“Sou eu que trato de tudo”, afirma com orgulho. Embora conte com o apoio do pá roco e de alguns voluntários no próprio dia, é D. Augusta quem assegura a logística e a coordenação geral. Desde o contacto com a fanfarra e a banda de música, à gestão dos 16 andores que percorrem as ruas da cidade, tudo passa pelas suas mãos. A ligação à Igreja vem de longa data. Fez parte do grupo coral durante mais de 20 anos, participou nas tradicionais janeiras e até organizou marchas populares. “Fui sempre muito ativa”, diz, lembrando também o tempo em que trabalhou com crianças no pavilhão desportivo da escola, onde esteve 17 anos.
Apesar da idade, continua com energia invejável. “Tenho uma força que muita gente mais nova não tem”, garante. Ainda assim, confessa-se preocupada com o futuro da tradição: “Não sei quem vai continuar isto depois de mim. Já ando a dizer ao padre que um dia vou ter de largar, mas não aparece ninguém”.
A dedicação de D. Augusta não se limita apenas à organização. Ao longo dos anos, criou uma rede de colaboração com moradores de várias zonas do concelho, que assumem a responsabilidade pelos andores das suas ruas ou lugares. “A câmara ajuda com a roupa das figuras, mas os andores são pagos pelas próprias pessoas das localidades. Já há uma rivalidade saudável entre andores — todos querem fazer o mais bonito”, conta, entre risos. Essa dinâmica comunitária é, para si, um dos aspetos mais valiosos da procissão.
Mesmo com os desafios que surgem todos os anos — desde a dificuldade em arranjar figuras para os andores, até à falta de disponibilidade dos mais jovens — D. Augusta continua firme. “Agora vai mais gente adulta do que crianças. É uma altura difícil, com férias e muito calor, mas mesmo assim conseguimos fazer sempre uma coisa bonita. As pessoas gostam e isso é o que importa”, assegura. A procissão, com cerca de hora e meia de percurso, atrai todos os anos milhares de pessoas. “É o dia em que o Marco tem mais gente na rua. Está sempre tudo cheio”, descreve emocionada. E a emoção é cons tante: “Quando corre tudo bem, às vezes até choro. Digo: ‘Graças a Deus, correu tudo bem. Oxalá para o ano ainda cá esteja’”. O convite está feito: “Toda a gente devia vir. A procissão é muito bonita. São estas coisas que nos fazem felizes.” No coração de D. Augusta está o desejo de que esta tradição nunca se perca. “Preocupa-me muito o futuro disto. Quando penso nisso, até fico triste. Mas acredito que alguém há de aparecer, nem que seja por vergonha de deixar cair uma coisa tão bonita que já dura há tantos anos”, confessa. Enquanto isso não acontece, promete continuar enquanto a saúde permitir — com a mesma alegria, emoção e entrega de sempre.