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Sociedade
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Iberifier: Imigração e muçulmanos foram o principal alvo da desinformação em 2025

A imigração, especificamente associada às comunidades muçulmanas, foi o tema central das campanhas de desinformação em Portugal durante o ano de 2025. A conclusão é de Gustavo Cardoso, coordenador do projeto Iberifier, que alerta para a "tipificação do imigrante" como foco de narrativas falsas.

Redação

Em declarações, o professor do ISCTE explicou que o principal foco de desinformação ao longo do ano assentou na ideia de que os imigrantes partilham uma religião comum, o Islão. Segundo o sociólogo, embora existam várias narrativas, o ponto comum não visa comunidades como a brasileira ou a ucraniana, mas sim "os muçulmanos".

Gustavo Cardoso detalha que a desinformação construída em torno destes imigrantes mistura acusações de "violência, criminalidade e algum tipo de caos social" com alegações falsas sobre privilégios económicos. Entre os exemplos citados estão rumores infundados de que estes cidadãos são "privilegiados no acesso à saúde, à educação, que recebem benefícios sociais e mesmo habitação".

Adicionalmente, foram promovidas ideias de "substituição demográfica" e de "perda da identidade portuguesa", muitas vezes manipulando episódios reais, como situações ocorridas no Martim Moniz, para validar estas teorias.

Para além do foco na comunidade islâmica, o coordenador do Iberifier identificou quatro aspetos estruturais que definiram a desinformação em 2025:

  1. Politização e Ciclos Eleitorais: Houve uma continuidade na politização do tema, impulsionada pelas eleições. A título de exemplo, durante as legislativas, a imigração gerou 21 milhões de visualizações nas redes sociais — um valor cinco vezes superior ao tema da corrupção.

  2. Internacionalização: Verificou-se a importação de narrativas externas que são posteriormente reinterpretadas e adaptadas ao contexto português.

  3. Normalização da Inteligência Artificial: A IA generativa consolidou-se como ferramenta para fraudes e, essencialmente, para "ampliar o alcance e a credibilidade" das mensagens que se pretendem disseminar.

  4. Uso de Crises Reais: Eventos como incêndios ou o apagão foram sistematicamente usados como plataformas para criar "indignação emocional", servindo de veículo para gerir outros tipos de desinformação.

Gustavo Cardoso conclui alertando que a desinformação "está sempre presente no quotidiano", sublinhando que a probabilidade deste fenómeno aumenta proporcionalmente à ocorrência de atos eleitorais.