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Penafiel
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“Quando se tem uma paixão, o que interessa não é só gostar do que se faz", Daniel Moreira é vocalista dos In We Fall

Crescer rodeado das influências do Rock e do Grunge “foi uma sorte”, confessa Daniel Moreira, impulsionador da banda In We Fall (IWF), um grupo que deambula entre elementos de metal alternativo, metal progressivo e grunge.

Redação

E foram esses mesmos géneros que marcaram grande parte da infância e vida do agora técnico de som, produtor e músico de Penafiel. “A minha mãe tinha este gosto musical fantástico e desde pequeno que ouvia estes géneros por influência dela e dos meus irmãos que também ouviam bastante música, a deles um bocadinho mais pesada”, recorda com alegria o vocalista dos In We Fall.

Numa casa onde Led Zeppelin e The Doors eram a banda sonora da mãe e “o despertar do grunge” era a onda dos irmãos, Daniel estava quase destinado “a adorar ouvir e tocar música desde miúdo”.

A paixão pela música e o desafio de aprender sozinho

Motivado pelas influências da família e por uma “grande paixão pela música”, não demorou muito até Daniel tentar começar a aprender a tocar guitarra. “Na altura foi um esforço muito grande por não ter alguém para me ensinar”, revelou o guitarrista.

Frequentar uma academia ou aprender com um professor não eram opções e por isso o jovem entusiasta do rock teve de: “Dedicar bastantes horas para conseguir aprender a tocar de forma autodidata”.

Aprender por conta própria “foi um desafio”, mas o músico não se arrepende de ter embarcado nesta jornada de autoaprendizagem até porque: “Nos dias de hoje continuo a fazer o mesmo, a aprender constantemente por mim próprio. Neste mundo nunca paramos de aprender”. Completamente determinado a fazer parte do mundo da música, Daniel Moreira, quando questionado sobre o porquê desta paixão, o guitarrista simplesmente responde: “É uma paixão e quando encontramos algo que nos mova devemos ir atrás dela”.

Os primeiros passos musicais e o reencontro com os colegas de banda

Os primeiros passos da jornada musical de Daniel Moreira continuam bem presentes nas memórias do vocalista que: “Curiosamente, foi formado com o atual baterista dos In We Fall, o Frederico Lopes”, revela. Criando o primeiro projeto musical aos 13 anos com a ajuda do amigo, os dois rapazes criaram uma banda que durou “enquanto morei em Vila Real, até aos meus 16/17 anos”, salienta o guitarrista.

A mudança de Daniel para Penafiel acabaria por afastar um pouco este duo do seu primeiro projeto, mas este não marcaria o fim da ligação dos dois como amigos ou à música. “Acabei por estar sempre ligado a outros projetos”, comenta Daniel, “mas como é muito comum acabaram por não cravar e dei por mim a fazer sozinho os meus próprios temas que fui guardando na gaveta”.

O nascimento dos In We Fall

A vida foi tomando o seu curso até que, em finais de 2022, Carlos Carneiro, o atual guitarrista dos IWF, começaria a conversar com Frederico Lopes, o baterista, sobre criar um novo projeto de raiz. “No meio dessa conversa o Frederico comentou com o Carlos: ‘Olha, acho que tenho aqui um vocalista e guitarrista que é capaz de alinhar no projeto’”, acrescenta Daniel.

De conversa entre conhecidos, para discussões para a criação do projeto, ainda se juntaria a este trio Luís Almeida, o baixista, para completar o grupo que desde o início: “se desenrolou de forma fluida”.

Os quatro músicos portugueses formaram então o projeto In We Fall, uma banda associada “ao movimento metal”, um “mercado difícil” para assumir em Portugal.

As dificuldades do mercado musical em Portugal

“Não vivemos com atitudes ou ideias de ser RockStars. Somos bastante terra a terra e estamos cientes das dificuldades de criar um projeto como o nosso aqui em Portugal”, salienta o vocalista.

O primeiro entrave para as bandas como os In We Fall apresenta-se logo “na falta de um espaço para promover estes projetos. São poucos os palcos para este género musical”, diz Daniel. E na falta de palcos onde tocar, a banda vê sucesso nas plataformas online, “onde temos muitos ouvintes fora do país como os EUA, no Reino Unido e até em Espanha”.

No entanto, Daniel recorda a actuação dos IWF no Ponto C de Penafiel, onde os quatro membros viveram: “Um concerto espectacular”. Em contraste com outros palcos e espaços, foi neste centro cultural que a banda “foi muito bem recebida e sentimo-nos bem por lá estar a tocar, como disse no concerto, em minha casa”.

Cantar em inglês, pensar em português

As portas “demoram sempre mais a abrir no nosso país” e este facto também contribuiu para a decisão da banda de cantar em inglês. “Um dos nossos objectivos passa por poder tocar lá fora. Em princípio, já temos aí datas agendadas para poder começar a fazer isso ainda este ano”, avança o guitarrista.

Cantar em inglês é, para Daniel Moreira, “algo indiferente”, o vocalista reconhece as vantagens de o fazer mas também frisa: “Não interessa o idioma, o nosso projeto continua a ser português e devia ser valorizado como tal”. Olhando para o panorama musical actual do país, Daniel lamenta que as bandas que cantam em inglês não recebam tanto destaque, mas no fundo: “O que nos interessa é passar uma mensagem ao ouvinte e passar a nossa energia através da música”.

E são os fãs deste género musical que sentem essa mesma energia e que “nos têm recebido óptimamente e elogiado bastante o projeto”, conta Daniel com orgulho.

Uma mensagem para quem sonha com a música

Por fim, o vocalista dos In We Fall deixou uma mensagem inspiradora dirigida a todos os que sonham com um percurso na música. “Eu posso dizer que sou um bocadinho o caso disso”, afirmou, referindo-se ao receio de se expor artisticamente. “Passei muitos anos sem acabar por fazer nada e mostrar nenhum produto porque sempre achei que não tinha aquele perfil para me expor em demasia.”

No entanto, destacou a importância de ultrapassar esse medo e avançar: “A única coisa que eu posso dizer é para as pessoas não terem mesmo medo de acreditar nelas mesmas e criarem um projeto.”Para Daniel, não basta ter paixão: é essencial partilhar. “Não façam disso um projeto de garagem. Toquem, toquem de vez em quando. E se as coisas tiverem que surgir, surgem. Se não tiverem que surgir, não surgem. Mas ao menos não há o arrependimento de não ter feito isso.”

E concluiu com convicção: “Quando se tem uma paixão, o que interessa também não é só gostar do que se faz, mas mostrar a outras pessoas também faz parte. É igualmente importante.”