"Os reclusos dependentes têm muita necessidade de ser ajudados pelos colegas reclusos", disse o presidente da Obra Vicentina de Auxílio aos Reclusos (OVAR), Manuel Almeida dos Santos, atribuindo a situação à falta de auxiliares de enfermagem e outros profissionais nas cadeias. "A falta de recursos humanos não se restringe só aos guardas prisionais. As carências nos estabelecimentos prisionais até são maiores nas outras áreas", acrescentou.
O secretário-geral da Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso (APAR), Vítor Ilharco, corroborou a denúncia, referindo casos de presos doentes ou idosos, acamados, cujas famílias pagam "quantias fixas" a outros reclusos para que auxiliem os seus familiares.
Manuel Almeida dos Santos destacou ainda reclusos que se deslocam em cadeiras de rodas e que dependem de outros presos para circular dentro das prisões.
No relatório de atividades de 2024 do Provedor de Justiça, divulgado em julho, é relatado que, numa visita ao Estabelecimento Prisional da Carregueira (Sintra), numa camarata para cinco pessoas, duas estavam em cadeiras de rodas, duas eram cegas e a quinta era um "recluso cuidador informal".
A DGRSP confirma a existência, sem quantificar, de reclusos dependentes apoiados por outros presos "sob supervisão dos serviços". A direção-geral acrescenta que não recolhe de forma sistemática dados que permitam quantificar estas situações, que estão em constante flutuação, e que não existem camas formalmente designadas para cuidados continuados, embora alguns internamentos no Hospital Prisional São João de Deus e nas enfermarias dos estabelecimentos do Porto e Paços de Ferreira tenham, na prática, essa natureza.
O gabinete do secretário de Estado Adjunto e da Justiça, Gonçalo da Cunha Pires, recorda que, em novembro de 2024, foi criado um grupo de trabalho para refletir e apresentar propostas sobre o papel do hospital prisional no "sistema de prestação de cuidados de saúde a cidadãos privados de liberdade". O processo de integração no SNS ainda não tem estado atual divulgado.
Segundo a DGRSP, à data de 24 de junho, as prisões portuguesas acolhiam 558 pessoas com mais de 65 anos, das quais 20 com mais de 80 anos.