Recentemente homenageado pelos Bombeiros Voluntários de Entre-os-Rios pelo seu papel e presença na banda, o tocador de clarim faz parte deste grupo há sete anos.
Rui Peixoto apreciou de bom grado o gesto e agora, aos 53 anos, recorda como acabou por entrar nesta aventura da música. “A minha filha mais velha foi a pioneira da família e a primeira a atuar com a fanfarra, eu já fazia parte mas não acompanhava as saídas, só ia aos ensaios”, revelou o membro do grupo.
A frequentar os ensaios da fanfarra desde novo, Rui Peixoto já gostava de música há muitos anos mas “nunca fui para a frente” e com o passar do tempo “entrei na fase dos namoricos e perdi-me um bocadinho”, admitiu entre risos. Tocar foi sempre “um gosto meu, mas sempre como hobby, nunca pensei sequer em seguir isto ou a fazer da minha vocação a música”, acrescentou. Assim, Rui Peixoto acabou por nunca aprender música e até hoje não tem nenhum conceito de notas ou pautas: “O que toco é tudo por ouvido”.
Tocar clarim facilita a tarefa e o seu tocador explica: “Não preciso de notas para conseguir tocar e para mim é bom porque com a família e o trabalho não sobra muito tempo para me dedicar aos estudos da música”. Mesmo assim, ao levar a filha aos ensaios “ela andava sempre a pedir-me para ir tocar e andou nisto até eu dizer: ‘Entro quando a tua irmã também entrar’. Ela entrou e depois lá entrei eu também”.
Entre incentivo e convívio, nasceu o “Tio Rui” da fanfarra
Ainda de pé atrás, Rui Peixoto hesitou juntar-se à fanfarra mas o responsável da banda também não queria deixar passar a oportunidade de arranjar mais um membro: “Já me dava bem com o presidente e como tentava sempre acompanhar as saídas ele lá me apanhava e dizia: Tens de te juntar a nós, tu vais tocar connosco”.
Assim, com tanto incentivo não demorou muito até Rui ficar convencido e a filha orgulha-se por ter juntado o pai à fanfarra. “Ela tem orgulho por me ver lá mas agora tem a freima de me chamar de Cota da Fanfarra”, conta o pai a rir. Sem qualquer arrependimento por ter seguido em frente com este desafio, Rui Peixoto elogia “o ambiente fantástico entre todos os membros, estamos sempre juntos e somos todos grandes amigos”.
Cada saída pela banda é mais uma ocasião para “a diversão e o convívio” e o tocador de clarim deixa claro: “Só vive isto quem vai connosco”. Entre cantares e danças o tempo vai passando e a fanfarra encanta os próprios membros mas também as pessoas das terras por onde passam. “Nós fazemos coisas bonitas, ainda há pouco no nosso último convívio ficou tudo a olhar para nós”, salientou.
A fanfarra deixa marcas nos seus membros e Rui Peixoto diz mesmo: “Estou nisto pelo convívio e gosto disto quase como um homem ama uma mulher, apaixonei-me por isto e fiquei com o bichinho”. Sempre a viver este grupo num ambiente animado, o tocador é conhecido pela maioria dos membros como o “Tio Rui” e isso só demonstra “que vivemos todos isto como uma família”.
Tradição, comunidade e portas abertas à música
Preservar esta tradição das fanfarras é para todos os seus membros “muito importante” e Rui fica feliz por dizer: “Já temos crianças pequenas que se juntam a nós com sete anos e que depois ficam a fazer parte da nossa família”.
Todos se podem juntar à fanfarra, “dos oito aos 80, desde que toquem alguma coisa podem juntar-se”, reforça o tocador. E o único requisito para além desse é “aparecer com gosto e vontade” para experimentar, depois disso “vão de certeza ficar a gostar”.
A paixão de Rui Peixoto pela fanfarra é reflexo de um espírito comunitário que continua vivo em Entre-os-Rios, onde a música une gerações e fortalece laços. Para Rui e tantos outros, tocar na fanfarra é mais do que uma atividade — é um modo de vida, onde a amizade, a tradição e o amor pela música se entrelaçam.