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Portugal
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Francisco pedala 20 mil quilómetros de Lisboa a Maputo para “perceber o que era estar longe de casa”

Jovem português de 23 anos demorou 16 meses a atravessar mais de 20 países de bicicleta até chegar à capital moçambicana. Apanhou malária, deu aulas em troca de estadia e testou os seus limites físicos e mentais.

Redação

Francisco França, de 23 anos, partiu de Lisboa em fevereiro de 2024 com um objetivo pouco comum: pedalar até Maputo, capital de Moçambique. Dezasseis meses e mais de 20 mil quilómetros depois, chegou ao destino. Pelo caminho, enfrentou doenças, atravessou estradas inóspitas, deu aulas em troca de estadia e, sobretudo, descobriu o que significa estar longe de casa.

Um desafio entre o medo e a coragem

“Queria fazer uma viagem longa, queria perceber o que é estar tão longe de casa durante tanto tempo, queria que fosse de bicicleta”, explicou Francisco à agência Lusa, em Maputo. A aventura, que começou em São João da Talha, na área de Lisboa, levou-o a atravessar mais de 20 países africanos, entre eles Marrocos, Senegal, Nigéria, Angola e Moçambique.

Equipado apenas com o essencial — roupa, fogão a gasolina, comida desidratada, uma panela e documentos — o jovem psicólogo foi superando, dia após dia, os obstáculos que a estrada lhe impunha.


Duas vezes malária e muitos quilómetros a pé

Pelo caminho, contraiu malária duas vezes — na Serra Leoa e na Costa do Marfim —, enfrentou uma reação alérgica no Senegal, e cruzou regiões onde a estrada era apenas um carreiro de terra batida. Foi o caso da travessia do Búzi até Muxúngue, na província moçambicana de Sofala, onde percorreu cerca de 200 quilómetros por trilhos no mato.

“Podia ter escolhido uma rota mais fácil, mas preferi a mais desafiante”, contou. Ao longo da viagem, teve de repousar por várias semanas devido ao impacto físico e emocional, reconhecendo que, em certos momentos, duvidou da própria sanidade e do sentido da jornada.


A aprendizagem de África: “é o dia-a-dia deles”

Mais do que ultrapassar os seus próprios limites, Francisco procurava compreender a realidade africana. “Consegui ver como é que as pessoas vivem. A pobreza, a riqueza… tive uma ideia bastante geral de tudo e isso era importante para mim”, sublinhou.

Em Tete e Chimoio, ficou impressionado com a resistência dos habitantes locais: “vi pessoas com bicicletas a carregar cinco sacos de carvão. Bicicletas muito piores do que a minha. Aquilo não é nenhuma viagem para eles, é o dia-a-dia.”


Ensinar em troca de abrigo e sabores inesquecíveis

Sem grandes ligações a Moçambique, Francisco escolheu o país como destino final da viagem por ser um lugar especial para pessoas próximas e uma alternativa menos comum à África do Sul. Pelo caminho, comunicou em inglês e francês, ensinou em aldeias em troca de um lugar para dormir e foi aprendendo a reparar a sua bicicleta, frequentemente avariada.

Na bagagem, leva também sabores que não esquecerá, como a comida angolana ou a “xima com frango, tomate e couve” de Moçambique e Zâmbia.


Regressa esta semana a Lisboa… mas já não é o mesmo

Francisco regressa a Portugal de avião esta quinta-feira. Da aventura fica muito mais do que o percurso feito: fica uma transformação pessoal, o conhecimento de outras realidades e a consciência das dificuldades enfrentadas por milhões de pessoas.

“Acho que consegui perceber, pelo menos em parte, o que é viver em África. E isso era o que procurava.”