No Dia Mundial da Conservação da Natureza, assinalado esta segunda-feira, 28 de julho, o biólogo lousadense Luís Cunha alerta para os riscos de ignorarmos os ecossistemas.
Luís Cunha, 31 anos, natural de Boim, Lousada, é biólogo de formação e está atualmente a meio do mestrado em Biologia Funcional e Biotecnologia de Plantas — “biólogo de plantas, grosso modo”, como descreve. Soma ainda uma pós-graduação em Floresta Urbana.
Neste momento, coordena, juntamente com um colega gestor de património natural, o Observatório Ambiental do Município de Paços de Ferreira, “um projeto que visa implementar educação ambiental, projetos de conservação da natureza e dinamização do património natural. Ou seja, mostrarmos às pessoas que aquilo que temos tem efetivamente valor e que deve ser protegido”.
No Dia Mundial da Conservação da Natureza, Luís sublinha a pertinência da data. “O tema da conservação é cada vez mais premente”, começa por dizer. A razão? “A população mundial tem vindo a aumentar, e com isso, procuramos mais recursos. Não só para alimentação e habitação, mas também para novas tecnologias e comodidades”.
Esse aumento da procura leva à exploração de recursos como o lítio e outros minérios, pressionando os ecossistemas. “Isto reflete-se em efeitos negativos: problemas de saúde pública, como o aparecimento de doenças, ou até de segurança civil, como enxurradas em zonas sem absorção natural”.
A ligação entre ecossistemas saudáveis e o bem-estar humano é direta. “A conservação é importante para a saúde física e psicológica. Toda a medicação que usamos vem da natureza. E se extinguirmos espécies cujas moléculas poderiam curar doenças — até as que ainda não existem — podemos estar a perder tratamentos sem sequer saber”.
Para Luís, não se trata apenas de gostar da natureza: “Fazemos conservação, não porque gostamos muito da árvore ou da espécie, mas porque gostamos da nossa espécie. Se essas espécies desaparecerem, a nossa qualidade de vida pode ser severamente afetada”.
Sobre a importância de assinalar dias como este, Luís é claro: “Estes dias servem para alertar. Tal como a ‘Hora do Planeta’, não resolvem tudo, mas chamam a atenção para a necessidade constante de promover a conservação”.
Mesmo trabalhando na área diariamente, reforça o papel simbólico da data: “É sempre importante ter um dia que assinale estas questões, para relembrar os mais distraídos. Porque cada vez é mais difícil restabelecer ecossistemas saudáveis — as espécies desaparecem e não voltam. A conservação é mesmo muito importante”.
O trabalho do Observatório Ambiental aposta fortemente na educação, especialmente junto dos mais jovens. “As crianças e pré-adolescentes vão ser o verdadeiro motor de mudança ambiental. Acreditamos que eles farão a diferença, por isso temos muitas atividades de educação ambiental nessa faixa”.
Com os adultos e jovens adultos, o enfoque muda. “Trabalhamos esta dimensão através do voluntariado, projetos concretos e atividades familiares. Queremos que as pessoas se envolvam e sintam que podem dar o seu contributo”.
Mas a conservação não deve depender apenas de instituições: “A conservação deve ser feita por todos — cidadãos individuais. É uma atividade de cidadania que deve ser fomentada”.
Há também uma dimensão legal no trabalho do Observatório: “Criamos regulamentos, como o das árvores monumentais de Paços de Ferreira, que protege espécies de interesse municipal. É uma das formas de conservar”.
Quando questionado sobre se sente que já está a cumprir a sua missão, Luís rejeita a ideia: “A minha parte nunca está feita. Infelizmente, há sempre muito por fazer”.
Recorda que as gerações mais velhas cresceram em ambientes mais naturais, com contacto direto com a terra, algo que hoje se perdeu. “Portugal mudou muito nos últimos 50 anos. A industrialização e a urbanização destruíram muitas áreas naturais. As novas gerações já não têm esse acesso à natureza”.
Mas é precisamente isso que lhe dá esperança: “As crianças espantam-se quando descobrem o que um sobreiro nos dá — cortiça, bolota... um adulto já sabe, por isso desvaloriza. As crianças valorizam mais, porque não têm esse contacto”.
“Vamos começar a tratar o meio natural como uma coisa preciosa e não como uma banalidade. As novas gerações vão mudar o paradigma. Nem que seja por necessidade — para nos protegermos a nós mesmos”, defende.