicas das Portas Santas de Roma: São Pedro, Santa Maria Maior, São João de Latrão e São Paulo Extramuros, o Vaticano, a Capela Sistina, o Coliseu e a Fontana di Trevi. “Vimos muito, ir a Roma em ano jubilar não significa passar o dia todo em oração nem ir todos os dias à missa”, salientou Filipe. A parte religiosa esteve sempre presente na mente destes peregrinos de esperança, um nome que significa para eles: “Caminhar, conhecer, estar perto, falar, ajudar. E foi o que procurámos fazer estes dias em Roma”.

O ambiente em Roma foi de “fé, reflexão, autodescoberta, aventura, animação e espírito de união muito especial”, diz Georgina. Sentindo-se como “verdadeiros peregrinos de fé”, estes três amigos ficam marcados pelo sentido literal das caminhadas ao calor que fizeram durante esta jornada. “Foi a nossa fé que nos permitiu caminhar apesar de todo o cansaço, o calor extremo, as longas filas e os demais constrangimentos que sentimos”, adianta Eduarda.

“Nestes dias não caminhámos só pelas ruas de uma cidade, mas por um caminho espiritual. Atrevo-me a dizer que esta foi, sem dúvida, uma das experiências mais enriquecedoras e marcantes da minha vida”, acrescentou Filipe.

O significado e as memórias que ficam

O ponto alto desta jornada foi, para muitos, ver o “novo Papa Leão pela primeira vez e também um momento que nunca vou esquecer: a vigília em Tor Vergata, onde testemunhámos a fé de milhões de jovens”, começou por contar Georgina.

Filipe concorda com a amiga e frisa: “O que mais me marcou foi o comovente silêncio de mais de um milhão de jovens em adoração. Foi uma sensação indescritível, perceber e ver tanta gente naquele recinto, todos com um único propósito na presença do Papa, é simplesmente maravilhoso”.

Georgina resume este Jubileu dos Jovens apenas numa palavra: amizade. “Amizades que renasceram, amizades que foram criadas e amizades que foram aprofundadas. Consigo rever as palavras do Papa Leão em tudo o que vivi durante aqueles nove dias, especialmente quando ele recordou que Santo Agostinho, depois de uma juventude turbulenta, descobriu que «nenhuma amizade é fiel senão em Cristo» e que «ama verdadeiramente o seu amigo aquele que no seu amigo ama a Deus». Senti isso em cada gesto, cada conversa e cada partilha que tive: a amizade com Cristo é o alicerce que torna qualquer relação sincera, generosa e verdadeira”.

Dias depois do jubileu, as emoções e memórias continuam bem presentes em cada um destes jovens, que recomendam a todos experienciar estes momentos, enquanto reforçam a importância destes momentos coletivos de fé para a Igreja.

“A Igreja deve continuar a promover atividades e eventos para continuar a atrair mais jovens, só quem já participou de algum evento desta dimensão percebe o quão bom é”, salienta Filipe.

Por fim, este trio de amigos não esquece aqueles que os acompanharam durante toda esta jornada: “Resta-me agradecer a todos os que peregrinaram comigo, em especial aos 18 membros do nosso grupo, às nossas paróquias, ao Padre Cláudio, que infelizmente não conseguiu acompanhar-nos, e a todos aqueles que ajudaram a tornar esta viagem possível. Aguardo ansiosamente pela JMJ em Seoul, porque agora, mais do que nunca, sou uma Peregrina de Esperança”, concluiu Eduarda.