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À semelhança de anos anteriores, a Celebração das Endoenças voltou a iluminar as margens dos rios Tâmega e Douro esta quinta-feira, dia 6 de abril.

Este é um ritual que se realiza há mais de três séculos, ligando as duas margens do troço final do Tâmega, na confluência com o Douro, entre o Torrão (Marco de Canaveses) e Entre-os-Rios (Penafiel), num percurso que inclui a Ponte Duarte Pacheco. Todo o percurso é iluminado com milhares de tigelinhas, que indicam o caminho realizado por Jesus Cristo até ao Calvário.

Cristina Vieira, presidente da Câmara Municipal de Marco de Canaveses, considera que a Celebração das Endoenças é “um dos momentos mais marcantes de fé e tradição para a nossa comunidade e que ao longo dos anos tem sido preservado, no caminho que nos leva até à Páscoa da Ressurreição de Cristo”.

“Tradição, sentimento, fé e paixão” são as palavras que utiliza para descrever o momento “alto de religiosidade que acompanha as famílias marcoenses e conta com mais de 300 anos de história”. Por isso, considera que “são referências que a população do concelho do Marco de Canaveses se orgulha em manter, preservar e transmitir às gerações mais novas. É um evento de beleza e esplendor que deslumbra quem nos visita ao ver milhares de tigelinhas a iluminar estas duas margens do Rio Tâmega”.

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O município de Marco de Canaveses assegurou o fornecimento de 25 mil tigelinhas que foram entregues a Junta de Freguesia de Alpendorada, Várzea e Torrão no valor de 6.980 euros e participaram na divulgação e comunicação com Lonas e MUPIS, investindo 511 euros. Reconhecendo que é “uma atividade muito acarinhada pelos marcoenses” que proporciona “um misto harmonioso de nostalgia, reencontro e alegria”.

“A todos os que me ouvem, aos nossos emigrantes, aos nossos jovens e adultos… estamos na Semana Santa… A Páscoa é um dos maiores exemplos de inspiração do sacrifício humano e dos melhores valores da humanidade. Façamos desta quadra mais um momento de união espiritual e de fé para a superação das dificuldades”.

Por sua vez, Antonino de Sousa, autarca do município de Penafiel, afirmou que se trata de um “dos mais belos quadros da nossa tradição religiosa, não apenas aqui, mas diria mesmo no Norte do país, acho que tirando Braga, que tem cerimónias muito intensas, esta nossa cerimónia das Endoenças é das mais importantes, mais antigas, mais vividas do nosso país”, referiu.

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O presidente de câmara recordou os anos de pandemia e afirmou que este ano “voltamos a ter a tradição como deve ser, com as nossas ruas e recantos iluminados, com as mais de 50 mil tijelinhas acesas e muita gente que vem de todo o concelho e também de muitas partes do país, quer por uma questão de fé, e há naturalmente muitos crestes, mas também por questão de turismo, porque de facto o que aqui se encontra é irrepetível e não se encontra em nenhum outro lugar do país”.

Presente também esteve Domingos Dias, presidente da Junta de Freguesia de Alpendorada Várzea e Torrão, que defendeu que este é um dos maiores “eventos, senão o maior, do país. Estas milhares de velas que dão um brilho a esta terra junto ao rio, onde o rio não separa mas une as partes, eu atrevo-me a dizer que esta noite é um autêntico presépio. Para nós, autarcas é um orgulho termos uma manifestação de fé tão grande, além do mais, devemo-nos empenhar, junto com os mordomos das Endoenças, para que esta manifestação seja cada vez maior e dignificante para a nossa terra, para a região e para o país”.

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O presidente realçou que “sem o povo desta terra não se fazia nada e aqui o nosso agradecimento na todos os que se empenham ano após ano para que isto seja uma grande manifestação religiosa”.

Para finalizar, Isabel Cunha, autarca local da Junta de Freguesia de Eja, recordou que são colocadas as tijelinhas e posteriormente “acendemos, para que isto possa estar devidamente iluminado e é com orgulho que mantemos esta tradição e assim pretendemos que continue de forma a que os mais novos possam perceber as nossas tradições, o que de melhor temos, e dar continuidade a esta celebração. Podemos perceber que os restaurantes estão lotados, são muitas as pessoas que participam na procissão. São muitos os que nos visitam para poderem ver esta tradição aqui junto ao rio”, finalizou.

O início desta manifestação religiosa teve lugar na Igreja Paroquial de Santa Clara do Torrão, com a Missa da Ceia do Senhor, às 20h00. Uma hora mais tarde, saiu a procissão do Senhor dos Passos, acompanhada por “Barcos de Fogo” junto ao rio, e em direção à Capela de S. Sebastião, em Entre-os-Rios, onde teve lugar o “Sermão do Encontro” entre Jesus Cristo e Nossa Senhora das Dores.

Já esta sexta-feira, dia 7 de abril, pelas 15h00, terá lugar a Procissão do Enterro do Senhor que cumpre o percurso inverso, de regresso à Igreja Paroquial de Santa Clara do Torrão, no Marco de Canaveses. 

As Endoenças envolvem a freguesia de Alpendorada, Várzea e Torrão (Marco de Canaveses), o lugar de Entre-os-Rios (Penafiel) e ainda o lugar de Boure, na margem esquerda do rio Douro, pertencente ao concelho de Castelo de Paiva, lugares que constituem antigo Couto de Entre-os-Rios.

Segundo a liturgia católica, esta celebração é uma alusão à sexta-feira Santa, dia de indulgência na Península Ibérica, no qual era dada a absolvição aos fiéis. Com o passar do tempo, o conceito mudou para o dia anterior, quinta-feira Santa.