Em conversa com o Jornal A VERDADE, o bombeiro com 26 anos de carreira, admite que acumula todos os dias muitas histórias de serviços que deixam marcas, uma delas ocorreu em janeiro do ano passado.
O quartel recebeu, já perto da meia-noite, uma chamada de emergência para uma bebé de 14 dias “a sentir convulsões”, recorda Daniel. De imediato, dois bombeiros apressaram-se a chegar à casa da criança, em Tuías, onde constataram que: “A menina apresentava sinais vitais normais”. Contudo, “a mãe, com ela ao colo, estava a contar-nos como a bebé esteve parada e com os olhos revirados por algum tempo”, acrescentou Daniel.
Por enquanto, nada apontava para uma situação grave mas, por cautela, a família e os bombeiros acharam melhor levar a criança para o hospital na ambulância. Durante a viagem, a bebé “ia a interagir com o meu colega, ia-lhe apertando o dedo, estava tudo bem, mas quando chegamos perto da autoestrada, a bebé começou a ficar roxa”.
A ambulância parou no lado da estrada para Daniel conseguir auxiliar o colega: “Foi instantâneo, com crianças, isto é assim: recuperam e afundam muito rápido. Parei a ambulância, tirei a criança do colo da mãe e coloquei-na na maca”.
Já em estado de paragem ventilatória, “com pulso a fugir e sem respirar”, Daniel iniciou o protocolo de suporte básico de vida e durante oito minutos, enquanto esperavam pela chegada da VMER, o bombeiro lutou pela vida da bebé. “Ela não estava a reagir a nada, estava completamente parada, só a um minuto do nosso apoio chegar é que ela deu sinais de recuperação”, conta o elemento da corporação marcoense.
Graças ao contínuo esforço de Daniel, momentos antes da chegada dos médicos da VMER, a criança de 14 dias “começou a ganhar cor e a apertar as mãos”. O suporte básico de vida tinha feito efeito e agora a menina já podia seguir para o hospital para ser analisada nas urgências de pediatria.
A viagem até ao hospital ficou marcada pelas lágrimas de todos os envolvidos nesta emergência, desde a mãe, aos dois bombeiros do Marco e até da médica da VMER que “levou a menina ao colo sem a largar por um segundo até chegarmos a Penafiel”, reforçou Daniel.
A bebé Beatriz acabou por ter de passar 15 dias de internamento no hospital até ter alta e estar totalmente recuperada e fora de perigo. A notícia da saída da criança do hospital foi um alívio para Daniel e para o colega Isac: “Fizemos o nosso trabalho e daquela vez foi compensado”.
Um ano depois deste episódio de emoções à flor da pele, Beatriz, já com um ano de vida, foi batizada pela família que convidou os dois bombeiros que salvaram a vida da menina. “Nunca me vou esquecer da Beatriz, pois se não fosse o meu trabalho ela não estava aqui connosco, por isso é que digo sempre: todos nós temos um emprego, mas mais ninguém tem um trabalho como o dos bombeiros”, salienta Daniel.
Enquanto recorda os momentos que passou na ambulância a tentar salvar Beatriz, Daniel diz mesmo: “Isto leva-nos lágrimas aos olhos, são momentos de sofrimento em que te passam uma criança para as mãos e tu só sentes: ‘Tenho de fazer alguma coisa’”. O trabalho dos bombeiros “é exigente a nível psicológico” e por vezes a única coisa capaz de aliviar o peso deste cargo é a camaradagem entre colegas e histórias “de sucesso” como esta de Beatriz.
Daniel Moura acredita que quem escolhe esta profissão “nasceu para isto” e, com quase três décadas de carreira, o bombeiro diz: “Adoro o que faço, esta é a minha vocação”.