“Usando a analogia da saúde, o Paços sentiu-se mal, foi andando com remédios caseiros e agora percebeu que tem de ir a um especialista resolver o problema”, afirmou o dirigente, de 38 anos e segundo presidente mais jovem da II Liga. Rui Abreu reconheceu que o futuro do futebol profissional em Paços de Ferreira depende da entrada de capital externo, alertando que “já se vai com anos de atraso” e que a alternativa seria “descer de escalão e reestruturar a partir daí”.
“Não creio que esteja em causa tão taxativamente a continuidade do futebol profissional, mas, como vimos até na época passada, é um sério risco”, declarou.
Com um passivo acumulado de 5,3 milhões de euros e um défice operacional que no último trimestre rondou os 500 mil euros, o presidente explicou que o clube agravou em cerca de dois milhões o seu défice anual, embora rejeite os 200 mil euros mensais que têm sido apontados. Garantiu ainda que os salários do atual plantel estão regularizados, faltando apenas liquidar “um mês aos jogadores que saíram”, o que deverá acontecer na próxima semana.
As dívidas a fornecedores persistem, mas Rui Abreu destacou o papel de muitos parceiros comerciais: “Temos de estar muito gratos aos fornecedores que nos têm ajudado”.
A direção lançou recentemente um apelo aos associados, por e-mail, solicitando apoio financeiro voluntário. “Se querem manter o clube na esfera associativa, pedimos ajuda. Não definimos valores, é facultativo, mas precisamos de um penso rápido que nos permita respirar enquanto procuramos soluções estruturais”, frisou.
O presidente reafirma a atratividade do Paços de Ferreira enquanto projeto, salientando que “é o único que não é SAD, tem boas instalações, massa adepta e localização privilegiada”. Nos últimos dias, disse ter recebido várias propostas, mas admite que muitas sejam apenas tentativas de intermediação.
“Estamos a filtrar as pessoas que realmente têm um projeto. Já temos uma proposta apresentada em assembleia, um contrato de promessa compra e venda pronto, falta a assinatura e a entrada da primeira tranche”, referiu, acrescentando: “Temos o contrato promessa de compra e venda (CPCV) redigido, o protocolo Clube/SAD totalmente delineado, o que está a faltar é, basicamente, o investidor assinar esse contrato e fazer o depósito da primeira tranche”.
Rui Abreu defendeu ainda que o modelo atual do futebol português dificulta a sobrevivência de clubes como o Paços sem investimento externo. “Não podemos reestruturar financeiramente e lutar pela subida ao mesmo tempo. Não é realista”, disse, exemplificando com uma tentativa de contratação falhada: “Queríamos um jogador que acabou num clube concorrente da II Liga por três vezes mais do que oferecíamos”.
Apesar das dificuldades, garante que não se arrepende de ter assumido a presidência, mas admite o desgaste: “São muitas noites sem dormir, muitas dores de cabeça e muita preocupação. É um sacrifício pessoal enorme”.
“A direção tem a obrigação de ir atrás de soluções. Mas chega a uma altura em que isto se torna insustentável”, concluiu.