A medida visa reduzir a presença destas aves, cuja atividade é apontada como uma das causas de contaminação da zona costeira, devido à libertação de agentes patogénicos.
Segundo avançado pela Rádio Renascença, as águias “Anémona” e “MM” sobrevoam o areal de Matosinhos Sul todos os dias, entre as 7h00 e as 9h00 e novamente entre as 17h00 e as 21h00, numa intervenção controlada por tratadores especializados. Catarina Dinis, tratadora que comanda os voos das aves de rapina, explica que “o avistamento da águia por parte da gaivota faz com que percebam que não é um local seguro para elas”.
A ação integra técnicas de falcoaria, com voos controlados que garantem que as águias não caçam as gaivotas nem fogem do local. Este controlo é feito através da monitorização do peso e da alimentação das aves de rapina, sendo que, segundo a tratadora, “esta é uma espécie que não é tão agressiva”.
O hidrobiólogo Adriano Bordalo e Sá, docente do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), explica que a presença significativa de gaivotas em Matosinhos Sul se deve às condições favoráveis que estas aves encontram para descansar e alimentar-se, nomeadamente o elevado número de restaurantes, o porto de pesca e os caixotes de lixo existentes na zona.
O especialista alerta que as gaivotas libertam para o meio ambiente diversos organismos potencialmente patogénicos – vírus, bactérias, fungos e parasitas – que podem afetar a saúde dos banhistas. Bordalo e Sá sublinha ainda que o desenvolvimento urbano costeiro alterou os padrões de comportamento destas aves, facilitando o acesso a alimento e promovendo a sua nidificação em áreas urbanas, onde não enfrentam predadores.
Relativamente ao impacto das águias na qualidade da água, Bordalo e Sá afirma que “ainda é cedo” para avaliar resultados. Reconhece que as aves de rapina podem ter um papel importante, mas frisa que “não resolvem o problema”, uma vez que “outros pássaros, os cães, os ratos e os gatos” também contribuem para a poluição, sendo responsáveis por cerca de metade dos agentes contaminantes.
Adicionalmente, o especialista alerta para outro foco de poluição significativa: descargas provenientes de duas ribeiras que confluem antes de chegarem à praia, às quais se juntam águas pluviais e ligações clandestinas de águas residuais domésticas. Estudos do ICBAS indicam que, embora a água em alto mar esteja apta para banhos, a zona costeira, em particular a que recebe essas descargas, apresenta qualidade “má 24 horas por dia”.