A travessia mototurística, promovida pela Federação de Motociclismo de Portugal (FMP), contou com cerca de 1300 participantes e revelou-se um autêntico caleidoscópio de paisagens, tradições, sabores e histórias.
A primeira etapa da 27.ª edição do Portugal de Lés-a-Lés arrancou este fim de semana com um percurso de 426 km entre Penafiel e Alcobaça, atravessando cinco distritos, oito serras e mais de uma dezena de rios, num verdadeiro desafio ao físico, mas um alimento para a alma.
A travessia mototurística, promovida pela Federação de Motociclismo de Portugal (FMP), contou com cerca de 1300 participantes e revelou-se um autêntico caleidoscópio de paisagens, tradições, sabores e histórias.
O dia começou cedo, com a habitual partida madrugadora de Penafiel. Pouco depois, os motociclistas foram recebidos em Abragão pelo Grupo de Cantares da Casa do Povo e pelo Rancho Folclórico local. Ao som de vozes que mantêm vivas as tradições regionais, foi servido um café do pote, gesto que deu ânimo para o resto do percurso. Vera Lúcia, presidente do grupo, sublinhou o simbolismo do momento, referindo a importância de dar a conhecer os valores da terra.
Uma das novidades desta edição foi a descida até à Barragem do Carrapatelo, no Douro, nunca antes visitada em 27 edições do evento. A paisagem e as estradas sinuosas fizeram jus ao espírito do Lés-a-Lés e ficaram na memória de todos, inclusive de uma dupla vinda de longe: Ignazio Scimone, italiano, e Gabriela Lo Presti, argentina, desafiados pelo português Cláudio Moreira, a descobrirem o país sobre duas rodas. "A organização e a limpeza surpreenderam", referiram, refletindo o sentimento generalizado.
Pelo caminho, os participantes cruzaram locais emblemáticos como a Torre de Vilharigues, onde cavaleiros do Moto Clube do Porto encenaram passagens da história medieval portuguesa, ou a aldeia de Drave, hoje desabitada, mas envolta em mística. Outros destaques incluíram a Rota do Românico, os passadiços e a ponte 516 Arouca, e ainda o curioso Museu das Trilobites.
Na Serra da Freita, o Portal do Inferno e a Garra revelaram-se pontos altos do percurso. Foi ali que muitos ouviram a história lendária do "morto que matou o vivo", evocando tempos antigos e percursos entre aldeias de difícil acesso, como Covas do Monte e Pena. A visita incluiu também o Mosteiro de Arouca, com recriações históricas animadas por elementos do clube Sportac e dos Motagalos.
Entre as pausas, destaca-se a passagem por Cinfães, terra natal de Serpa Pinto, onde foram distribuídas frutas e sandes. Em Penacova, na Praia do Reconquinho, a parceria com o Góis Moto Clube garantiu conforto aos participantes. Ainda ali, os romanos marcaram presença através do Castellum de Alcabideque, antiga estrutura hidráulica que levava água até Conímbriga.
Com o dia a avançar, o calor e o cansaço obrigaram muitos a optar entre manter a rota oficial ou atalhar por vias rápidas, perdendo, no entanto, algumas experiências únicas, como a visita ao Moto Clube de Coimbra ou à travessia pedonal em Soure, dinamizada pelos Diabos de Samuel. Pelo caminho, surgiram ainda as praias de Vieira de Leiria e Pedrogão, onde muitos motociclistas aproveitaram para refrescar os pés no Atlântico.
Na Burinhosa, os participantes cruzaram-se com o Encontro Nacional de Bicicletas Antigas, iniciativa promovida por Rui Rodrigues, ele próprio participante do Lés-a-Lés numa pequena Honda Monkey. Já em Aljubarrota, figurantes trajados a rigor recriaram o ambiente medieval da batalha de 1385, homenageando a icónica padeira Brites de Almeida.
Entre os momentos mais inesperados desta primeira etapa esteve a passagem pela Cidade do Automóvel, na Benecar. Os motociclistas circularam entre mais de 1500 carros, exploraram o espaço e posaram junto a um Ford T, saboreando ainda um porco no espeto num ambiente descontraído e de confraternização.
O dia terminou de forma majestosa, com a chegada ao Mosteiro de Alcobaça. As motos estacionaram mesmo em frente ao monumento, e os participantes foram convidados a uma pequena caminhada pelo centro histórico até ao mercado da cidade. Quem precisava de cuidados físicos pôde contar com a equipa da Osteomotus, que prestou assistência osteopática a quem dela necessitava.
Depois de um dia exigente e repleto de experiências, os motociclistas pernoitaram em Alcobaça, recuperando forças para a segunda etapa, que promete um percurso mais tranquilo, com 275 quilómetros, atravessando Portugal “De Lado a Lado” até Portalegre.