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Marco de Canaveses
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Rita Coutinho e Rui Correia: "Neste dia mundial da tuberculose devemos apelar à consciencialização"

No dia 24 de março assinala-se o Dia Mundial do Combate à Tuberculose, “uma doença muito contagiosa que era conhecida por afetar os mais pobres e as pessoas em fracas condições de higiene”.

Redação

No dia 24 de março assinala-se o Dia Mundial do Combate à Tuberculose, “uma doença muito contagiosa que era conhecida por afetar os mais pobres e as pessoas em fracas condições de higiene”.

Em conversa com o Jornal A VERDADE, Rita Coutinho, médica na USF Alpendorada, em Marco de Canaveses, revela que antigamente “as pessoas tinham medo de doentes com tuberculose”. 

Uma doença “multissistémica que pode afetar todos os sistemas, não só o pulmonar, mas também de outros órgãos”, a tuberculose costumava ser “uma doença considerada fatal”. Ser diagnosticado com tuberculose numa altura em que “não havia um tratamento adequado”, significava que os pacientes só iriam apresentar sintomas numa fase muito avançada da doença, “onde já não havia muito a fazer”.

Devido aos sintomas e consequências que se vão “exacerbando com o passar do tempo”, as pessoas afetadas por esta doença experienciam: “tosse, expectoração sanguínea que pode levar à perda de sangue, falhas noutros órgãos, emagrecimento fora do normal e cansaço”. A junção destes problemas acabaria por levar à morte de uma pessoa mas, atualmente, graças ao avanço da medicina, esta é uma patologia “com cura e tratamentos adequados que até podem fazer a doença passar despercebida”, explica a profissional de saúde.

Em Portugal, registaram-se no ano de 2023, 1.584 casos de tuberculose, ou seja, existe uma taxa de notificação nos 14,9 casos por 100 mil habitantes, sendo que as regiões de Lisboa e Vale do Tejo e do Norte a apresentarem as maiores incidências.

A região do Douro, Tâmega e Sousa é um dos territórios onde a doença “ainda é muito preponderante”, adianta Rita Coutinho. Apesar da diminuição do número de casos de tuberculose ao longo dos anos, os concelhos deste território continuam a registar “muitos casos diários, os números andam na volta dos milhares”, reforça a profissional.

Os números atuais continuam a ser “bastante elevados” e a forte presença do setor de extração e transformação de pedra é um dos fatores mais evidentes de risco na região. “As pedreiras contribuem muito para o aumento de casos, a incidência de tuberculose nos nossos concelhos, como por exemplo no de Penafiel, é por volta de quatro vezes superior à média nacional”, acrescenta Rita Coutinho.

Ser diagnosticado com tuberculose “já não assusta tanto” um paciente e na região de Tâmega e Sousa é uma ocorrência normal, ao contrário de zonas “como no Grande Porto onde temos colegas que vêm a tuberculose como uma doença rara”. 

Prevenção e tratamento de casos de tuberculose

Os profissionais de saúde e as autarquias dos territórios do Douro, Tâmega e Sousa estão determinados a combater e prevenir o aumento de casos de tuberculose na região e para isso, Rita Coutinho deixa algumas dicas para ajudar a prevenir esta doença. 

“Primeiro de tudo, devemos educar a população para saber identificar os sintomas a que devem estar alerta, sabendo que, se apresentarem esses sintomas, devem procurar ajuda médica”, frisa a médica. Quanto a medidas de prevenção, “a melhoria dos espaços e das condições de trabalho” aliada com “tratamentos de prevenção através da vacinação”, são um passo na direção certa. 

A monitorização dos casos identificados é outro passo importante e os profissionais de saúde devem “fazer os tratamentos adequados de forma a que o paciente não crie resistências aos antibióticos, que não tenha recaídas e que não esteja a contaminar outras pessoas”.

Caso seja diagnosticado com tuberculose pode contar com “um tratamento adequado, que ao final de poucos meses, faz com que a pessoa deixe de ser contagiosa, podendo seguir com a uma vida normal sem ter medo de contagiar as pessoas à sua volta”, conclui Rita Coutinho.

Ainda sobre os esforços de tratamento e prevenção da doença, Rui Correia, médico na USF Alpendorada, adianta que um tratamento de tuberculose tem a duração de seis meses de comparência obrigatória por lei, visto que se trata de medicação de toma "por observação direta". Durante o perído de tratemento "o doente não pode trabalhar, tem de estar obrigatoriamente de baixa, ao ponto que se um paciente com tuberculose ativa não estiver de baixa, a polícia pode intervir". 

Um paciente que esteja de baixa devido a tuberculose tem direito a 100% do seu ordenado enquanto realiza os tratamentos que podem ser feitos através do Centro de Saúde ou do Centro Epidemiológico de Doenças Respiratórias.  A medicação deve ser tomada todos os dias, com um período de jejum de três ou quatro hras e os médicos devem supervisionar o tratamento dos doentes pois, caso o "doente não tome a medicação, pode ganhar resistência, daí ser obrigado por lei a seguir estas regras". 

Um processo demorado e inconveniente para os profissionais e os pacientes, uma nova medida de teleconsulta está a dinamizar este tipo de tratamento. "Agora podemos usar as cameras nos nossos computadores para fazer uma ligação com o doente, que através do telemóvel ou do computador entram numa chamada e fazem a teleconsulta onde os vemos a meter os compromidos na boca e a engolir", diz o médico. 

Os benefícios deste tipo de consulta resumem-se à diminuição de deslocações por parte dos médicos e dos doentes e também da redução da probabilidade de contágio através de contacto nos centros de saúde. 

Por fim, Rita Coutinho deixa a seguinte mensagem a todos os leitores no âmbito do Dia Mundial do Combate à Tuberculose: "A tuberculose é uma doença que, infelizmente, ainda existe na nossa população, mas que tem tratamento. O tratamento é gratuito, através da saúde pública e o diagnóstico deve ser precoce, devemos estar alerta para os sintomas. A adesão ao tratamento é essencial para nós trabalharmos a sua propagação porque uma vez que a pessoa faça o tratamento de forma correta, deixa de ser contagiosa. Neste dia mundial da tuberculose  devemos apelar à consciencialização e a uma ação coletiva para eliminarmos esta doença".