cristina mendes associacao padrinhos de africa
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A Associação Padrinhos DÁfrica trabalha junto de crianças e jovens africanos carenciados ao longo de 18 anos para “torná-los pessoas instruídas e com mais capacidades”.

Cristina Mendes, vice-presidente da Associação Padrinhos DÁfrica (APD), partilha em conversa com o Jornal A VERDADE que a Associação Padrinhos de África vai se tornar “maior de idade” ao completar 18 anos em 2023. Data que marca uma nova etapa para os membros que vêm nascer um espaço físico para continuar com o trabalho exigente que a associação requer.

Este projeto começou com Célia Queirós, presidente da associação, que há 22 anos decidiu fazer voluntariado durante um ano em Moçambique, no papel de enfermeira. Antes de regressar a Portugal, um padre moçambicano, que fazia parte do Lar Arco Íris, lançou o desafio “de tentar arranjar cá em Portugal padrinhos que pudessem ajudar as crianças que tinham lá institucionalizadas”, explica Cristina Mendes.

O padre acabou por semear em Célia o desejo de ajudar crianças africanas e após partilhar junto de amigos e família, a ideia começou a ganhar forma, até ser fundada uma associação. Um ano depois, Cristina Mendes juntava-se a este projeto de “corpo e alma” e assumia o cargo de vice-presidente.

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Foto: APD

De forma breve, partilha que o projeto consiste em “angariar padrinhos e madrinhas para crianças em África”. Atualmente, a associação trabalha com Moçambique e Guiné-Bissau, países aos quais se refere como “duas realidades distintas”. Em Moçambique as crianças que são apoiadas pela ADP vivem numa instituição missionária, na Guiné as missões com quem trabalha geralmente apoiam crianças que vivem com as suas famílias. Em ambas as realidades perder a mãe é muitas vezes sinónimo de ficar sozinho. “Quando perdem a mão perdem tudo, porque os pais ainda não se comprometem muito a cuidar das crianças”.

De forma a cumprir os objetivos da associação, os membros são apoiados por outras pessoas que residem nos dois países e a quem cabe ir fazendo a gestão dos dinheiros. “Os missionários, estes são os nossos interlocutores que estão lá e vão ou pagar a escola ou a alimentação ou os cuidados de saúde porque é isso mesmo que pretendemos”, explica.

“Qualquer pessoa pode ser padrinho ou madrinha e pagar um folar

Para se ser padrinho ou madrinha e fazer a diferença na vida destes jovens, é apenas necessário pagar um folar anual, no valor de 60 euros, ou seja, cinco euros por mês. “Qualquer pessoa pode ser padrinho ou madrinha e pagar um folar, e esse folar é o que eu digo muitas das vezes é a diferença entre eles poderem estudar ou não terem essa possibilidade”, destaca.

Apesar de estarem conscientes de que com o passar dos anos as necessidades dos jovens “aumentarem”, os membros da associação optaram por “não aumentar o folar” de forma “a tornar o apadrinhamento continuo. Não mexemos no valor e vamos juntando mais padrinhos”.

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Foto: APD

Cristina Mendes menciona ainda que para que os objetivos sejam cumpridos, é também necessário atribuir aos afilhados “uma responsabilidade”. Para além de estudarem, devem também ter “o compromisso de irem escrevendo aos padrinhos”, nessas cartas costumam falar “do aproveitamento escolar, porque as as pessoas que nos representam lá incutem-lhes a ideia de que eles têm a possibilidade de estudar porque alguém está a fazer o sacrifício de os poder ajudar e eles também têm de trabalhar para de certa forma mostrarem que estão gratos e a aproveitar a oportunidade”.

Já para os padrinhos foi criado um espaço privado dentro da página da APD onde podem consultar as cartas que os afilhados vão escrevendo, de forma “a manter uma ligação entre eles”.

A par deste projeto, a Associação Padrinhos DÁfrica dá mais um passo e “sai de casa. Curiosamente a gente associa sempre a questão dos 18 anos a maioridade dizendo que finalmente vamos sair de casa porque estivemos até agora numa sede provisória que era a casa da nossa presidente, Célia Queirós, e que agora já assinamos o protocolo com a câmara municipal que nos disponibilizou uma sala na escola de Vale de Sides”.

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Foto: APD

Encontro dos padrinhos vai ser realizado em Marco de Canaveses

À semelhança de anos anteriores, o último domingo de abril é dedicado ao encontro dos padrinhos. De forma “a juntar o ânimo de padrinhos” e celebrar o espaço físico da associação o encontro vai ser realizado em Marco de Canaveses. O jardim municipal vai transformar-se num jardim africano e será mais um evento que servirá para divulgar o trabalho de 15 voluntários que fazem as coisas “por amor”.

O mês de abril é ainda marcado pela entrega do ramo antes do folar, ato que não é possível concretizar fruto da distância e fracos recursos. Assim, a associação decidiu começar “a desafiar alunos de escolas de cá a fazer trabalhos que chamamos de ramo que depois enviamos para os padrinhos”. Trabalhos estes que devem caber num envelope, mas que acima de tudo promovem “a solidariedade entre as crianças”.

A Escola de Toutosa tem sido uma das principais agentes nesta iniciativa através da professora Manuela Reis, também membro na associação.

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Foto: APD

A vice-presidente explica ainda que, quando é possível a associação organiza uma visita às Missões que apoia, feita muitas vezes por conta própria, para poder conhecer os jovens e perceber como o trabalho está a decorrer. Nestas alturas, convidam também os padrinhos a juntarem-se à viagem de forma a conhecer ao vivo os afilhados que lhes escrevem todos os anos.

Cristina Mendes termina por realçar que este “é um dos projetos que mais me realiza e prazer me dá“. Consciente de que em Portugal também existem necessidades, não descura os problemas de outros países, porque em “Portugal há crianças sem sapatos, na Guiné e em Moçambique há crianças sem pés”. Assim, volta a apelar que os 60 euros “permitem torná-los pessoas instruídas e com mais capacidades”.

Por fim, não deixa de mencionar “o enorme contributo” da ArTâmega, que colaborou no último projeto da associação, através de um valor de 1815 euros, angariando no seu último concerto solidário. Com este valor e juntando um grande donativo de alunos do MBA executivo da PBS e o contributo individual de muitas outras pessoas foi possível encher uma sala de livros e assim criar uma biblioteca em Moçambique.

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Foto: APD
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Foto: APD