A Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM) tornou pública, este domingo, 22 de junho, uma posição crítica face a mudanças significativas introduzidas na prova final de Matemática do 9.º ano, aplicada na sexta-feira. A organização lamenta que a prova não seja de acesso público e contesta a opção pelo formato exclusivamente digital, sem um debate prévio envolvendo a comunidade educativa.
No parecer divulgado, a SPM sublinha que esta prova representa “um marco fundamental na avaliação da aprendizagem ao longo do ensino básico”, salientando que a maioria dos alunos não realizava uma prova nacional desde o 2.º ano de escolaridade, altura em que fizeram uma prova de aferição.
Segundo a SPM, três aspetos merecem particular atenção: a não publicação da prova, a sua aplicação digital e a ausência de discussão prévia sobre ambas as alterações. “A falta de transparência impede o escrutínio por parte de professores e especialistas, essencial para garantir a qualidade pedagógica”, alerta a sociedade científica.
A decisão do Governo de não divulgar a prova foi justificada com base em metodologias internacionais, como as avaliações PISA. Contudo, a SPM considera que esta abordagem “enfraquece a credibilidade do sistema de avaliação” e compromete a possibilidade de validação independente da qualidade da prova e dos critérios de classificação.
Relativamente à digitalização da prova, a SPM defende que esta pode comprometer a profundidade da avaliação. “A tendência para adaptar os itens a formatos mais simples, como respostas curtas ou de escolha múltipla, limita a capacidade de avaliar competências matemáticas essenciais, como a argumentação, o raciocínio e a sequência de procedimentos”, lê-se no comunicado.
A ausência de escrutínio externo agrava, segundo a mesma fonte, o risco de erros e enviesamentos na formulação das perguntas. “Estes problemas, não devidamente debatidos e estudados, podem reduzir o valor formativo e avaliativo das provas e levar à consequente diminuição dos desempenhos dos alunos”, acrescenta o parecer.
Durante a realização da prova, alguns agrupamentos escolares reportaram dificuldades técnicas. O Ministério da Educação, Ciência e Inovação assegurou, no entanto, que “nenhum aluno será prejudicado na sua avaliação” devido a estes incidentes.
A SPM defende, por fim, a necessidade urgente de um debate alargado e informado sobre as alterações nos exames nacionais, para garantir transparência, rigor e equidade no sistema de avaliação dos alunos portugueses.