Associação Automóvel de Portugal apresenta plano com cinco medidas para modernizar o setor e reduzir emissões, apelando ao Governo numa fase de transição política.
A Associação Automóvel de Portugal (ACAP) apresentou uma estratégia integrada para a sustentabilidade do setor automóvel, com foco na eficiência energética, na redução das emissões de CO2 e no reforço da segurança rodoviária. O objetivo é claro: poupar anualmente 3,2 milhões de litros de combustível, o equivalente a 33.200 barris de petróleo, através de medidas concretas de renovação do parque automóvel nacional.
Portugal enfrenta atualmente um parque automóvel envelhecido, com veículos com mais de 20 anos a circular em larga escala. Apesar da existência do programa “Mobilidade Verde”, o seu impacto tem sido reduzido, o que levou a ACAP a desenvolver uma proposta estruturada em cinco eixos estratégicos, apresentada num momento de incerteza política e transição governativa.
A ACAP defende a revisão profunda do sistema fiscal do setor, propondo a transição progressiva do ISV (Imposto Sobre Veículos) para o IUC (Imposto Único de Circulação) entre 2026 e 2030. A proposta inclui a extinção total do ISV até 2030, com alterações na base tributável que favoreçam a redução de emissões, privilegiando o CO2 em detrimento da cilindrada.
O plano prevê um novo incentivo à renovação do parque automóvel já em 2026, com apoio financeiro até 5.000 euros por viatura elétrica adquirida e abate gratuito de veículos com mais de 10 anos. Estima-se que esta medida possa abranger até 40.000 veículos, reduzindo as emissões em 10.800 toneladas de CO2 por ano.
O envelhecimento do parque tem sido preocupante: em 2024, a idade média dos veículos abatidos foi de 24,7 anos, quando em 2009 era de 16,6 anos. A ACAP considera que sem incentivos eficazes, a transição para uma mobilidade mais verde não será possível.
Outro foco da ACAP recai sobre os veículos usados importados, especialmente a gasóleo, que representaram 72% das novas matrículas a gasóleo em 2024. A associação alerta para a entrada de viaturas mais poluentes, incentivada por uma fiscalidade permissiva, que ameaça os objetivos climáticos e de saúde pública.
A ACAP propõe o reforço dos controlos nas inspeções periódicas obrigatórias (IPO), com a introdução de medidores de partículas nos centros de inspeção, para detetar alterações nos sistemas de filtragem e emissões acima dos limites legais definidos para as normas Euro 5 e Euro 6.
A associação mostra-se preocupada com o impacto da nova metodologia de cálculo de emissões, o Utility Factor (UF), nos veículos híbridos plug-in. Este novo critério poderá colocar muitos PHEV fora dos escalões de benefício fiscal, apesar do seu contributo relevante para a transição energética.
A ACAP defende que Portugal deve seguir o modelo europeu, permitindo a escolha entre o critério de autonomia elétrica ou o nível de emissões de CO2 para efeitos de tributação. Esta flexibilidade já é aplicada em países como Alemanha e Espanha.
Por fim, a ACAP destaca a importância das ações de recall como fator de segurança rodoviária. Em Portugal, a taxa de concretização destas campanhas é das mais baixas da Europa, muitas vezes devido à desatualização de moradas dos proprietários nos registos oficiais.
A proposta passa pela criação de uma base de dados partilhada entre a ACAP, IMT e centros de inspeção, e por uma ligação entre a Autoridade Tributária e o Instituto dos Registos e do Notariado (IRN), para assegurar que todos os condutores sejam devidamente notificados. Propõe-se ainda a possibilidade de as seguradoras adaptarem os prémios consoante a realização das ações de recall.