O tabagismo é uma das principais causas evitáveis de morte no mundo, sendo responsável por mais de 8 milhões de mortes por ano. Desse total, cerca de 1,2 milhão de pessoas são vítimas do fumo passivo. O tabaco é um fator de risco para várias doenças crónicas, incluindo cancro, doenças cardíacas, doença vascular cerebral e doenças respiratórias.
Em Portugal, são diagnosticados cerca de 5400 novos casos de cancro do pulmão por ano, tornando-o o quarto cancro mais frequente no país. Este é o tumor com maior mortalidade, com cerca de 4700 óbitos por ano. O cancro do pulmão em Portugal representa 8,8% de todos os casos de cancro. Cerca de 70 a 75% dos casos são diagnosticados em estádios III ou IV, levando a que a maior parte dos tratamentos sejam apenas de intuito paliativo. É por estes motivos que é tão importante que não fume e se fumar esteja atento a sinais e sintomas de alerta para que o seu diagnóstico seja feito de forma atempada.
Os sintomas de cancro do pulmão são muitas vezes negligenciados dado que nos fumadores, muitos destes sintomas já existem previamente e são desvalorizados.
Tosse persistente, que pode ser seca ou com expetoração mucosa, tosse com expetoração com sangue, dor no peito, ombro ou costas, rouquidão, perda de apetite e perda de peso inexplicada, falta de ar e dificuldade em respirar, cansaço extremo, infeções respiratórias recorrentes. Se tem algum destes sintomas, não descure,
procure o seu médico.
Aqui estão algumas dicas importantes para a prevenção do cancro de pulmão:
1. Evitar o tabaco: o tabagismo é a principal causa de cancro de pulmão. Se fuma, considere procurar ajuda para deixar de fumar. Se não fuma, evite a exposição ao fumo passivo. Todos os tipos de tabaco são deletérios para a sua saúde, mesmo as novas formas como o tabaco aquecido e os dispositivos de vaping.
Estas novas formas de tabagismo contêm nicotina e outras substâncias que igualmente agridem as nossas vias respiratórias causando infeções respiratórias graves entre outras complicações que vamos começando a conhecer após anos de exposição a estas novas formas de fumar.
2. Proteger-se da poluição: tente evitar áreas com altos níveis de poluição e, se possível, use máscaras de proteção em ambientes poluídos. O verão é uma ótima altura para fazer atividades ao ar livre, em zonas como a praia e o
campo.
3. Manter uma alimentação saudável: uma dieta rica em frutas, vegetais, leguminosas e cereais integrais, ricos em fibras, vitaminas, minerais e antioxidantes, que podem proteger as células contra danos que levam ao cancro.
Devemos limitar o consumo de carne vermelha e processada (como salsichas e enchidos), o seu consumo excessivo tem sido associado a um maior risco de alguns tipos de cancro. Da mesma forma evitar alimentos ricos em açúcares e gorduras que podem contribuir para o ganho de peso e a obesidade, que são igualmente fatores de risco para vários tipos de cancro. Evitar o consumo excessivo de álcool que é de igual forma um fator de risco para vários tipos de cancro.
4. Exercício físico: a prática regular de exercício físico fortalece o sistema imunológico e ajuda a manter os pulmões saudáveis e nada melhor do que fazer atividades ao ar livre nesta altura do ano.
5. Consultar um médico regularmente: realizar check-ups regulares pode ajudar na deteção precoce de qualquer problema de saúde, incluindo o cancro de pulmão. As férias podem ser também uma altura em que tem um pouco mais de disponibilidade para pensar em si e na sua saúde. Consulte o seu médico.
Uma outra forma de atuar no cancro do pulmão é o rastreio. O rastreio do cancro do pulmão visa a deteção precoce da doença, antes do aparecimento de sintomas, aumentando as chances de sucesso do tratamento. É recomendado principalmente para pessoas com alto risco, como fumadores de longa data e que fumam mais de 20 maços de tabaco por ano, e ex-fumadores há menos de 15 anos, entre os 50 e os 75 anos. O rastreio é feito através de tomografia computorizada de baixa dose de radiação, que é um exame indolor e que não requer contraste ou jejum. O rastreio do cancro com tomografia computorizada de baixa dose, demonstrou, em vários estudos um aumento de diagnósticos em estádios precoces e redução de mortalidade por cancro do pulmão superior a 20%.
O rastreio do cancro do pulmão para além de diminuir a mortalidade, permite o diagnóstico numa fase mais precoce e permite melhorar a qualidade de vida dos doentes. Além disso, os tratamentos em fases iniciais do cancro do são significativamente menos dispendiosos do que os tratamentos em fases avançadas, estando assim associados, não só, a ganhos em saúde, como a ganhos económicos.
O rastreio de cancro do pulmão em Portugal ainda não é uma realidade, mas estão anunciados dois projetos piloto, que se espera que iniciem o mais breve possível.
Marta Soares
Oncologista, IPO Porto