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Marco de Canaveses
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Domingo de Ramos e Páscoa: “Deixemos ódios e violências no túmulo e levantemos o Cristo”

Na preparação para a Páscoa, o padre André Morais abordou o significado profundo do Domingo de Ramos, um dos momentos centrais da Semana Santa, e refletiu sobre a tradição dos padrinhos e afilhados.

Redação

O Domingo de Ramos, celebrado oito dias antes da Páscoa, marca a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. “A liturgia é sempre um recordar, um recriar os atos passados para os tornar atuais”, explicou o padre. “Jesus entrou na cidade montado num burrinho, cumprindo a profecia e sendo aclamado pelo povo. Este gesto não era apenas simbólico, mas profundamente teológico. Ele estava a dizer: ‘Eu sou aquele que vocês esperavam’.”

A celebração do Domingo de Ramos nas igrejas atuais procura reviver esse momento. “Começa-se fora da Igreja, com a bênção dos ramos e a proclamação do Evangelho que narra a entrada de Jesus. Depois, seguimos em procissão, representando esse caminho até à nossa ‘Jerusalém’. Contudo, o mesmo povo que o recebeu com júbilo foi também aquele que, dias depois, gritou 'Crucifica-o!'. É por isso que, nesta celebração, também se escuta a narração da Paixão de Cristo, revelando que o seu reinado não era de glória humana, mas de entrega e sacrifício".

O papel dos Padrinhos e Afilhados

O padre também abordou a tradição dos padrinhos e afilhados, que, apesar de muitas vezes estar associada ao Natal, tem na Páscoa um significado ainda mais profundo. “Antigamente, os afilhados entregavam um ramo aos padrinhos no Domingo de Ramos, e os padrinhos retribuíam com um folar na Páscoa.”

Essa tradição simboliza um compromisso espiritual. “Os padrinhos não são apenas amigos da família ou tios que gostam muito da criança. Ser padrinho é assumir a responsabilidade de ajudar o afilhado a crescer na fé. A função do padrinho era acompanhar espiritualmente o novo cristão e até ajudá-lo materialmente, se necessário.”

O padre também destacou os momentos principais da Semana Santa: Quinta-feira Santa: A celebração da Última Ceia, onde Cristo instituiu a Eucaristia. Sexta-feira Santa: O dia da Paixão e Morte de Jesus, marcado pelo silêncio e pela celebração da Palavra, pois é o único dia do ano em que não há Missa. Sábado Santo: O dia de luto e espera, acompanhando simbolicamente Nossa Senhora e os discípulos. Domingo de Páscoa: A grande celebração da Ressurreição, onde se anuncia que “Cristo está vivo!”.

Por isso, a Páscoa continua a ser, para muitas famílias, a grande festa do ano. “No Norte, a Páscoa ainda tem um peso especial, com o Compasso Pascal a levar a notícia da Ressurreição de porta em porta”, referiu, por isso desejou que: “Vivamos esta Semana Santa com profundidade, deixando para trás ódios e divisões, e acolhendo a vida nova que Cristo nos oferece.”

E afinal, quem é que pode ser madrinha ou padrinho?

André Morais, embora seja padre e não pároco e, por isso, não lhe cabe a decisão de escolher quem é ‘digno’ ou não de assumir este papel, explica, em entrevista ao Jornal A VERDADE, a sua visão sobre o domínio.

Na visão do padre, ser madrinha ou padrinho serve para se ser “um testemunho de fé”, ou seja, ajudar as crianças a crescer na fé, esclarecendo que os padrinhos “não são obrigatórios, mas quando os pais optam por escolhê-los existem requisitos”.

Assim, os requisitos passam por ser “um cristão maduro, e isso implica que já terá os sacramentos da Iniciação Cristã, ou seja, batismo. Aliás não pode ser padrinho quem não é batizado, ou não tem a primeira comunhão e o crisma, mas também que seja uma pessoa que viva de acordo com a fé, de forma prática significa que vá ao Domingo e Dias Santos à missa, que reze, que habitualmente se confesse, que seja uma pessoa que viva a fé. Isto é o que está mandado pela lei da Igreja, porque ninguém pode ensinar uma coisa se não a viver, se a desconhece, precisamos de alguém que seja um testemunho para a criança”. No entanto, esta é uma decisão que cabe ao pároco e André Morais é defensor que “se alguém é praticante, mas não tem algum sacramento não deve ser impedimento. Por outro lado, se fez tudo à risca, mas não mete os pés na Igreja desde que casou, também considero que essa pessoa não deve assumir o papel de padrinho. Mas isto é a minha opinião pessoal”, reiterou.

Padre André Morais destaca o verdadeiro significado da Páscoa: “Cristo está vivo”

No contexto das celebrações pascais, o padre sublinha a importância do anúncio central da fé cristã: a ressurreição de Jesus Cristo. Segundo o sacerdote, a Páscoa é um momento de proclamação e renovação da esperança, enfatizando que “Cristo está vivo”.

Numa reflexão sobre a tradição do Compasso Pascal, o padre destaca que este gesto não deve ser encarado como mera formalidade ou costume social, mas sim como um ato de testemunho genuíno. “Nós celebramos a Missa de manhã e saímos. Elevamos uma cruz”, explicou.

Para o padre André, o Compasso Pascal deve manter-se fiel à sua essência: levar a mensagem de que a morte foi vencida e de que Deus está presente na vida de cada pessoa. “Se o pior que nos pode acontecer é morrer, e Ele já venceu isso, então temos medo de quê?”, questionou. Além da dimensão espiritual, a Páscoa carrega também um significado social e humano, recordando que todos, independentemente da sua condição, necessitam de amor e companhia. “Precisamos todos de saber que há quem nos ama, que há alguém que não nos deixa sós”, refletiu.

Por fim, destacou o valor do encontro e da comunhão que o Compasso proporciona. “Entramos em casas daqueles que conhecemos e, se calhar, até podemos entrar em casas de pessoas de quem não gostamos. E esta experiência faz-nos bem, porque nos deve fazer humildes”.

“Temos de dar importância ao que é importante”

Na sua mensagem final, decidiu fazer um apelo à união, à paz e à valorização do essencial na vida. Num mundo marcado por divisões, conflitos e um ritmo de vida acelerado, o padre alertou para a necessidade de parar e refletir sobre o que realmente importa. “Temos que parar. E temos de dar importância ao que é importante”, sublinhou, partilhando a sua experiência de acompanhar pessoas em momentos de dor e perda. “Faço funerais, e não só de gente com muita idade. Também faço funerais de gente com muito pouca. E como se acompanha pessoas doentes, às vezes com muito pouca idade, percebemos que estes tempos devem fazer-nos pensar no que é importante e em quem é importante.”

O sacerdote destacou ainda a futilidade de muitas das preocupações que afastam as pessoas umas das outras. “Às vezes andamos tão chateados uns com os outros por causa de dois tostões, por causa de uma bandolete... e é importante darmos importância ao que é importante”, reforçou.

A Páscoa, segundo o padre André, convida a uma renovação não só espiritual, mas também emocional e social. “A Páscoa convida-nos a enterrarmos ódios, enterrarmos invejas, enterrarmos vinganças”, afirmou, sublinhando a necessidade de deixar para trás ressentimentos e divisões. “É preferível passar esta vida com o título de parvo e ir para o céu, do que passar esta vida com o título de esperto e passar a eternidade no inferno.”

Quinta-Feira, 17 de abril

18h00 - Missa da Ceia do Senhor

Sexta-feira, 18 de abril

18h00 - Celebração da Paixão

Sábado, 19 de abril

21h30 - Vigília Pascal