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Desporto
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Cinco décadas de glória: Marco celebra subida histórica dos Juniores à 1.ª Divisão Nacional

Em 1975, uma geração de ouro levou o FC Marco à 1.ª Divisão Nacional de Juniores; este domingo, os heróis daquele ano serão homenageados.

No passado dia 27 de abril, assinalaram-se cinco décadas sobre a subida dos juniores do FC Marco à 1.ª Divisão Nacional, um marco histórico alcançado na época 1974/75. O empate sem golos frente ao SC Vila Real, fora de casa, carimbou a promoção e ficou para sempre gravado na memória de quem viveu essa campanha notável.

Tudo começou nos distritais da Associação de Futebol do Porto (AF Porto). Sem grandes ambições iniciais, a equipa foi surpreendendo jornada após jornada. Almir Nelcindo, que tinha apenas 16 anos na altura, recorda esse percurso com emoção

“No dia 27 de abril de 75, ainda tinha eu 16 anos, embora no dia seguinte fizesse 17, o que foi um grande presente de aniversário, foi o culminar de uma caminhada que começou sem quase nenhum objetivo, mas que nos fez sonhar a partir de determinado momento. A caminhada foi inolvidável”, lembra.

Na primeira fase, o FC Marco foi incluído numa série com o Paços de Ferreira, Freamunde, Lousada, Lixa e o Vila Meã. A equipa fez 37 golos e sofreu apenas 6, terminando invicta, com sete vitórias e três empates. O triunfo decisivo frente ao favorito Freamunde garantiu o primeiro lugar da série.

“O Freamunde tinha vencido todos os jogos, só tinha empatado connosco lá, num jogo brilhante da nossa parte. Precisávamos de vencer e vencemos, por 2-1, num dia muito chuvoso, e fomos os campeões inesperados da série”.

Rumo à 2.ª Divisão Nacional

Seguiu-se a fase de apuramento para a 2.ª Divisão Nacional, onde o Marco voltou a destacar-se, integrado na chamada “série dos primeiros”, com Aliados de Lordelo, Tirsense, Aves, Rebordosa e o São Romão. Apenas uma derrota, frente ao Aliados, manchou um percurso quase imaculado. 

“Foi a nossa única derrota. Perdemos, por 1-0, no campo velho do Aliados, diante de uma equipa muito forte fisicamente. Mesmo assim, vencemos o grupo com autoridade. A equipa marcou 13 golos e sofreu apenas um. A vitória decisiva foi, em casa, frente ao Aves, por 1-0. Ficamos apurados para disputar o nacional da 2.ª Divisão”, explica.

A final distrital e a consagração nacional

Antes da fase nacional, a equipa disputou a final do campeonato distrital frente ao Leixões, numa eliminatória a duas mãos. Após perder, por 3-1, no primeiro duelo, em Matosinhos, a 24 de fevereiro de 1975, o FC Marco empatou (1-1) em casa, a 3 de março, ficando o título para o adversário. Ainda assim, o foco já estava na subida nacional.

“Aí já acreditávamos muito em nós. Tínhamos ultrapassado tantas dificuldades que sentíamos que tudo era possível”, recorda Almir Nelcindo.

No Campeonato Nacional da 2.ª Divisão (Zona Norte), o FC Marco ficou na série com Vila Real, Aves e Mirandela. O jogo decisivo frente ao SC Vila Real, a 27 de abril de 1975, terminou (0-0) e garantiu a subida histórica.

“Foi um jogo de sofrimento, mas só nos minutos finais. O jogo até poderia ter sido fácil, porque surpreendemos o Vila Real com as nossas jogadas. Também sofremos uma bola no poste, em cima da hora, que poderia ter mudado o destino”, revela.

Já Jorge Almeida, capitão da equipa e pilar da defesa, descreve o jogo como um “dia envolto numa névoa de emoções”.

A equipa inesquecível

O onze mais habitual ficou gravado na memória dos adeptos. João 'Cartucho', na baliza; Tónio Quim, o lateral direito, e em alguns jogos do campeonato o Zé Faria; Quim Meia-Noite; Jorge Almeida (capitão), Carlos 'Vila Meã', e Eduardo, na ponta final do campeonato.

O meio campo: João Luís, Teixeira, Agostinho e Almir. No ataque: Nini e Manuel Carlos. 

Também faziam parte do plantel: Toninho Machado, Mário Lampo, Adrião Oliveira, Orlando Serra, Toninho Monteiro, Fernando 'Cartucho' e o Teixeirinha.

A liderança de um estreante

João Monteiro, então treinador estreante, assumiu o comando da equipa. Sem experiência formal, liderou com paixão e intuição.

“Começámos com jogadores de um torneio de freguesias. Eu tinha as minhas ideias e os miúdos acreditaram em mim. A verdade é que fomos crescendo juntos. Foi um prazer imenso. É difícil descrever a alegria que foi conseguir esta subida no meu primeiro ano de treinador”, confessa.

Monteiro relembra ainda a dificuldade logística: “Foi tudo feito com muito esforço. Havia dificuldades tremendas, mas também uma entrega total dos atletas”, sublinha.

A formação baseava-se em jogadores locais, treinados com métodos inovadores para a época. “Havia vocação, mas sobretudo dedicação. Treinávamos até à meia-noite na Tapadinha”, relata Monteiro, elogiando o espírito de sacrifício do grupo.

Histórias que ficaram para sempre

Alguns episódios caricatos fazem parte da história desta equipa, como “o golo de baliza a baliza do guarda-redes João 'Cartucho', em Mirandela” ou o início da segunda parte em Vila Real sem guarda-redes em campo.

“Ao regressar do intervalo, o árbitro recomeçou o jogo e o nosso guarda-redes ainda não estava na baliza. Foi um susto enorme”, conta Almir, que lembra também uma partida com o Leixões, disputado em relvado.

“Antes desse jogo, houve um Leixões – Penafiel em juvenis. Foi a nossa sorte, porque não tínhamos chuteiras para jogar na relva. Foram os jogadores dos juvenis do Penafiel que nos emprestaram as chuteiras para jogar na relva, porque não havia capacidade financeira para comprar esse tipo de chuteiras”, lembra.

Também Jorge Almeida recorda: “Uma vez, durante o jogo, mandei a bola para o ar, fiz gesto de apontar e disse: ‘pum, pum, matei uma rola’. Não sei o que se passou na minha cabeça, mas nesse dia devia estar muita bem disposto”.

“Quando fomos ao Leixões, nunca pensei jogar naquele estádio. E treinar com os juniores do FC Porto foi um sonho”, acrescenta.

João Monteiro também guarda memórias de alguns momentos inusitados: “Num jogo, o massagista não foi autorizado a ir para o banco. Tive de fazer esse papel. A determinada altura, o Almir precisou de assistência. Entrei em campo com uma mala, mas lá dentro não estava nada. O árbitro empurrou-me para fora”.

Homenagem marcada para 11 de maio

Este domingo, 11 de maio, o clube vai prestar homenagem a esses heróis do passado. Durante o intervalo do jogo entre o Marco-09 e o União SC Paredes, os antigos juniores da época 74/75 subirão ao relvado do Estádio Municipal para receber o tributo do clube e da cidade.

Eduardo Felipe, atual presidente do Marco, realça a importância de recordar a história: “O passado tem de ser celebrado. Estes feitos deram alma ao clube e merecem ser eternizados”.