logo-a-verdade.svg
Celorico de Basto
Leitura: 2 min

Vill’aromática destaca flora local e desafios ambientais em Celorico de Basto

Celorico de Basto recebeu, de 16 a 18 de maio, a 3.ª edição da Festa das Plantas Aromáticas e Medicinais – Vill’aromática, iniciativa que visa valorizar a flora local e promover o conhecimento sobre o seu uso sustentável.

Redação

O evento decorreu principalmente na Casa da Terra e na Praça Albino Alves Pereira, com o Mercado Aromas e Sabores e um espaço permanente de aromaterapia, mas incluiu também atividades em vários pontos estratégicos do concelho.

Reconhecidas figuras do meio botânico e ambiental marcaram presença, como a herbalista Fernanda Botelho, Alice Montanha e o engenheiro Paulo Bessa, do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). Para o presidente da Câmara Municipal de Celorico de Basto, José Peixoto Lima, “a importância de termos pessoas que se destacam na matéria a nível nacional e internacional acrescenta valor ao evento e dá-nos a certeza das potencialidades reais do território quando falamos em ervas aromáticas e medicinais”.

Durante três dias, o público pôde participar em diversas atividades, entre elas aulas andantes com Fernanda Botelho, uma oficina de kit herbal com Alice Montanha, uma sessão de culinária silvestre com a chef Maria Tavares, e a oficina infantil “Lanterna Aromas da Primavera”. As iniciativas abrangeram diferentes faixas etárias e áreas de interesse, destacando a ligação entre saúde, alimentação e natureza.

As II Jornadas para a Valorização do Território – Paisagens de Celorico constituíram um dos momentos mais participados do evento. Numa das intervenções, Fernanda Botelho reforçou a importância da literacia botânica: “Conhecer as plantas, os seus benefícios, usos e potencialidades deve ser algo comum”. A herbalista destacou ainda a necessidade de recorrer a fontes digitais fidedignas e lamentou o distanciamento da população em relação ao conhecimento natural.

No âmbito das jornadas, o ICNF alertou para os impactos crescentes dos incêndios rurais nos ecossistemas, agravados pelas alterações climáticas, pelo abandono do território e pela proliferação de espécies invasoras. “Os incêndios têm mudado de perfil, exigindo novas formas de atuação e de sensibilização”, afirmou o engenheiro Paulo Bessa.

O presidente José Peixoto Lima reconheceu os desafios: “95% da nossa floresta é privada e muito fragmentada. A gestão e limpeza tornam-se difíceis quando os proprietários não são recetivos à criação de Zonas de Intervenção Florestal (ZIFs), e muitas vezes nem conseguimos identificar os donos de determinados terrenos”. Sublinhou também os esforços do município: “Temos planos para a gestão da floresta e combate aos incêndios, criámos caminhos florestais e acessos a pontos de água. Mas 2024 foi um ano negro e fenómenos extremos serão cada vez mais frequentes. Precisamos de um ordenamento florestal mais eficiente e partilhado por todos”.

Numa abordagem alternativa, Alice e André Montanha propuseram uma nova perspetiva sobre as plantas invasoras. “Devemos olhar para estas espécies como aliadas e não inimigas. É preciso adaptar-nos ao que a natureza nos dá, saber cuidar da terra como cuidamos de nós”, afirmou Alice Montanha, apelando a uma visão regeneradora do território.

O programa incluiu ainda oficinas de ilustração, atividades pedagógicas promovidas pela Resinorte e animação cultural com grupos locais, como o Grupo de Cavaquinhos da Escola Profissional Agrícola Eng. Silva Nunes, os Trigueirinha e o Coletivo Capela.

A Vill’aromática terminou com um balanço positivo, reforçando a importância do conhecimento sobre a flora local como fator de valorização individual e colectiva, bem como instrumento essencial para a sustentabilidade e a preservação do território.