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Cinfães
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Pedro Silva tem 19 anos e é criador de cabras e ovelhas em Cinfães

A poucos metros do palco principal da ExpoMontemuro, em Cinfães, numa zona criada para o efeito, entre o vaivém dos visitantes e o burburinho dos expositores, encontrámos Pedro Silva, de 19 anos, natural de Sanfins, Santiago de Piães, jovem criador de cabras e ovelhas. Um caso raro entre os da sua geração.

Redação

“É um bocado difícil, porque falo por mim... Sentimo-nos um bocado abandonados pela parte do Estado. Em certas alturas, o Estado não nos dá o reconhecimento que às vezes deveria dar, e é uma vida um bocado dura, porque não há feriados, não há domingos, não há nada. Isto é 365 sobre 365 dias.”

Pedro está dedicado a tempo inteiro à criação. Herdou o gosto pelo mundo rural, ainda que tenha escolhido um caminho próprio:

“Foi de família por parte de gosto, não a criação de cabras e ovelhas, os meus avós eram de vacas, mas gosto das cabras e das ovelhas, e é o que eu trato.”

Neste momento, tem 20 animais em exploração, mas já chegou a ter 50 reprodutoras e entre 70 a 80 borregos.

Apesar da idade, fala com maturidade sobre as dificuldades da atividade:

“Gosto bastante do que faço. Aconselhava mais os jovens da minha idade, só que também os entendo porque o nosso Governo não nos apoia. Estes animais dão muita despesa durante todo o ano, é uma despesa constante. Temos que fazer umas contas muito bem feitas para poder dar, porque também temos que tirar o nosso dinheiro para podermos sobreviver, pagar luz e tudo mais, e comida.”

Rotina de esforço, entre o monte e a loja

O dia de trabalho começa cedo e varia consoante a estação do ano:

“Temos a rotina de verão e temos a rotina de inverno. Na rotina de inverno, levantamo-nos por volta das 07h00, 07h15, para empalhar os animais de manhã, antes de os ir tirar das lojas para o monte. [...] A rotina de verão é totalmente diferente: às cinco da manhã, 5h15, os animais já estão a sair para o pasto. [...] Andam até às 22h30, até chegarem à loja às 23h00. E depois é que nos recolhemos.”

No meio da rotina diária, não falta o cuidado e a dedicação, visíveis também na forma como preparou os animais para a feira:

“Principalmente de inverno, os animais apanham mais chuvas, o tratamento dos animais é totalmente diferente. Temos que ter vacinas em dia, porque senão os animais não se aguentam.”

Este ano, trouxe à ExpoMontemuro quatro cabras e dez ovelhas, devidamente preparadas e cuidadas. A atenção aos detalhes nota-se, até nos nomes:

“Sei distingui-las todas. Quando vêm do monte ou saem para o monte sei distingui-las todas, não fica nenhuma para trás. As mais ‘chegadiças’ têm nome.”

Um gosto raro entre os jovens

Pedro reconhece que o seu percurso desperta surpresa entre os amigos:

“Acham estranho porque isto não lhes diz nada. Eles perguntam várias vezes: ‘Pedro, mas como é que tu consegues andar com elas, perder o teu tempo?’ E eu digo-lhes: é uma coisa de gostar, conforme vocês gostam de jogar futebol, eu gosto disto. Vocês têm amor à vossa camisola, e a minha camisola é esta.”

Além da paixão, há pragmatismo. O objetivo é a comercialização de carne:

“Não tiramos leite. Vendemos ou para talhos e os talhos levam aos matadores ou vice-versa. [...] O nosso produto fica todo na região. Derivado à pouca produção, o produto fica todo na região e escoa rápido.”

Mas manter a atividade não é barato, e o custo da alimentação é um dos maiores desafios:

“Temos sacos de ração a custar 14, 15 euros, o saco de 25 kg, e temos um saco de milho a custar 8 euros e meio, 9 euros, e o saco de trigo igual. [...] Em pouco tempo, numa semana ou duas, vão dois ou três sacos, e ao fim do mês, há que tirar para elas e para nós.”

“Todos nós em casa colaboramos com isto”

A família desempenha um papel essencial:

“Tenho a minha mãe e a minha irmã que também colaboram. Todos nós em casa colaboramos com isto. Todos gostam do que fazem. Isto é o espelho do nosso trabalho durante um ano. Vivemos para estes animais.”

Apesar das dificuldades, Pedro tem disponibilidade e vontade de partilhar conhecimento com outros jovens:

“Faço todo o gosto que venham ter comigo para os incentivar. Sei que é uma vida um bocado difícil, mas faço todo o gosto que eles sintam em integrar-se aqui.”

E sublinha que esta vida não tem género:

“As mulheres também. [...] Isto não é só para homens.”

Para Pedro, estar com os animais e viver do campo é mais do que um ofício:

“É muito saudável. Convivemos todos os dias com a natureza, mas tem que ser uma pessoa que goste. Se não gostar, não dá”, conclui.