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Paços de Ferreira
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Marta Salomé agarrou a carreira de enfermeira aos 31 anos: "Ajudar quem precisa de nós, é isso que me motiva”

Marta Salomé foi sempre “uma pessoa muito doente”, que desde nova “andava sempre em hospitais. O cuidado das enfermeiras inspirou-me para um dia querer trabalhar num hospital”, revela a enfermeira da Unidade Local de Saúde do Tâmega e Sousa.

Redação

De serviço nas urgências do hospital em Penafiel, a profissional de saúde partilhou com o Jornal A VERDADE a história do seu percurso desde auxiliar a enfermeira. Marta Salomé só acabaria por agarrar o curso de enfermagem aos 31 anos.

“Foi muito complicado, o curso de enfermagem é muito exigente”, admite a profissional que, graças a “muito trabalho, esforço e estudo”, conseguiu acabar o curso. Tendo sido trabalhadora-estudante, terminar o curso revelou-se “complicado pela parte de conseguir gerir a nossa vida, mas quando a gente gosta daquilo que faz conseguimos fazer tudo”.

Durante 24 anos Marta Salomé trabalhou no setor da saúde como assistente operacional, por isso, “já sabia bem o que era picar um doente ou colocar alguém em oxigénio. Mesmo assim, quando entrei para o serviço de urgência tive um choque muito grande”.

Apesar de já ter alguma experiência na área, atuar como enfermeira nas urgências de um hospital “é um choque muito grande, vemos muitas coisas chocantes que acabam por ficar connosco, mesmo depois do serviço”, acrescenta. No entanto, o que mais abala Marta Salomé nas urgências é “a falta de tempo que passamos com o doente, isso é que me custa. Não conseguir perceber a história da pessoa”.

O paciente e o enfermeiro

“As pessoas têm uma ideia errada em relação ao enfermeiro”, diz Marta Salomé, “que ganhamos mais do que aquilo que trabalhamos, que não fazemos nada”, lamenta a enfermeira. Pela experiência pessoal deste profissional, este tipo de comentários são inválidos pois: “Num serviço de urgência é impossível não ter nada para fazer. Temos sempre um doente mal, alguém para reanimar, engessar…”.

O sentimento partilhado por muitos destes profissionais de saúde é de “desvalorização”, num trabalho onde “também nos sentimos violentados muitas vezes”, reforça Marta Salomé. Trabalhar nas urgências e em contacto direto com os pacientes pode, por vezes, criar um ambiente “hostil” onde os trabalhadores têm de enfrentar situações “extraordinárias”. Aliás, “no meu primeiro dia de serviço nas urgências levei uma bofetada de uma doente, até hoje foi o que mais me marcou”, revela a profissional.

Quando questionada sobre a importância do enfermeiro para o funcionamento de um hospital, Marta Salomé respondeu quase de imediato: “Somos todos fundamentais, desde a funcionária de limpeza até ao presidente do conselho de administração, somos todos importantes”.

Salientando que os pacientes devem olhar para um hospital como uma equipa de profissionais, a enfermeira lamenta “a falta de união entre profissionais”. O trabalho nas urgências de um hospital é muito exigente, algo que só é agravado “pela falta de união e companheirismo. Podemos não ter condições de trabalho, mas se tiver companheirismo somos capazes de tudo”.

Na perspetiva da enfermeira com nove anos de experiência, esta não é “uma profissão fácil”, mas Marta Salomé continua a dedicar-se a este trabalho “pelo próximo, para ajudar quem precisa de nós, é isso que me motiva”, conclui.