No Instagram, Carolina Capria explicou que o grupo permitia que membros trocassem fotos íntimas das suas próprias mulheres, muitas vezes sem o conhecimento destas, para comentar a sua aparência e dar voz a fantasias sexuais. “Mulheres que muitas vezes não sabem que estão a ser fotografadas para serem vítimas de um estupro virtual”, escreveu a activista.
A Meta anunciou o encerramento do grupo na quarta-feira, justificando que “não são permitidos conteúdos que promovam violência, abusos ou exploração sexual”. A empresa acrescentou que, caso tenha conhecimento de conteúdos que incitem à violação, pode “desativar os grupos e as contas que os publicam, e partilhar os seus dados com as autoridades policiais”, segundo informação à agência EFE.
Grupos deste género têm-se multiplicado por todo o mundo, incluindo Portugal. Em julho, tornou-se público um grupo chinês no Telegram onde eram divulgadas imagens de mulheres fotografadas ou filmadas secretamente em locais diversos, incluindo casas de banho públicas. Em Portugal, em 2024, um grupo português no Telegram contava com 70 mil homens que partilhavam fotos de mulheres de forma não consentida.
O canal estava organizado em tópicos como “As nudes que elas mandam”, “Gordinhas”, “Mãe e filha”, “Feia, mas até comia…”, “Tugas desconhecidas”, “Trans” e “Grávidas”, mas também por localidades ou com os próprios nomes das vítimas, funcionando como um arquivo onde eram acrescentadas informações ou imagens. O tópico “Esposas” era um dos mais populares, reunindo milhares de imagens das próprias mulheres, desde fotografias e vídeos sexualmente explícitos a imagens de mulheres a tomar banho, a limpar a casa, a cozinhar, a pentear o cabelo em roupa interior ou a realizar qualquer outra atividade do dia-a-dia, avança o Jornal Público.
Para aceder ao grupo era necessário efetuar um pagamento de 20 euros, mas existem dezenas, se não centenas, de grupos de acesso livre onde o objetivo é humilhar e objetificar mulheres, seja no Telegram, no WhatsApp ou no Facebook, diz a mesma fonte.
Em Portugal, em 2023, foi reforçada a proteção das vítimas da disseminação não consensual de conteúdos íntimos. As penas previstas para o crime de devassa privada passaram a permitir prisão até cinco anos para quem “disseminar ou contribuir para a disseminação” não consentida de “imagens, fotografias ou gravações que devassem a vida privada das pessoas, designadamente a intimidade da vida familiar ou sexual”.
Ainda que a imagem tenha sido obtida de forma legítima — enviada pela vítima ou captada com o seu consentimento —, a partilha não consensual é sempre crime.
As vítimas podem apresentar denúncias junto das autoridades ou da Linha Internet Segura. A associação Não Partilhes presta apoio psicológico a quem seja alvo deste tipo de crime.